Leonardo Andreoli/ON
Existe na física a lei de conservação de massa. Ela diz que nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Assim, uma semente germina, absorve nutrientes da terra, vira uma árvore, a celulose da planta é transformada em papel, o papel pode ser utilizado como documento, rascunho ou em forma de caixa e após o uso vira lixo. E ai acabaria esse processo pouco sustentável não fosse a ação de pessoas que recolhem diariamente os materiais recicláveis que são descartados e os encaminham para a reciclagem. Na Vila Popular, um projeto tem transformado a vida de pessoas. Em um galpão de triagem os adultos trabalham com a seleção de materiais reutilizáveis, em uma sala ao lado as crianças da comunidade participam do TransformAção. O nome do projeto é assim mesmo com uma letra maiúscula que divide a palavra ao meio e mostra que para transformar é preciso agir.
Nas segundas, terças e quartas-feiras pela manhã eles se reúnem no galpão para aulas de dança, capoeira e percussão. Às sextas-feiras as crianças e adolescentes vão até a Universidade de Passo Fundo (UPF) para terem aulas de informática. Ao contrário do que se pode imaginar, todas essas ações não são realizadas para criar músicos, dançarinos ou gênios da informática. Mas sim criar cidadãos e formadores de opinião que entendam a importância do aprender, e principalmente do ensinar.
Transforma
A irmã Inês Sartori é a coordenadora geral e entusiasta do projeto. Isso fica claro no trato dela com as crianças e principalmente das crianças com ela. E com os professores também. Os pequenos aguardam ansiosos e fazem festa com a chegada deles. “Só é amado aquilo que a gente conhece. A cidade de Passo Fundo é cheia de solidariedade. Muita gente vem aqui conhece e contribui”, observa a irmã. Atualmente são atendidas cerca de 50 crianças de faixas etárias variadas. Uma parceria com a UPF oferece a 22 delas a oportunidade de ter aulas de computação. O grupo de estudantes da Informática, Pedagogia, Assistência Social e Jornalismo da UPF que trabalham com eles dentro da universidade visitaram as crianças na última sexta-feira. “As pessoas percebem que não é suficiente ser feliz sozinho. Não vale a pena ser feliz sozinho”, justifica a irmã.
As mães também participam de trabalhos em grupo e nos finais de semana trabalham na confecção de acolchoados para se protegerem do frio. Vilma Veiga coordena esse trabalho que ainda está no início e será expandido. Ele será mais um meio de transformar retalhos de tecidos em acolchoados que serão úteis nos dias mais frios do inverno.
Oficinas
As oficinas são realizadas em turno inverso ao da escola. Conforme os coordenadores do projeto a comunidade já percebeu a diferença na atitude das crianças. Os professores também. Evandro Mesquita dá aulas de capoeira profissionalmente e também no projeto, além de atuar como vigilante. Para ele a parte mais importante no trabalho de vigilância é o contato com os menores e tirar eles da rua. “Eu tinha até medo de vir aqui no início porque todo mundo falava muito mal da Rua Ângelo Preto. Quando cheguei vi totalmente o contrário. Vi pessoas com vontade de crescer. Sempre gostei desse tipo de trabalho social. Esse trabalho é diferenciado porque as pessoas têm necessidade dele”, conta. Segundo ele a capoeira foi fundamental para a organização do trabalho. Por meio da arte as crianças aprenderam também a ter disciplina.
Nelson Ribeiro é o professor de percussão. Ele concorda que o objetivo não é só assistencialista. “Não é sustentar ou dar comida, é formar futuros cidadãos e formadores de opinião. O projeto transformou mais a mim do que a eles”, admite.
Ação
Para o projeto poder ter continuidade, a colaboração das pessoas é fundamental. Mensalmente eles têm gastos com materiais necessários para a realização das atividades. Pessoas interessadas em fazer trabalho voluntário também podem colaborar. Para isso é possível procurar os coordenadores do projeto no local ou pelos telefones (54) 3045-1262 e 9912-1807.
TransformAção
O projeto iniciou em 2008 voltado principalmente à questão da reciclagem e do meio ambiente. Durante as reuniões a coordenação começou a verificar que a comunidade tinha outras necessidades. A partir daí começou a ser desenvolvidas as atividades com as crianças. Hoje a própria comunidade relata aos organizadores a mudança que percebem nos pequenos.