Natália Fávero/ON
As vítimas do barulho acreditam que apenas a proibição de estacionamentos não é suficiente. Eles pedem mais rigor na fiscalização dos órgãos públicos, inclusive a colocação de policiais fixos nos dias e horários de maior perturbação. No feriadão de Páscoa, os moradores das imediações da rua General Neto, no centro, e da rua Soledade, no bairro Vera Cruz, ao invés de descansar, acabaram se estressando. Durante a madrugada muita gritaria, bebedeira e som alto. Ao amanhecer, encontraram os sinais da “diversão”: lixo, garrafas e vidraças quebradas, copos, litros, urina e fezes nas calçadas.
Um dos moradores e comerciantes da rua Soledade, próximo a uma boate do bairro, teve a vidraça do seu estabelecimento quebrada durante a madrugada de domingo. “Eles passam gritando, batendo nas portas e brigando. Quando eles quebraram o meu vidro até pensei em reagir. Eu tenho porte e tenho arma em casa. Mas não posso atirar, porque são todos menores de idade e alguns ainda ficam ameaçando”, relatou o morador.
O comerciante disse que menores bebendo são comuns nos finais de semana. “Fico impressionado de ver alguns menores caídos pelo chão de tanto beber. São umas crianças. Cadê os pais?”, indagou o comerciante.
A vidraça quebrada foi o fato que faltava para o comerciante e morador decidir vender o seu imóvel. Segundo ele, a proibição do estacionamento das 22h às 6h coibiu a permanência de veículos, mas a concentração de pessoas pelas calçadas continuou. “Perdemos a briga. Não temos mais pra quem recorrer. Já fizemos reunião, procuramos promotoria, vereadores, prefeitura e Brigada Militar e o problema permanece. A polícia faz a fiscalização, mas quando vira as costas o barulho toma conta novamente”, desabafou.
O vice-presidente da Associação de Moradores da Vera Cruz, Douglas Alexandre da Luz informou que outros moradores também reclamaram do barulho e que cenas de vandalismo já foram registradas em meses anteriores no bairro.
Plantão permanente
“É necessário criar um grupo específico para fazer plantões nesses pontos de algazarra”. Essa é a opinião de um morador da rua General Neto que também não passou noites agradáveis no feriadão. O professor que já teve o vidro da janela do quarto quebrado depois que um jovem atirou um objeto no ano passado, disse que o barulho foi terrível nesses últimos dias. “Tinha gurizada desfilando com som a todo volume, pessoas gritando. Na manhã de Sexta-feira Santa tinha umas meninas bem vestidas na calçada gritando palavrões. Um quer aparecer mais que o outro”, reclamou o morador.
Segundo ele, o barulho permanece até o amanhecer. O morador disse que chamou a Brigada e eles ficaram cerca de uma hora fazendo abordagem e autuando, mas quando foram embora a bagunça retornou. Ele sugeriu que os órgãos de segurança criem um grupo específico para serem fixados nesses locais. “É preciso fazer segurança permanente. O cidadão só aprende se doer no bolso. Enquanto não houver medidas drásticas eles não vão parar. Não podemos nos entregar para os bagunceiros”, disse o morador.
Em relação à proibição do estacionamento na General Neto, o morador disse que o problema poderá ser amenizado, mas não resolvido. Ele acredita que se proibir nesta rua, o barulho vai migrar para outro ponto, como aconteceu da Moron para a General Neto.
Feriadão tranquilo na Moron
O morador da rua Moron, Eli Felipe dos Santos disse que o feriadão foi considerado tranquilo nas imediações. Afirmou que a fiscalização está sendo realizada frequentemente pela polícia. “Os estudantes retornaram para as suas cidades ou viajaram e tudo estava bem calmo no feriadão. A Brigada e a Guarda estavam fiscalizando, não posso me queixar”, disse Santos.
Ele salientou que com a proibição do estacionamento das 22h às 06h, na Moron e Capitão Eleutério, o barulho diminuiu 80%.
Estacionamento da General Neto deverá ser proibido
A Secretaria de Segurança está analisando a possibilidade de proibir o estacionamento na General Neto. Moradores estão providenciando um abaixo-assinado para pressionar a prefeitura a resolver o problema. A decisão final partirá do prefeito Airton Dipp.
Conforme o secretário de Segurança, Márcio Patussi, as reclamações já são de conhecimento da secretaria e estão procurando alternativas para evitar a perturbação em excesso nesses pontos. Ele garantiu que fiscalizações em conjunto com a Brigada Militar foram realizadas durante as noites de feriadão.
Patussi enfatizou que com a proibição do estacionamento na Moron, houve uma redução de 90% da perturbação de sossego. Ele acha que não é uma medida ideal, mas em casos de exageros a medida é aplicável. “Haverá redução se implantarmos a proibição na General Neto, mas haverá migrações para outros pontos”, enfatizou o secretário.
A colocação de agentes de trânsito permanente nesses locais foi considerada inviável nesse momento, devido ao número ainda reduzido de fiscais e porque a cidade tem que ser atendida como um todo.
Sem medida
Morador da General Neto com Paissandu registrou há poucos dias cenas que ocorrem ao amanhecer, depois de uma noite de farra e muita bebida. Um grupo de jovens resolve, às 8h da manhã de um domingo, continuar a festa da noite em plena via pública. Eles tomam conta da rua, deitando no asfalto. Não bastasse isso, gritam e curtem um som a todo o volume. Os moradores que já não tiveram uma noite sossegada como deveriam ainda são obrigados a acordar com a bagunça.
“Nossa demanda não é só perturbação do sossego”
O comandante do 3º RPMon da Brigada Militar, Adair Zanotelli explicou que não é possível deixar policiais de plantão nos locais onde a incidência de perturbação de sossego é maior. “A segurança pública é um conjunto e a perturbação de sossego é apenas uma delas. Estamos fazendo o possível e trabalhando integrados com os demais órgãos. Mas, não podemos deixar pessoal fixo”, explicou Zanotelli.
Ele salientou que operações foram realizadas de quarta-feira a domingo e ainda atenderam a demanda de eventos na cidade nesse período, no Teixeirinha e na Feira de Pequenos Animais.
Pedido de Providência
O vereador Paulo Neckle (PMDB) protocolou na sessão plenária de ontem (25/04), um pedido de providência ao Executivo para proibir o estacionamento na General Neto, nas mesmas proporções das medidas administrativas tomadas nas Moron e Capitão Eleutério. O vereador disse que os moradores chamaram o parlamentar para verificar “in loco”, a situação dos moradores e da sujeira nas ruas na manhã de sexta-feira (22/04). “Parecia que tinha acontecido uma guerra. E pude perceber que a loja de conveniência de um posto nas proximidades não tinha nada a ver com a situação. Havia muitos litros e bebidas trazidas de outros lugares. Os funcionários da loja tiveram que inclusive limpar a via pública”, disse Neckle.