Gerson Lopes/ON
Caingangues de diversas reservas existentes na região norte do Estado, iniciaram ontem, uma série de atividades, que deve ser estender pelo menos até o final da semana, para marcar a passagem do Dia do Índio, comemorado hoje. Nos últimos 10 anos, a Funai registrou um crescimento de 100% da população indígena no Rio Grande do Sul. Hoje existem aproximadamente 20 mil índios distribuídos em dezenas de reservas no Estado. A preponderância é de Caingangues, com 80%, Para o coordenador da Funai, Adir Reginato, o aumento populacional está relacionado com a melhoria na qualidade dos serviços prestados nas aldeias. “Com um acompanhamento médico conseguimos reduzir significativamente o índice de mortalidade infantil. Também houve avanços na economia, através da agricultura de subsistência” afirma. Reginato
Para o doutor em história social e professor da Universidade de Passo Fundo, Telmo Marcon, autor do livro História e Cultura Caingangue no Sul do Brasil, além de diversos outros trabalhos na área, o grande desafio do índio para os próximos anos está na busca da cidadania, a qual segundo ele, passa por uma série de avanços, como a capacidade de auto-subsistência.No estudo denominado Política de educação indígena: da tutela à emancipação, o qual será apresentado em São Paulo, na próxima Semana, Marcon demonstra que a sobrevivência do índio ainda depende do Estado. “Com a Constituição de 88, o índio deixaria de viver sob a tutela do Estado em busca da cidadania, mas isso não ocorreu. Em muitas aldeias a sobrevivência é garantida por cestas básicas. No meu entendimento, isso é a negação da cidadania. É preciso produzir o próprio sustento” argumenta.
No estudo, Marcon demonstra o papel que a educação deve exercer nas comunidades indígenas. “Precisamos pensar no sentido de ter uma escola capaz de ajudar a fortalecer a identidade das crianças e, ao mesmo tempo, auxiliá-las no convívio com outros grupos” explica. A gestão do poder de forma democrática, no entendimento do professor, também é outra questão que precisa avançar para evitar os constantes conflitos. Dados da Funai revelam que no Rio Grande do Sul existem 17 áreas homologadas, três demarcadas (aguardando homologação), 4 cedidas por prefeituras, e 16 em estudos.
Dia do índio
A data comemorativa foi criada em 1943 pelo presidente Getúlio Vargas, através do decreto lei número 5.540. A escolha do dia ocorreu devido ao o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano realizado no México. Além de contar com a participação de diversas autoridades governamentais dos países da América, vários líderes indígenas deste continente foram convidados para participarem das reuniões e decisões. Porém, os índios não compareceram nos primeiros dias do evento, pois estavam preocupados e temerosos. Este comportamento era compreensível, pois os índios há séculos estavam sendo perseguidos, agredidos e dizimados pelos “homens brancos”. No entanto, após algumas reuniões e reflexões, diversos líderes indígenas resolveram participar, após entenderem a importância daquele momento histórico. Esta participação ocorreu no dia 19 de abril, que depois foi escolhido, no continente americano, como o Dia do Índio.