Leonardo Andreoli/ON
As chuvas cada vez mais irregulares e o consumo crescente tornam indispensável a utilização de medidas para manter a água nas bacias hidrográficas por um período maior de tempo. A construção de barragens nem sempre é a medida mais eficaz. Além de causar danos ambientais e transtornos com pessoas que moram nas áreas a serem alagadas, uma parte é perdida com a evaporação e essa água não garante a manutenção do fluxo de escoamento das bacias. A permanência da água em bacias hidrográficas foi um dos principais temas discutidos ontem no IV Simpósio Nacional sobre o uso da Água na Agricultura e do I Simpósio Estadual sobre os usos múltiplos da Água, que acontecem até esta quinta-feira no Centro de Eventos da UPF.
O professor Demetrius David da Silva, da Universidade Federal de Viçosa, MG, destaca que em nível local a questão da impermeabilização do solo, tanto em áreas rurais quanto urbanas, tem gerado os impactos mais sensíveis. Conforme silva a água que não infiltra no solo no período chuvoso escoa superficialmente. “Se ela escoa, ela vai se encaminhar para as áreas mais baixas da bacia gerando vazões máximas de enchente no período chuvoso, e uma série de problemas para toda comunidade”, pontua. Os desequilíbrios e as alterações climáticas em escala global influenciam na distribuição das chuvas. Isso gera problemas de aumento das vazões máximas de enchente.
Controle
A adoção de medidas simples para garantir a absorção da água pelo solo seria fundamental para reverter o problema. “O que temos que fazer é uma série de ações, envolvendo práticas conservacionistas no sentido de recompor a cobertura vegetal nas áreas rurais e criação de zonas de recarga em áreas urbanas”, resume. As cidades têm boa parte do solo impermeabilizado. Isso transforma a chuva – que deveria ser absorvida – em vazão.
As zonas de recarga podem ser constituídas de áreas verdes que permitam a infiltração. “Infiltrando vamos aumentar a vazão no período seco do ano e diminuir a vazão no período chuvoso. Isso significa aumentar a permanência da água nas bacias hidrográficas que é tudo que a gente quer. Só que essas ações de recomposição da cobertura vegetal e de recuperação da infiltração de água no solo normalmente não são de curto prazo, dependem de intervenções no âmbito das bacias hidrográficas, tanto em área urbana, quanto em área rural, para recompor esse ambiente que foi degradado”, pondera.
A recomposição de ambiente degradado não implica necessariamente em inserir cobertura florestal em toda a área da bacia hidrográfica. Silva explica que o mais importante é usar o solo adequadamente. “As áreas que tem aptidão agrícola podem ser usadas para o cultivo, desde que se tenha uma cobertura adequada que evite expor o solo à ação da chuva”, acrescenta.
Plantio em contorno
Uma medida simples que pode ter um efeito significativo na agricultura é o plantio em contorno nas áreas de declive. O cultivo morro abaixo forma sulcos que facilitam o escoamento da água. Já no plantio em contorno os sulcos agem como barreiras. “Basta uma conscientização dos produtores para implementar técnicas simples visando a redução do escoamento”, afirma. A vazão nas áreas rurais é responsável também por carregar sedimentos aos cursos d’água. A água turva requer mais produtos e tempo para ser purificada, o que resulta em aumento nos custos de tratamento.