Detentas têm um dia para cuidar da beleza

Pela primeira vez a atividade é permitida na casa prisional. A partir de agora outros projetos serão desenvolvidos

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Leonardo Andreoli/ON

As apenadas do Presídio Regional de Passo Fundo tiveram na manhã de ontem um dia especial para cuidar da beleza. A atividade integra a Semana Municipal da Mulher que encerra no próximo sábado (12). Pela primeira vez as portas da penitenciária foram abertas para a execução do projeto. As cerca de 60 mulheres dividem três alojamentos. Embora tenham tempo ocioso, o controle com a entrada de produtos químicos na casa prisional não permite que elas tenham os cuidados que gostariam com a aparência. Enquanto estão reclusas, poucos projetos de ressocialização ou profissionalização são executados na casa prisional.

A responsável pela Coordenadoria da Mulher de Passo Fundo, Joselina Garzão dos Santos, o projeto de trabalhar com as apenadas não é novo, no entanto nunca receberam autorização para entrara na casa prisional. “É a primeira vez que as portas são abertas para esse tipo de trabalho. A ideia é conhecermos as mulheres, fazer um primeiro momento com elas e posteriormente construir junto com a direção do presídio e o governo do estado, um projeto para que possamos trabalhar aqui dentro”, esclarece. O Dia da Beleza que aconteceu na manhã de ontem se repete nesta manhã com as apenadas. Limpeza de pele, maquiagem, manicure, corte de cabelo, sobrancelhas, atendimento psicológico, distribuição de preservativos e informações sobre Aids integraram a programação.

Novo projeto
Formação profissional e atividades para devolver a autoestima das presidiárias estão entre as propostas deste novo projeto. “Sempre quisemos essa oportunidade de trabalhar com essas mulheres que estão privadas de liberdade. Até para prepará-las para enfrentar a sociedade lá fora. O projeto está iniciando e vai transcorrer o ano todo”, complementa. Para Joselina o projeto tem de ser escrito a muitas mãos. Estes dois dias serviram como um diagnóstico para identificar as necessidades e expectativas das detentas para posteriormente elaborar uma programação.

Presídio
O atual diretor da penitenciária, Carlos Jovencio Dornelles de Oliveira, assumiu a casa há 30 dias. Segundo ele nenhum projeto parecido com este foi herdado. “Esse é o primeiro passo. Queremos que a população participe e veja como funciona a casa prisional que não adianta extirpar o presídio da nossa sociedade. Ele faz parte. Não criamos preso em laboratório, ele veio da rua e temos que tentar prepará-lo para voltar e não recair na delinquência”, enfatiza. Para ele o objetivo principal deve ser o resgate da cidadania dos apenados. “É retomar a autoestima para que ela volte para a rua, conviva com a família e tenha uma vida normal”, afirma.

Apenadas
Uma das detentas de 37 anos está no presídio há 10 meses. Nesse período ela nunca viu uma atividade do tipo. “É ótimo. Deveria ter uma vez por mês já que não deixam entrar nada. Isso ajuda até na disciplina. Seria bom se dessem a oportunidade de nós aprendermos a fazer isso para que quando saíssemos daqui já seria um incentivo. Ajudaria na renda para a família e para não voltarmos a cometer os mesmos erros. Ficamos fechadas sem fazer nada, poderíamos aprender uma profissão. Cabeleireiro, manicure são profissões que sempre precisam”, considera. A pena dela ainda não está definida, no entanto ela acredita que mesmo indo embora o projeto deve se manter para quem fica.
Outra apenada de 34 anos considera a atividade especial. “É um trabalho muito bom. Nunca participei de uma atividade assim aqui. Até temos batom, lápis, mas não podemos cortar o cabelo”, diz. Ela está na casa prisional há três meses, no entanto entre idas e vindas ela já tem quase 15 anos de reclusão.

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