Desastres climáticos como acontecido em São Lourenço do Sul podem ser previstos. No entanto, a falta de precisão sobre o local onde acontecerão e a inexistência de uma cultura na população para se preparar para esses eventos não possibilitam que os danos sejam amenizados
Leonardo Andreoli/ON
O Brasil é o segundo país do hemisfério sul com o melhor monitoramento meteorológico e perde apenas para a Austrália. A estrutura nacional permite que eventos climáticos excepcionais como a enxurrada que atingiu o município de São Lourenço do Sul nesta semana sejam previstos com antecedência suficiente para a realização de ações a fim de se minimizar os danos. A falta de uma cultura de convivência faz com que muitos alertas meteorológicos, como os emitidos para aquela cidade, sejam ignorados.
A agrometeorologista da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha, explica como funcionam os sistemas de monitoramento e alerta desse tipo de fenômeno climático. “A diferença em relação aos EUA e alguns países da Europa está na escala espacial das previsões. O nosso serviço meteorológico ainda não tem uma rede de observação equipada, por exemplo, com radares meteorológicos que permitam uma localização mais precisa tanto em momento de ocorrência, quanto intensidade e local”, pontua. Os radares mais próximos estão instalados em Pelotas, Paraná e São Paulo.
Áreas de risco
Outro ponto a ser considerado para a análise de um desastre natural é a vulnerabilidade das áreas ocupadas. Cunha enfatiza que a ocupação humana de áreas mais sensíveis ao dano atinge principalmente pessoas de menor poder aquisitivo. “Só a previsão tem pouca utilidade quando não se tem um serviço de defesa civil organizado que possa utilizar essas previsões. Não se tem uma cultura arraigada na população em relação aos alertas sobre desastres naturais. Previsão e defesa civil são duas coisas que devem ser conjugadas e precisamos criar uma cultura de convivência com essas situações”, argumenta.
No Estado
O Rio Grande do Sul possui uma defasagem em relação a outros estados como São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná. No âmbito federal, a UFPEL e a UFSM possuem cursos de Meteorologia. Além disso, o Inpe possui uma sede em porto Alegre. “O RS tem a necessidade de investimentos pesados no serviço meteorológico. Há muitos anos não se tem investimentos nessa área. A parte federal é melhor equipada, em estrutura e pessoas”, observa Cunha. O Estado conta com um serviço de meteorologia junto ao Centro Estadual de Pesquisa Agropecuária que necessita de investimentos em estrutura física, em quadro de pessoas e equipamentos. Apesar de um desastre natural não poder ser evitado, a criação de uma estrutura específica pode diminuir os danos causados. Complementar a isso, um processo educacional para a convivência da população com esse tipo de alertas meteorológicos é fundamental.
Brasil
O Brasil possui um sistema de monitoramento meteorológico de última geração para a elaboração de alertas meteorológicos. Porém ainda enfrenta dificuldade com a precisão na localização da ocorrência do evento climático, horário e intensidade. “A rede de observação de superfície é deficiente e não temos uma cobertura de todo território com radares meteorológicos que seriam utilizados para a precisão”, destaca. Existem diversas instituições de ciência e tecnologia que estudam o clima no país. Para se ter mais precisão das previsões é necessária a ampliação de estações meteorológicas de superfície.
Eventos excepcionais
Os chamados eventos excepcionais como o que atingiu São Lourenço do Sul (foto) são raros, embora recorrentes na história de um lugar. Eles podem ser previstos com antecedência de até cinco dias. No entanto, quanto mais estendida é a previsão, menor é a confiabilidade. “A atmosfera tem um comportamento que não é linear. Ela é dominada por um comportamento que se enquadra da chamada teoria do caos. Qualquer variação numa determinada condição pode implicar num grande impacto no tempo futuro”, explica Cunha.