A língua da rede

Professores enfrentam dificuldades com a linguagem usada pelos alunos. O internetês tem se tornado comum nas redações de português

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Daniella Faria/ON

Uma linguagem específica foi criada para conversar na rede. Nos bate-papos ela é frequentemente usada para otimizar o tempo. Já em algumas redes sociais, por exemplo, onde só há 140 caracteres, as abreviações são comuns para conseguir dizer tudo em pouco espaço. Mas quanto isso influencia na educação, principalmente das crianças que estão aprendendo a escrever? Erros de português por causa da internet têm sido cada vez mais comuns nas redações. Outro problema citado é o cerceamento da criatividade.

A professora da quarta série do Colégio Notre Dame, Elis Aparecida de Quadros, diz que tem notado que a euforia das redes sociais tem caído um pouco. “Hoje eles já não pedem tanto se o professor ou o colega está cadastrado em determinado site. Há alguns anos isso era mais visível”, destaca. Para ela, além dos erros de português, o pior problema está na depreciação da criatividade. Como as leituras são feitas superficialmente e os alunos recebem diversas informações de lugares diferentes, não há mais tanta concentração como antigamente. “Eles não se aprofundam em nada. Não tem mais aquela criatividade. Não são mais tão detalhistas. São objetivos demais”, ressalta.

Origem
A professora da Escola de Sistemas de Informação da Imed, Márcia Rodrigues, diz que o chamado internetês, netspeak ou fala da rede surgiu junto com a internet. As novas expressões fazem parte da vida dos internautas. Elas foram abreviadas até o ponto de se transformarem em uma única expressão, com duas ou no máximo três letras (não = n, sim=s, de=d, que=q, também=tb, cadê=kd, tc=teclar, porque=pq, aqui=aki, acho=axo, qualquer=qq, mais ou mas=+). Além desses termos, houve também um desmoronamento da pontuação e da acentuação (é=eh, não=naum), enviando à fonética das palavras e não mais à etimologia.

A informalidade é a principal característica da linguagem da rede, isso tudo iniciou com os nerds da internet há mais de trinta anos. Eles viam a rede como uma revolução, ou uma alternativa para as comunicações mais formais. São conhecidos também como pioneiros da internet, pois não pontuavam e não se preocupavam com as questões ortográficas, criando diferentes formas de grafar as palavras. “Quando a internet se espalhou nos anos 1980 e 1990 a informalidade se popularizou, trazendo consigo diferentes formas de comunicação através de e-mails”, salienta.

Influências
Segundo a professora Márcia é possível perceber a nova linguagem a influência na escrita dos adolescentes internautas em sala de aula e essa é a grande preocupação dos pais e educadores.

A necessidade de interagir com os indivíduos utilizando o computador fez com que, rapidamente, o internetês se difundisse entre os indivíduos com acesso à internet. O maior problema é saber quando é, e quando não é adequado se apropriar dessa linguagem, como é o caso da escola. “A sedução da linguagem da internet está presente todos os dias em nossas vidas, proporcionando as pessoas uma enxurrada de informações, que mesmo sem um tratamento pedagógico, transforma-se em um tipo de formação. Quando oferecemos as possibilidades nas mãos dos alunos e os desafiamos, resgatamos os objetos de estudos e oferecemos diferentes recursos para interpretá-lo e/ou analisá-lo, permitindo a compreensão da linguagem da internet inclusive no ambiente escolar”, fala Márcia.

Ela destaca ainda que não há como resistir, pois a internet está muito difundida nas escolas pública, particulares e inclusive em suas residências. O papel mais importante do educador é preparar e orientar o educando para explorar todas essas possibilidades de forma equilibrada, criando metodologias pedagógicas que utilizem todas as habilidades dessa nova geração para enriquecer as salas de aulas e criar um espaço de socialização onde estão presentes a criatividade e a colaboração. “É preciso tomar muito cuidado, porque entre as crianças e adolescente a linguagem pode causar confusão na hora de redigir um texto, pois já comum é a utilização de termos como “tuittar”, “orkurtar”, “blogar” entre outros”, diz.

Prática
Para Márcia, para poder otimizar a situação é necessário que o professor mude sua postura. “Ele deve sair da frente dos alunos para atuar como orientador e utilizar as ferramentas tecnológicas disponíveis e exploradas pelas crianças e adolescentes”, explica. A abordagem de educação constitui um grande desafio de sobreposição às práticas tradicionais de ensino. A “geração rede”, que são os nascidos a partir da década de 1980, apresenta características específicas de um indivíduo que nasceu com o mouse e o controle remoto nas mãos, ou seja, cresceu e se desenvolveu em uma era digital e não analógica. Portanto, esses sujeitos desenvolveram habilidades que os diferenciam de outras gerações, realizando diversas tarefas e comunicando-se com várias pessoas ao mesmo tempo. “Eles estão escutando a várias estações de rádio, músicas MP3, assistindo a vários canais de TV, jogando com pessoas do mundo inteiro, dividindo sua atenção em diferentes sinais de entrada, variando o seu nível de atenção de acordo com o seu interesse”, cita. De acordo com a professora, os analfabetos deste milênio não serão aqueles que não sabem ler ou escrever, mas aqueles que se recusam a aprender, reaprender e voltar a aprender.

Dilema da informática: um relato de um aluno da nova geração.
“Profa., ontem eu instalei no 'Hardware' do meu Computador um 'CD-Rom' sobre História Antiga, que é o máximo!
Depois, me conectei à internet e enviei um 'e-mail' para o meu amigo da China, que tem um 'Software' bastante parecido com o meu! Então ele me forneceu o endereço de um 'site' da 'Web' que eu posso entrar quando quiser, para saber muito mais, não só sobre História Antiga, mas sobre a História do Mundo! A Senhora conhece?”
Será que é uma saia justa?, pergunta a professora de Sistemas de Informação, Márcia Rodrigues.

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