Texto e fotos: Natália Fávero/ON
Fabricar gesso é uma das principais atividades da vila Bom Jesus. Casas, galpões ou pavilhões são transformados em fábricas. Uma tradição que já persiste há cerca de 30 anos. Famílias inteiras sobrevivem apenas com a renda da comercialização das peças. A arte de fazer gesso iniciou com um morador já falecido que aprendeu a moldar os artefatos em São Paulo e trouxe para a comunidade um novo jeito de ganhar a vida. Os ensinamentos foram repassados de pais para filhos. O bairro é sem dúvida um dos principais berços do gesso em Passo Fundo. As peças são vendidas, principalmente, no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
De um modo geral, os objetos são feitos com pó de gesso misturado com água. A massa é colocada em uma forma de silicone específica para cada tipo de peça. Depois da primeira secagem é feito uma espécie de raspagem para fazer os detalhes. Em seguida, as peças são colocadas para secar definitivamente. Depois de alguns dias, conforme o clima, as peças secas ganham cores e detalhes.
Esse trabalho movimenta centenas de pessoas na vila. Os funcionários desses locais são na maioria pessoas da própria família. Nas fábricas maiores, os vizinhos e conhecidos acabam trabalhando informalmente para ajudar na confecção das peças para angariar uma verba extra.
O sustento de muitos moradores da vila provém exclusivamente do gesso. Renda que no final do mês significa em média R$ 1,2 mil. As romarias são os eventos mais visados pelos artesãos. O preço varia conforme o tamanho entre R$ 7,00 e R$ 500,00.
De geração em geração
Uma das mais antigas artesãs da Bom Jesus é a senhora Elma Teresinha de Quadro, 65 anos. Há cerca de 30 anos, ela lida com o gesso. Dos seis filhos, três trabalham nessa profissão. “Faz dezenas de anos que trabalhamos com gesso. Meus filhos se criaram aqui. Tem dias que ficamos até a meia noite. É uma terapia, tira todo o estresse”, afirma Elma.
Um dos filhos dela é o Claudiomiro de Quadro, de 42 anos. Ele conta que começou a trabalhar com 18 anos. Ele fez menção ao pioneiro na arte do gesso no bairro. O nome dele é Manoel da Rosa Paz já falecido. “Foi ele quem trouxe o gesso para o bairro. Aprendeu com os caras de São Paulo e foi ensinando os outros aqui”, lembra Claudiomiro. A artesã Fabiane Silveira Lucas, de 30 anos também foi criada em meio ao universo do gesso. A profissão foi herança dos pais e irmãos. “Minha família sempre trabalhou com gesso e casei com uma pessoa que também lida com essa arte. No bairro quase todos os moradores estão envolvidos com o gesso. É uma cultura que passou de geração em geração”, diz a artesã.
Fábricas no quintal de casa
Fabiane Silveira e o marido têm uma pequena fabriqueta atrás de casa. No galpão familiar são fabricadas cerca de 200 peças por semana. As imagens de santos, principalmente de Nossa Senhora Aparecida, e vasos são vendidos no comércio local, de porta em porta e em outras dezenas de municípios do Estado. Ela possui a carteira profissional de artesã. O trabalho dela consiste basicamente em enfeitar as peças. Ela pinta e decora dando o acabamento final aos objetos. “É um trabalho que exige tempo. A gente se suja muito também. A minha renda é só do gesso e consigo tirar em média R$ 300,00 por semana”, revela a artesã.
Gesso: bonito e barato
O gesso foi descoberto há milhares de anos. É uma substância, normalmente vendida na forma de um pó branco, produzida a partir do mineral gipsita (também denominada gesso), composto basicamente de sulfato de cálcio hidratado. Quando a gipsita é esmagada e calcinada, ela perde água, formando o gesso. Apesar de endurecer rapidamente o gesso permite esculpi-lo depois de rígido com uma ponta de faca, ou qualquer outra ferramenta, mais dura que ele. Existem muitas variedades de gesso, cada uma adaptada a uma função de determinado trabalho. Seca em pouco tempo, adquirindo sua forma definitiva em 8 a 12 minutos, é usado também para fundir molduras, na modelagem e fixação de placas para forro.
As peças confeccionadas com este material apresentam bom isolamento térmico e acústico, além de manter equilibrada a umidade do ar em áreas fechadas, devido à sua facilidade em absorver água.