Daniella Faria/ON
Os alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Jardim América, localizada no bairro de mesmo nome, estão recebendo nessa semana instruções do Corpo de Bombeiros. O projeto em questão é o Super Liga da Prevenção, desenvolvido pelo soldado Rudinei Gedean da Silva há quase cinco anos. Ontem até mesmo uma evacuação de emergência foi simulada no local. O soldado conta que fica em média uma semana em cada escola. No ano passado foram 30 mil alunos atendidos. Esse ano, a meta é 40 mil. Ao todo, em Passo Fundo, 18 instituições de ensino devem ser atendidas nesse ano.
Conversas
O primeiro contato com os alunos é feito através de conversas com as turmas. Nelas são relatadas as depredações no local, como retirar o lacre ou o pino de segurança dos extintores de incêndio. Muitas vezes até mesmo as mangueiras são cortadas. Brincadeiras também são relatadas, aonde ao invés de divertir, podem acabar ocasionando um acidente. “Eles vêem o Didi na televisão brincando com o extintor, mas isso é errado. Em São Paulo uma menina foi brincar com o pai e deu um jato na perna dele. Como ele estava com uma calça de abrigo, acabou queimando e grudando na perna, porque era gás carbônico que tinha dentro”, conta.
Ele alerta também para o problema do trote. Muitas vezes os bombeiros podem estar indo atender um trote enquanto o parente de algum dos alunos pode estar realmente precisando de atendimento. Rudinei busca trazer para o dia a dia das crianças o que pode acontecer caso eles não saibam usar direito os recursos que têm à disposição. “Hoje nosso telefone é informatizado. O número é identificado e a ligação fica gravada. Para mostrar isso peço sempre o telefone de um aluno, ligo para a central e peço de qual telefone é a ligação. Depois escrevo no quadro o número para mostrar que ele realmente é identificado”, ressalta. Com isso é criada uma confiança. Através dela, os próprios alunos contam o que há de errado no bairro, como onde há gás clandestino, ou onde há pessoas derretendo fios para vender o cobre. “Se eles se comportam e fazem tudo que ensinamos, ganham uma recompensa. No próximo ano, são convidados para conhecer o quartel dar uma volta no caminhão de bombeiros”, diz.
Histórias
Como Rudinei lida com todas as faixas etárias, a linguagem usada para que cada aluno entenda é diferente. Com os pequenos são distribuídos caminhõezinhos de papelão, onde os pais ajudam a montar, para dar um incentivo. No ano passado foram 19 mil distribuídos. As histórias contadas também ajudam as crianças menores levarem para casa lições que devem ser cumpridas por elas e pelos pais. “Conto uma história sobre a vovó para que elas aprendam que não devem mexer na válvula do gás ou no fogo. Digo que a vovó é como a válvula. Que quando ela está desligada é porque a vovó está deitada, como a posição do equipamento. E quem pode ajudar a vovó a levantar é somente o papai e a mamãe, que tem força para isso. E mais, que quando ela estiver com sede e só eles estiverem por perto, só pode servir água. Isso evita que eles tentem mexer no fogão”, diz.
Problemas na comunidade
Outro passo trabalhado pelo projeto é o do problema da comunidade onde ele está sendo desenvolvido. No caso do Jardim América é a falta de passeio público e terrenos baldios mal cuidados. O bombeiro explica que a falta de passeio na frente da casa é responsabilidade do morador, que faz com que os alunos tenham que andar na rua, podendo provocar um acidente com algum carro que não veja o pedestre. Já os terrenos, são do proprietário e do poder municipal que deve fiscalizar.
Simulação
Outra questão trabalhada é a saída de emergência dos alunos caso haja um imprevisto como incêndio, destelhamento ou vazamento de gás. Primeiro o bombeiro passa nas salas dando as instruções. Depois ela é realizada de maneira simples, através de um apito, uma vez que nem todas as escolas possuem sinal. O barulho ecoa e as crianças descem enfileiradas, ordenadamente para um espaço ao ar livre.
Futuros bombeiros
Com a presença do bombeiro na escola os alunos se sentem incentivados a seguir a mesma carreira no futuro. Jardel Barbosa, de 16 anos, diz que nunca tinha pensado em seguir a profissão, mas agora já está entre as suas opções. O que aprendeu já colocou em casa no mesmo dia. “Principalmente sobre os botijões de gás. A mãe costumava a deixar ele deitado para aproveitar mais, mas vi que não podia. Já falei para ela como que deve ser feito”, ressalta.
Já Gustavo Martins, de 11 anos, estava em dúvida entre ser bombeiro ou policial. Agora já decidiu. “Quero ser bombeiro com o Rudinei para poder salvar a vida das pessoas em risco”, fala. Ele conta ainda que no dia anterior já fez uma inspeção pela casa e pela do avô. “Aprendi que as válvulas e mangueiras do botijão têm validade. A de casa era de 1992 e a do vô de 1980. Já falei para trocarem”, conclui.
Direção
A diretora Eloísa Zanette Veiga diz que as questões ensinadas foram de grande valia. Além da escola os alunos levam as questões para dentro de casa. Eles aprendem também a respeitar o espaço público. “Apesar de ser um prédio novo, de apenas três anos, os riscos existem e fatalidades acontecem. Isso vai nos auxiliar muito quando precisarmos agir numa situação de emergência e vamos fazer o treinamento com frequência”, relata.