Gerson Lopes/ON
O professor Valdecir Norberto Corteze, 61 anos, acusado de agredir uma aluna, de 11 anos, da 5ª série, na escola estadual Anna Luiza Ferrão Teixeira, será ouvido hoje na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. Além do inquérito na Polícia Civil, o educador responde a uma sindicância na 7ª Coordenadoria de Educação, e ainda, a um procedimento administrativo instaurado pelo Ministério Público. Afastado da sala de aula desde o dia seguinte ao fato, ocorrido em 13 de abril, Corteze acredita que a situação que originou o incidente com a estudante tenha sido premeditada por um grupo de alunos. Ele revelou que, oito dias antes, já havia levado a mesma menina duas vezes à direção por problemas disciplinares.
Desde a divulgação dos fatos pela imprensa, o professor de ciências tem recebido inúmeras manifestações de solidariedade de amigos e, principalmente, de alunos. Estudantes do colégio Cecy Leite Costa, onde também leciona no segundo grau, chegaram a fazer um abaixo-assinado pedindo a volta dele para a sala de aula.
No colégio Anna Luiza, alguns pais e alunos também se manifestaram a favor do educador. Uma estudante da turma em que ocorreu o incidente reconhece a falta de disciplina e, sem dar detalhes, reforça a versão de que a situação teria sido planejada. “Ele tentava passar a matéria no quadro e poucos prestavam atenção. Era muita gritaria, ficavam caminhando pela sala de aula. Eu ouvi falar de que foi planejada a gravação. Ele não merecia isso” afirma.
Ainda conforme a estudante, a turma continua tendo problemas de disciplina. “Na segunda-feira, o professor de geografia estava tentando dar um trabalho e não conseguia. Vários colegas foram para a direção” revela.
Logo após o fato, a direção da escola convocou uma reunião com os pais dos alunos da 5ª série. Um\ das mães elogiou a iniciativa, mas criticou a falta de participação. “Uma turma com mais de 30 alunos, apenas 10 pais compareceram. Onde está o compromisso, não é certo o que fizeram, eu fico do lado do professor. Sei que ele é um ótimo professor. Se não fosse, não fariam abaixo-assinado para ele voltar. Ele foi injustiçado” desabafa.
Em entrevista ao jornal O Nacional, Corteze explicou porque acredita ter sido vítima de uma ação planejada e também comentou como tem encontrado forças para enfrentar as acusações.
ON - O senhor acredita realmente que a situação foi planejada para possibilitar a gravação?
Corteze - Eu imagino que tenha sido provocado. Estavam com três ou quatro celulares na sala de aula. Quando entrei, começaram a pedir para sair, ir até o lixo, falar com o fulano. Tinham dois ou três que eu mandava sentar e eles não sentavam. Pediam para apontar o lápis. Eu senti que era para me provocar. A menina dizia que eu não podia encostar nela, que eu não mandava nela. Eu pedia para ela sentar. Quando estava perto do cesto do lixo, peguei ela pelo braço e a levei até a cadeira, aí gravaram. Depois ainda tentei passar alguma coisa no quadro, mas estavam em alvoroço. Cheguei a ver o grupo com os celulares. Infelizmente aconteceu comigo.
ON – Em que momento o senhor tomou conhecimento da gravação?
Corteze - No intervalo, em cinco minutos, já haviam passado para o colégio todo. Era um grupo de quatro, cinco que tinham celulares, premeditaram para gravar. Quando entrei para dar aula na turma da 8ª série, após o intervalo, me mostraram as imagens.
ON – Como era o andamento da aula naquela turma anteriormente?
Corteze - Sempre foi difícil, mas nos últimos dias estavam mais agitados. No dia anterior ao incidente, foi uma aula boa, calma. Tem uns quatro ou cinco que são líderes negativos. Quando querem agitar se combinam para atrapalhar a turma.
ON – O senhor já havia tido problemas com a aluna envolvida no incidente?
Corteze - Uma semana antes já tinha tido atrito por problema de disciplina. Ela simplesmente não quer obedecer em sala de aula. Levanta, afronta as pessoas. Qualquer professor ela encara e bate o pé. Tanto que já foi para a direção. Comigo foram duas vezes
ON – As imagens mostram o senhor segurando ela pelo braço, o que não deixa de ser um erro?
Corteze - Eu agi de forma errada forçando ela a sentar, reconheço, mas não a agredi em nenhum momento. Não é do meu temperamento. Cheguei no limite porque ela vinha me provocando, dizia que eu não podia encostar nela. Levantava para conversar. Sou completamente diferente, sou calmo, gosto de brincar, conversar. Dou aula para a 7ª e 8ª séries, na mesma escola, eles me adoram. Dou aula no segundo grau do Cecy, também gostam muito de mim, fizeram um abaixo-assinado pedindo minha volta. É um relacionamento de amigo, não sou de brigar. Gosto de conversar ensinar, dialogar. Com essa turma infelizmente não é possível.
ON – Como foi acordar no dia seguinte e enfrentar a realidade?
Corteze - Foi terrível, fiquei abalado, triste. Na quinta-feira, eu chorei muito. Não tinha vontade de sair de casa, constrangido, nunca imaginei que isso ocorreria comigo.
ON – Por outro lado, recebeu inúmeras manifestações de apoio?
Encontrei alunos, pais, todos solidários comigo. Me senti muito emocionado, todos diziam que estavam comigo. As manifestações de carinho ajudaram bastante.
ON – Estás ansioso para voltar?
Corteze – Muito. Meu objetivo é ensinar o conteúdo, e boas maneiras, falar sobre comportamento, relacionamento, não é reprimir, mal tratar aluno. Vou esperar a decisão da Coordenadoria.