Memória preservada

Brizoleta foi reinaugurada ontem em cerimônia com presença de autoridades municipais e do ministro Carlos Lupi

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Gerson Lopes/Especial ON

Um dos capítulos mais importantes na história da educação do Rio Grande do Sul será preservado para as futuras gerações. A Brizoleta, construída durante o governo de Leonel Brizola (1962 e 1963), na localidade de Nossa Senhora da Paz, interior de Passo Fundo, com o objetivo de reduzir os índices de analfabetismo e evasão escolar, foi totalmente restaurada e entregue aos passo-fundenses ontem à tarde. A cerimônia contou com a presença do prefeito Airton Dipp, do presidente nacional do PDT e ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, além de diversas liderança políticas e representantes da família Brizola.
Para recuperar a escola Padre Antônio Vieira, tombada como patrimônio histórico do município, em 1989, através lei, nº 2535/89, a prefeitura investiu R$ 70 mil. O projeto de restauro ficou por conta dos arquitetos especializados em prédios históricos, Ana Paula Wickert e Marcos Frandoloso. A obra, que levou cinco meses para ser concluída, contou com um piso totalmente novo, reparos na estrutura do telhado e paredes, instalação de uma rampa metálica para melhorar a acessibilidade, entre outros detalhes. “Mantivemos todas as características arquitetônicas do prédio, que segue uma linguagem funcional, um projeto padrão das Brizoletas” explica Ana Paula.

O ministro Carlos Lupi definiu a iniciativa como um resgate da história do Rio Grande do Sul, em razão da importância que as escolas tiveram na formação educacional de milhares de gaúchos. “Esse projeto nos enche de orgulho. O Brizola ficaria muito feliz em saber que esse prédio agora servirá para o trabalhador aprender uma profissão e entrar no mercado de trabalho. Ele pensava muito na educação da criança, em todos os níveis, tempo integral, no direito e na qualidade da merenda” comenta.
Desde a semana passada a comunidade de Nossa Senhora da Paz já está utilizando a Brizoleta para receber os cursos profissionalizantes da Universidade Popular, um projeto da Secretaria Municipal de Educação. “Também faremos nossas reuniões e teremos aulas de catequese aqui” comemora a líder comunitária Ione Susin.

O prefeito Airton Dipp, que também era o chefe do Executivo durante o processo de tombamento do prédio, no final da década de 1980, destacou a luta de Leonel Brizola pela educação e a importância das Brizoletas para o Rio Grande do Sul. “Estamos diante de um símbolo da educação gaúcha” declarou. Dipp também destacou a ligação histórica do prédio com os moradores daquela comunidade. “Com os cursos profissionalizantes, o espaço vai representar uma nova fase na vida deles”.
Representando a família, o sobrinho-neto de Leonel Brizola, Rafael Brizola Marques, disse que o legado do ex-governador do Estado está mais vivo do que nunca. “A educação não só foi a bandeira, mas o ingrediente fundamental para a carreira política de Leonel Brizola”, afirma.

Projeto emociona ex-alunos
Maria Salete Balla da Silva, 54 anos, precisou conter a emoção durante a cerimônia de entrega da Brizoleta. Assim como o irmão Antônio Carlos Balla, 54, ela foi aluna na escola durante a infância. Ao entrar pela primeira vez no prédio restaurado, lembrou das histórias vividas em sala de aula. “Era uma alegria estar aqui. Caminhávamos quase dois quilômetros todos os dias para poder aprender”. Assim como ela, outros ex-alunos compareceram na cerimônia. A professora aposentada, Rita Iolanda Zanotto, trabalhou durante quatro anos no prédio. Na mesma sala, reunia alunos da 1ª a 4ª série. Nos intervalos, auxiliava na merenda e na limpeza da escola. “Alfabetizei muitas crianças nessa sala, inclusive minhas duas filha, hoje formada” declara. A Brizoleta funcionou em Passo Fundo de 1963 até 1991.

Doutora em educação e professora da cadeira de história da educação, na UPF, Rosimar Serena Siqueira Esquinfami, reconhece a importância que o projeto das Brizoletas teve para a democratização da educação no Rio Grande do Sul. Segundo ela, as escolas estavam localizadas nas áreas urbanizadas, dificultando o acesso para moradores das periferias e áreas rurais. “Com o projeto de Brizola o acesso é facilitado e acaba atingindo camadas mais populares da sociedade. Esse patrimônio deve ser preservado. A memória precisa ser alimentada” afirma.

Entrevista de Brizola
Durante a cerimônia, foi mencionado o trecho de uma entrevista de Leonel Brizola ao jornal O Nacional no ano de 1959 referente ao seu projeto de educação para o Estado. Confira abaixo.

“Foi o meu plano de educação, de erradicação do analfabetismo e de criação de escolas em todo o estado, uma das principais razões de minha vida eleitoral. Mobilizei o professorado, os pais e a mulher rio-grandense e, de um modo geral, as classes humildes para participarem dessa cruzada redentora”

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