Doméstica: profissão rara

A procura por empregadas domésticas está cada vez maior. Mas, a falta de valorização faz está levando a profissão a escassez

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Natália Fávero/ON

Alguns afirmam que empregada doméstica é uma profissão do futuro, porque as pessoas trabalham muito e não têm mais tempo de cuidar da casa e dos filhos e por isso, precisarão contratar alguém para fazer essas tarefas. No entanto, o preconceito, a falta de valorização salarial e de garantias trabalhistas fazem com que as pessoas desistam dessa profissão. Em Passo Fundo, uma Associação de Empregadas domésticas foi criada há cinco anos, mas ainda não foi regularizada. Estima-se que haja oito mil empregadas com carteira assinada e outras milhares trabalhando como diaristas sem vínculo empregatício. Em meio a tantas dificuldades, a nossa reportagem encontrou uma das poucas empregadas domésticas que tem salário fixo, direitos trabalhistas e é apaixonada pela profissão.

Maria Elizabete Machado, de 38 anos iniciou a sua carreira como babá a cerca de 20 anos. Chegou a parar por nove anos quando resolveu trabalhar em um frigorífico. Mas problemas de saúde ocasionados pelo trabalho pesado fizeram com que ela largasse o emprego. Bete foi novamente convidada a trabalhar na casa de uma médica que conhecia o seu trabalho já que no passado Bete havia cuidado dos dois filhos dela. Há 11 anos permanece nesse mesmo lar, com carteira assinada, direito a férias e recebe mais que o salário mínimo pago para a maioria das empregadas domésticas.  “Sempre tive orgulho de ser empregada doméstica. Sinto-me valorizada, porque não é qualquer patrão que larga a chave da casa para um empregado. Temos uma grande responsabilidade”, diz Bete.

Elizabete faz serviço de mercado, cozinha, passa roupas, lava, limpa a casa e dá atenção a dois cachorros. Um trabalho cansativo, já que ela também precisa cuidar da sua casa, dos três filhos e do marido. “Passo às vezes, mais tempo na casa em que trabalho do que na minha. Criamos um vínculo com os patrões e acabamos nos sentindo até parte da família”, salienta a empregada doméstica.

O emprego de doméstica também proporcionou algumas viagens junto com a patroa. “Já viajei para o Uruguai, Camboriú, Florianópolis, Montevidéu, Porto Alegre. São viagens a trabalho, mas que graças a minha chefe, conheci novos lugares”, declara Bete.

O trabalho também contribuiu para a construção de uma casa no bairro Planaltina junto com o marido que é metalúrgico. No ano passado, participou de um curso de aperfeiçoamento do Lar. Ela aprendeu dicas de como lavar corretamente as roupas, organizar os armários, por onde iniciar a faxina, como fazer sabão e detergente caseiro e conheceu os seus direitos como empregada doméstica.

Ela não terminou o ensino médio e esta é a próxima meta da sua vida. Caso tiver uma oportunidade pretende cursar a Faculdade de Psicologia. “Hoje o estudo é fundamental. Precisamos saber escrever para anotar e deixar recados, falar corretamente para atender as visitas dos patrões, é necessário sabermos economia para pesquisar preços e também lidar na internet para buscarmos informações e receitas”, enfatiza.

Associação das Empregadas Domésticas será regularizada

Em 2006, um grupo de mulheres empregadas domésticas decidiu criar a Associação das Empregadas Domésticas de Passo Fundo. Atualmente, cerca de 40 domésticas fazem parte da associação que ainda não foi formalizada legalmente, o que deverá acontecer em maio desse ano. O objetivo é lutar pelos direitos trabalhistas e pela valorização da categoria.
A presidente da Associação, Maria de Lourdes Coelho Pupe, mais conhecida como Pupe, enfatiza que a associação dá mais legitimidade para as ações e uma das metas será oferecer capacitações para as empregadas. “Muitas vezes as domésticas são mães solteiras e precisam sustentar a casa e os filhos sozinhas”, diz Pupe.

A presidente da associação disse que ainda existe muito preconceito em relação à profissão tanto por parte das próprias empregadas que às vezes tem vergonha de dizer que são domésticas e por parte da sociedade que não valoriza e discrimina a profissão. “Vamos lutar para que nossa categoria seja reconhecida como qualquer outra”, declara a presidente da associação.

A desistência da profissão
Ser diarista atualmente é muito mais rentável financeiramente do que trabalhar como empregada doméstica. Uma diarista chega a ganhar R$ 80,00, isso representa cerca de R$ 1,7 mil mensais. A maioria das empregadas recebe apenas o salário mínimo regional (R$ 610,00). As poucas domésticas que ainda atuam no mercado estão deixando a profissão para trabalhar na construção civil. Um emprego que oferece oportunidades futuras e é mais rentável.

A presidente da Associação das Empregadas domésticas salienta que muitas patroas não querem assinar a carteira e muito menos pagar os direitos trabalhistas. Além disso, outro fator que contribuiu para a desistência é o não pagamento do Fundo de Garantia (FGTS). As empregadas não têm segurança. “Às vezes trabalhamos anos e saímos sem nenhum centavo no bolso. Deixamos nossa família para cuidar da família dos outros. Fazemos café, levamos as crianças na escola, cozinhamos, limpamos a casa, levamos o cachorro passear. Não é justo fazer tudo isso por um salário mínimo e não receber os nossos direitos”, desabafa Pupe.

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