Leonardo Andreoli/ON
Uma violência muitas vezes silenciosa, intimidadora e sem chances de defesa para a vítima. O abuso sexual infantil é uma realidade tão próxima das pessoas que se torna difícil ver o que está acontecendo. Maior ainda é o medo de denunciar e tomar uma atitude frente ao problema. Em Passo Fundo, apenas nos primeiros quatro meses do ano 61 suspeitas de violência sexual contra crianças e adolescentes foram registradas.
Os dados são disponibilizados pela Sociedade de Auxílio à Maternidade e à Infância (Sami). A casa presta apoio às crianças e famílias vítimas do problema. O sigilo é total e nenhuma informação que possa pessoalizar um caso é fornecida. Os números registrados na cidade são elevados. Em 2010 foram registrados 168 casos de abuso sexual. Apenas nos primeiros quatro meses deste ano já são 61 suspeitas. Cerca de 85% dos casos são confirmados.
A violência sexual é um crime que acontece em todas as camadas sociais. Na cidade, na maior parte dos casos o abusador é alguém de dentro da família. São pais, avôs, irmãos por afinidade que esquecem o papel de cuidador e passam a cometer um crime que não dá chance para a vítima se defender. “Sempre que o abuso é intrafamiliar há uma dificuldade muito grande de a família denunciar o abuso”, esclarece a presidente da Sami Laura Bordignon. O percentual de meninos e meninas vítimas dessa covardia fica dividido quase na mesma proporção. “O abusador pode não ter consumado o fato, mas muitas vezes a crianças é exposta a uma situação que depois tem de ser feito um trabalho psicológico e terapêutico muito bem feito para que a criança supere”, acrescenta.
O mais preocupante, segundo Laura, são os casos não denunciados por medo ou vergonha. Ela reforça a necessidade de os adultos tomarem alguma atitude em defesa da criança. As denúncias podem ser realizadas na Delegacia da Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) 3902-1307, pelo Disque Denúncia 3312-1275 e no Conselho Tutelar pelos números 3312-1588 e 2444.
Dia nacional
Há 38 anos a menina Araceli Cabrera Crespo, de oito anos, foi sequestrada, drogada, estuprada e morta em Vitória (ES). Ela desapareceu quando voltava da escola e foi encontrada morta com o rosto desfigurado, marcas de agressão física e sexual. Os suspeitos do crime pertenciam a importantes famílias da cidade e, apesar de terem sido condenados, recorreram da decisão e foram posteriormente inocentados. Ninguém foi punido pelo crime até hoje.
A menina morta em 18 de maio de 1973 tornou-se um símbolo na luta contra esse tipo de violência e, em homenagem a ela, foi criado o Dia de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em 2000. Entidades que atuam na defesa dos direitos dessa população e governos promovem durante toda a semana atividades para conscientizar e informar a sociedade sobre os crimes cometidos contra menores.
Ação
A Secretaria de Cidadania e Assistência Social (Semcas), promove nesta quarta-feira na praça do Teixeirinha, atividades alusivas ao “Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes”. A ação, que contará com apresentações da banda do Programa Bombeiro Mirim e do grupo de capoeira dos alunos do CRAS III, acontece das 14h às 16h. Na oportunidade, a equipe da Semcas estará distribuindo material informativo sobre a importância do combate ao abuso e à exploração sexual contra crianças e adolescentes.
No Brasil
Mais de 66 mil denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes, em quase oito anos de funcionamento do serviço Disque 100, foram registradas no Brasil até março de 2011. A maioria das vítimas é do sexo feminino. Os dados, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, foram divulgados pelo Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. Nesta semana, uma série de atividades de mobilização reforçam a campanha permanente de combate a esse tipo de violação de direitos.
Encarte
Na edição de hoje de O Nacional você encontra um encarte com informações sobre a campanha de combate ao abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes. No material estão disponíveis informações sobre denúncias e explicações sobre o que é violência sexual.