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Jovem viciado em crack vive em uma cela montada dentro da própria casa, na tentativa desesperada para deixar o vício

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Gerson Lopes/ON

Na tentativa desesperada de afastar o filho do crack e colocar um ponto final numa rotina de violência que se arrasta há pelo menos quatro anos, a mãe decidiu transformar um dos quartos da casa, no bairro Jaboticabal, em cela e isolar o jovem, de apenas 19 anos. Cansada de ver fracassadas as inúmeras tentativas de recuperação, Mariema Muller, 41anos, afirma ter chegado no limite. “É a última chance dele, se não der certo, vou abandonar o meu filho”, desabafa.

Usuário de crack há quatro anos, B já perambulou por 15 instituições de reabilitação especializada no Estado, sem obter alguma melhora. Na maioria das vezes, abandonou o tratamento por vontade própria. Além do crack, o jovem costumava ingerir cachaça.

O comportamento cada vez mais agressivo, provocado pelas crises de abstinência, passou a colocar em risco a vida dos demais familiares. O rapaz tem outros dois irmãos, um menino e uma menina, de 12 e 10 anos, respectivamente. Sem dinheiro para alimentar o vício, por várias vezes ele promoveu quebra-quebra dentro de casa. As marcas ainda estão nos vidros estilhaçados das janelas. “Ele quebrou todo o banheiro, destruiu móveis, além de vender tudo que via pela frente. Também já tentou o suicídio por mais de uma vez” conta o padrastro, Edson Bihuna, 50 anos, que deixou de trabalhar para tomar conta do enteado.

Na lista de objetos transformados em moeda de troca com os traficantes, estão panelas, talheres, roupas e cobertores. Além do comportamento agressivo em casa, Mariema disse que a decisão de transformar o quarto em cela surgiu em razão das constantes agressões que o filho vinha sofrendo na rua. “Se eu não tivesse feito isso, certamente já estaria morto. Levava uma surra toda noite. Voltava sempre muito machucado” lembra.

Para fechar a peça com as grades, a família gastou aproximadamente R$ 700. Após algumas tentativas de fuga, os ferros foram sendo reforçados e passaram a cobrir até mesmo o teto. Trancafiando há um mês num espaço de aproximadamente dois metros quadrados, B, deixava o local pelo menos uma vez por dia para compartilhar alguns momentos com a família, na sala, mas depois de uma fuga, passou a sair apenas para o banho. Atualmente de férias, a mãe já acostumou acordar durante a madrugada para tentar acalmar as crises do filho. “Ele rasga o colchão, cobertor, travesseiro tudo que tiver pela frente. Hoje (ontem), acordei às 5 da manhã e fiquei sentada aqui conversando com ele. Já fiz de tudo, até acorrentei ele uma vez. Se não mudar agora, vou desistir e abandonar ele. Preciso criar meus outros dois filhos. É muito triste para uma mãe dizer isso, mas não tenho mais forças para continuar” revela.

     A família já encaminhou o pedido de internação compulsória no hospital psiquiátrico Bezerra de Menezes e aguarda decisão da justiça. Atualmente B, recebe remédios e também faz tratamento com um medicamente natural, comprado com dificuldade pela família no valor R$ 427.

Entrevista

“Não experimentem nunca”

Encostada na porta de acesso ao quarto onde o jovem é mantido preso, a amiga da família Ada Mello,  que trabalha como merendeira em uma escola,  lembra do tempo em ajudava a cuidar de B, quando ele tinha entre dois e três anos. Emocionada, não poupa elogios ao rapaz. “Ele era uma criança linda, inteligente. Está passando por essa situação, mas é um rapaz bom, trabalhador, não tem maldade, apenas não consegue se livrar dessa coisa terrível” diz.

     Em entrevista ao ON, B, que se diz torcedor do Atlético Paranaense, paixão adquirida durante o tempo em que deixou Passo Fundo para morar na capital paranaense, conta como se envolveu no mundo do crack e dá detalhes do drama que está enfrentando para livrar-se do vício.

ON - Como começou essa história?
B –
Começou por pura curiosidade. Acredito que mais de 80% começam pela curiosidade, querem saber como é. Eu fumava maconha, então um amigo, se é que dá pra chamar de amigo, fez um mesclado (mistura de maconha e crack) e me deu. Fumei e gostei. No terceiro dia já não fazia mais efeito, então fumei uma pedra de crack no cachimbo e não parei mais.

ON – A tua mãe trouxe você para Passo Fundo na tentativa de afastá-lo da droga, mas isso não aconteceu?
B –
Pelo contrário. Passei a trabalhar para um traficante. Eu cuidava dos cavalos e dos outros bichos que ele tinha na propriedade dele. Chegamos a ficar dois dias e duas noites fumando. Acho que fumamos mais de 30 pedras. Ele pagava meu trabalho com pedra. Se eu continuasse lá, já tinha morrido. Não comia mais nada, só ingeria líquido. Minha garganta parecia que estava fechando.

ON – E mesmo nessa situação você continuava consumindo?
B –
Não tem como parar. O efeito é uma coisa muito boa, mas dura uns 15 segundos. Depois a gente não se livra mais. É um inferno o que estou passando.

ON – O que você tem a dizer sobre a decisão da tua mãe de construir essa cela?
B-
Minha mãe já se meteu até em briga por minha causa. Se não fosse ela, já teria morrido. Ela fez isso porque estavam me batendo muito. Um grupo me atacou para roubar R$ 5. Levei socos e chutes na cabeça, mas não entreguei o dinheiro. Cheguei a roubar para conseguir dinheiro. Não é nada bom ficar trancado direto aqui dentro, mas sei que é para o meu bem.

ON – Por que você não dá continuidade nos tratamentos?
B –
Já fui internado 15 vezes. O problema é que sou fumante e nesses lugares é proibido fumar, então acabo desistindo. Sei que estão tentando me internar novamente, vou fazer de tudo para ir até o fim, preciso me curar.

ON – Qual o conselho seu para os jovens sobre as drogas?
B –
Não experimentem nunca.

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