Gerson Lopes/ON
Os estragos provocados por atos de vandalismo em Passo Fundo, além dos transtornos para a população, têm consumido uma fatia significativa do orçamento público. O dinheiro que sai do bolso do contribuinte e que poderia ser direcionado para projetos sociais, culturais ou em melhorias na infraestrutura da cidade, é usado para pagar várias vezes a mesma conta, no conserto e reposição dos equipamentos. Somente com lâmpadas e placas destruídas durante o ano, a prefeitura investe aproximadamente R$ 34.320.
Em outros casos, a falta de recursos para reparar os danos, obriga o cidadão a ficar sem os serviços e a conviver com um cenário de destruição. Na mira dessa selvageria, estão praças públicas, abrigos das paradas de ônibus, placas de sinalização, lâmpadas, monumentos, lixeiras, e mais recentemente, os aparelhos de ginásticas ao ar livre.
Instalados terça-feira, no estádio Fredolino Chimango, Parque da Gare e no canteiro central da Avenida Brasil, no bairro Boqueirão, dois equipamentos amanheceram danificados, antes mesmo da inauguração oficial. Os aparelhos foram adquiridos através de uma emenda parlamentar da deputada Maria do Rosário (PT), no valor de R$ 104, mil, mais uma contrapartida do município de R$ 8,5 mil.
O mesmo drama é vivenciado pela iniciativa privada. Em determinados pontos da cidade, juntar os cacos da vidraça da loja ou escritório, estilhaçada durante a madrugada, já virou rotina na vida de alguns comerciantes. Para o empresário Neri Fuchs, a situação ultrapassou todos os limites. Vencedor de uma licitação da Prefeitura Municipal, para construção de 15 novas praças, ele não consegue concluir a obra devido aos constantes estragos. “Simplesmente não dá tempo. Até o fiscal agendar a visita para fazer a vistoria, o local já foi destruído novamente” afirma. A obra, que poderia ter sido entregue no final de 2010, já tem quase seis meses de atraso e um prejuízo de pelo menos 15% em relação ao valor orçado. Em alguns casos, os brinquedos, telas, bancos e lixeiras, precisaram ser instalados cinco vezes.
Secretaria contabiliza estragos
Mesmo sem disponibilizar de uma estatística específica para dimensionar com exatidão o prejuízo causado pelos vândalos aos cofres da prefeitura, através de um relatório dos trabalhos prestados semanalmente pela Secretaria Municipal de Transporte e Serviços Gerais, em dois itens básicos como sinalização e iluminação, é possível obter números aproximados das despesas provocadas pelo quebra-quebra diário nas ruas da cidade.
Titular da pasta, a secretária Mariniza dos Santos revela que os danos acontecem com finalidades e motivações diferentes. Nos últimos meses, a quantidade de placas de sinalização destruídas, inclusive com a retirada de barra de ferro de sustentação, vem chamando a atenção. São aproximadamente 15 placas danificadas a cada semana, pelo menos cinco delas provocadas por acidentes de trânsito. A reposição representa uma despesa mensal de R$ 1.8 mil. Mariniza suspeita de que o equipamento está sendo usado como moeda de troca para aquisição de droga.
Outro problema crônico, a destruição da iluminação pública obriga o setor a repor toda semana, no mínimo 10 lâmpadas de vapor de sódio, provocando um gasto de R$ 1.060 mil ao mês, sem contabilizar situações em que são necessárias a troca do suporte e do reator. Para a secretária, em alguns casos, a droga também pode estar por trás desse tipo de atitude. “Usuários apedrejam as lâmpadas para poder consumir no escuro, colocando em risco a segurança dos demais moradores” diz.
Longe de ser exclusividade dos bairros, os danos acontecem de forma ainda mais intensa na área central. Na praça Scussel, localizada no canteiro central da avenida Brasil, os vândalos retiraram todos os globos e fiação da chamada iluminação baixa Mesma situação registrada no Parque da Gare.
Em relação às pichações, a secretária não dispõe de um dado sobre o custo causado por essa chaga urbana, mas conhece bem as dificuldades para reparar os estragos causados em fachadas, praças e, principalmente, nos monumentos. Com a falta de profissionais especializados em restauração, o dano muitas vezes permanece por vários anos, contribuindo ainda mais para a poluição visual da cidade.
“É preciso trazer profissionais de outras cidades para fazer este tipo de trabalho, acontece que muitas vezes eles não têm interesse, acham que não compensa financeiramente, então dificulta o restauro. O poder público tem a obrigação de cumprir o seu papel, mas é importante que a comunidade também cumpra o seu, que é o de preservar” afirma Mariniza.
Abrigos de ônibus
Uma reportagem publicada na edição de sexta-feira de O Nacional demonstrou que dos 63 abrigos de ônibus quase todos apresentam sinais de destruição. Confeccionados em policarbonato, com estrutura metálica de tubo de aço galvanizado, a expectativa de durabilidade era estimada em até três décadas, mas a ação dos vândalos abreviou para apenas quatro anos o tempo de uso. Os equipamentos foram adquiridos através de uma emenda parlamentar do deputado Beto Albuquerque no valor de R$ 300 mil com 20% de contrapartida do município.
“Vou pensar duas vezes antes de assumir um contrato novamente”
Ao vencer a licitação da Prefeitura Municipal de Passo Fundo, para a construção de 15 praças, em diferentes bairros da cidade, o empresário Neri Fuchs colocou os valores na ponta do lápis e acreditou estar fechando um bom negócio. Passados quase 18 meses, se diz arrependido por não ter avaliado um detalhe que está fazendo toda a diferença em seu orçamento: o vandalismo. “Foi minha primeira experiência com este tipo de trabalho, e muito provavelmente a última. Jamais pensei que enfrentaria um problema como este” desabafa.
Orçada em R$ 665 mil, oriundos de emenda parlamentar, a obra iniciou no primeiro trimestre de 2010 e deveria ter sido concluída no final do mesmo ano. Os seis meses de atrasos e um prejuízo de 15% no orçamento, é o resultado dos constantes estragos provocados pelos vândalos. Todas as 15 praças sofreram algum tipo de vandalismo. Em algumas, o serviço, como instalação de tela, muro e brinquedos teve de ser repetido até cinco vezes. A freqüência dos danos impede que o empresário mantenha o local preservado até passar pela avaliação do fiscal da Caixa Econômica Federal.
“É uma situação complicada. Como as parcelas são liberadas por etapas, é preciso uma vistoria, acontece que até ela ser agendada, o estrago já foi feito Estou no prejuízo, mas como assinei o contrato, vou cumprir” afirma. Com muito esforço, Fuchs conseguiu entregar 12 das 15 praças. A situação, segundo ele, é mais grave no Loteamento Ivo Ferreira. Para evitar novos prejuízos, decidiu aguardar o momento adequado e realizar um mutirão para finalizar a obra.
Na tentativa de escapar da ação dos vândalos, o empresário precisou adequar alguns equipamentos. Os primeiros assento para os balanços, confeccionados com poliuretano e com capacidade para suportar até 100 quilos, tiveram os parafusos de sustentação retirados. Uma nova remessa foi comprada de São Paulo e uma peça de ferro precisou ser soldada para impedir o estrago.
“Me sinto impotente diante dessa situação. Sei que ninguém vai me pagar o prejuízo, não foi uma experiência muito boa. Mas também acho importante destacar os bons exemplos, como no Loteamento Pampa. Lá a comunidade assumiu a responsabilidade, adotou a praça. Tivemos um probleminha apenas no início e nada mais” destaca.
18 contêineres incendiados
Gerente da empresa Contemar Ambiental, Claudinei Costela também contabiliza prejuízos provocados pelo vandalismo. Desde o final de novembro de 2010, quando passou a operar com os contêineres de lixo na área central de Passo Fundo, já teve 18 contentores destruídos, todos pelo fogo. O prejuízo já está na casa dos R$ 22 mil. A maior incidência dos casos aconteceu entre os meses de janeiro e fevereiro. “Foi um período difícil, mas felizmente deu uma acalmada. Fico feliz quando a comunidade liga denunciando. Já está havendo uma conscientização” comenta.
Prejuízos do vandalismo
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