Leonardo Andreoli/ON
O caso de João
João tem cinco anos. Como qualquer criança com esta idade ele frequenta a escola, gosta de caminhar, correr, pular, nadar e brincar na água. Como todos os colegas de classe, João tem suas peculiaridades. Às vezes o menino tem dificuldade para fazer o que as pessoas lhe pedem ou tem reações diferente em relação a algum estímulo ou outro. O motivo foi descoberto quando ele tinha menos de três anos. Um transtorno ainda desconhecido por muitos: o autismo.O dia 2 de abril é definido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Dados divulgados pela campanha mostram que o autismo atinge quase dois milhões de brasileiros e, no mundo, a ONU estima que existam mais de 70 milhões de pessoas com a desordem.A campanha conta com iniciativas em diversas partes do país para diminuir o preconceito em relação aos portadores deste transtorno. Em Passo Fundo não é diferente. Os pais de crianças autistas tentam desmistificar o problema e mostrar que a descoberta do transtorno marca o início de uma caminhada de aprendizado e aceitação.
O pai de João de Alcântara Barcellos – apresentado no início deste texto -, o professor universitário Leonardo Gil Barcellos, conta que o menino teve desenvolvimento típico até os dois anos de idade. A primeira pessoa a perceber a mudança de comportamento foi a avó paterna que sempre trabalhou na educação de crianças. “Ela percebeu que ele estava retraído, falando e olhando menos - que é uma característica muito comum do autismo”, conta. A partir daí começou uma peregrinação em busca de profissionais e com a realização de vários exames. “No primeiro momento dá um baque. Tu procuras uma opinião torcendo para que a pessoa te diga outra coisa”, admite.Barcellos enfatiza que passado esse momento o importante é aceitar a condição e nunca confundir aceitação com falta de ação. “Existe muita coisa pra fazer. Aquela ideia de que é uma sentença de morte está totalmente desmistificada”, alerta. João faz equoterapia, natação, tem atividades com uma psicopedagoga e uma fonoaudióloga. “Tem todo um suporte para tentar desenvolver essas áreas que ficaram pra trás e bloquear regressos maiores”, pontua. Ele explica que a atitude dos pais é fundamental para garantir a maior evolução possível das crianças.
Na escola
No ano de 2008, João entrou na escola. O pai dele conta que a integração com as demais crianças não foi problema. “Pra eles é normal, perguntam sem nenhum pudor e interagem da maneira possível. Teve uma menina que falou: o João faz coisas que eu não faço e eu faço coisas que ele não faz, mas a gente se dá muito bem”, lembra. A família – formada ainda pela mãe Heloísa Helena e pela irmã mais nova Ana Laura - organizou um folder explicativo sobre o autismo e encartou ele nas agendas distribuídas aos alunos. A intenção é esclarecer pais e estudantes sobre o que é esse transtorno e o que podem fazer para se aproximar de pessoas portadoras dele. “O João não é um caso grave, ele é bem ativo, se relaciona, é muito afetivo, tem dificuldade de comunicação por fala e interesses restritos”, diz Barcellos.
O que é o autismo?
Autismo é um transtorno do desenvolvimento no qual uma criança tem dificuldade nas relações sociais, na comunicação e apresenta comportamento repetitivo em algumas situações da vida diária.A psicopedagoga Lucia de Bortoli possui ampla experiência no atendimento de crianças autistas. Ela acrescenta que o autismo compreende um conjunto de comportamentos agrupados em uma tríade principal: comprometimento na comunicação, dificuldade na interação social, atividades e interesses restritos e repetitivos. As causas ainda não são totalmente compreendidas, mas provavelmente estão ligadas a fatores genéticos e a disfunções bioquímicas no cérebro.
Tratamento
A psicopedagoga é enfática ao dizer que o tratamento existe e deve ser iniciado o mais cedo possível, no entanto não existe cura. Além disso, a multidisciplinaridade é fundamental para o sucesso do tratamento. “Existem vários perfis, tudo dependerá da condição interna desta criança e do tratamento que receber. O que quero que fique claro é que existem vários meninos e meninas com um ótimo potencial a ser desenvolvido”, pontua.
Projetos
A UPF possui uma série de projetos que atendem crianças autistas. Entre eles a Equoterapia que auxilia os autistas com relação ao comportamento, na socialização, e mesmo na coordenação motora. A Faculdade de Educação Física e Fisioterapia tem atividades físicas dirigidas que são fundamentais no contexto de desenvolvimento global do autista e de integração social por meio do esporte. Está em andamento também um projeto de pesquisa do curso de Ciência da Computação que pretende desenvolver um sistema de comunicação alternativa para letramento de pessoas com autismo. A Faculdade de Educação (FAED) mantém um grupo de estudos que busca orientar os educadores sobre o processo de aprender, sobre o que aprende e como a pessoa aprende, sobre as dimensões do conhecimento, o contexto social, econômico e cultural em que o aprendente e ensinante estão inseridos.