Produtos nativos vêm ganhando mercado

Frutas como jabuticaba, guavirova e araçá estão voltando a aparecer nas propriedades rurais e, o melhor, estão ganhando espaço no mercado consumidor de produtos naturais

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Glenda Mendes/ON

Pessoas que cresceram no interior dos municípios da região Norte do Estado costumam relembrar dos tempos em que comiam butiá uma fruta nativa que era conhecida como “mato” em suas propriedades. Ou, ainda, sobre a “caça” ao araçá e ao pinhão, típicos em toda a região. Mas com o passar dos anos, que trouxe a valorização da soja e do trigo como culturas principais, as árvores frutíferas que foram dando lugar às lavouras.

Em tempos de consciência de preservação ambiental, discussão do código florestal e exigência de delimitação de áreas de preservação permanente, o retorno das áreas que foram desmatadas se torna fundamental. Então, por que não reflorestar com algo que possa também agregar lucro para a propriedade? Esta é a iniciativa que há mais de 11 anos foi tomada pela organização não governamental Centro de Tecnologias Alternativas Populares (Cetap), através de uma frente de trabalho de valorização dos produtos nativos.

“O principal trabalho do Cetap é promoção da agroecologia. Dentro disso, incentivamos a cultura de pomares ecológicos, a produção de hortaliças e temos um trabalho voltado à implantação de sistemas agroflorestais, que é um dos principais na atuação da entidade”, explica Alvir Longhi, engenheiro agrônomo do Cetap. Sistemas agroflorestais compreendem o cultivo agrícola associados às espécies nativas, com objetivo especial de reflorestar áreas que foram desmatadas. “Nosso trabalho é para que os agricultores comecem a incorporar as espécies nativas, especialmente as frutíferas, dentro dos sistemas agrícolas, especialmente para a recuperação de áreas degradadas e áreas de preservação permanente, como beiras de sangas, fontes de água, encostas de morros, tentando conciliar a preservação ambiental com a geração de renda”, enfatiza o engenheiro agrônomo.
Depois de cultivadas essas espécies vem a segunda etapa, que é fazer com que estas frutas revertam em renda para a propriedade. E como fazer isso? A proposta da entidade é valorizar os produtos nativos e encontrar espaço no mercado consumidor. E isso já foi conseguido através da extração da polpa das frutas, que é comercializada semanalmente na Feira Ecológica ou diariamente na sede do Cetap.

Extração da polpa
Para que o Cetap pudesse chegar ao trabalho que realiza hoje, primeiro foi elaborada uma lista de várias espécies que poderiam ser cultivadas na região. A partir disso foi feita uma seleção daqueles que atenderiam às condições do Centro em trabalhar, a vontade e expectativa dos produtores e, ainda, a aceitação por parte dos consumidores. Avaliando estes três aspectos, foram definidas as árvores frutíferas a serem cultivadas. “Pegando estes três públicos: entidade, agricultores e consumidores, a gente elegeu algumas frutas para trabalhar, que são o pinhão, a jabuticaba, a guavirova, o araçá, butiá e a uvaia. Estes têm sido os principais produtos dentro das frutas nativas. Outro produto, não fruta, mas que também é bastante trabalhado em sistema agroflorestal, é a erva-mate”, salienta Longhi.
Das frutas, então, é extraída a polpa. “Temos os equipamentos, que também desenvolvemos e adaptamos. E a partir da polpa você pode desenvolver uma série de produtos, desde os sorvetes, os bolos, os doces, pratos salgados, molhos. Do pinhão a gente tem feito a massa do pinhão, ou a paçoca, como tradicionalmente se diz, e congelado”, destaca o engenheiro agrônomo.

A unidade de processamento desses produtos, ainda em fase experimental, fica na sede do Cetap.

Culinária
Estes produtos, feitos com as frutas nativas, servem então de ingredientes para a culinária. A paçoca do pinhão, por exemplo, podem ser utilizada em diversos pratos quentes e em doces. E para aprender como utilizar, o Cetap também oferecer cursos e oficinas de capacitação para grupos que queiram aprender a desenvolver receitas a partir da polpa e da paçoca. Uma das dicas é o bolo de pinhão, que você confere a receita nesta reportagem.

Comercialização
“O que temos disponibilizado para a comercialização hoje basicamente é a polpa, para que as pessoas possam em casa fazer seu suco, fazer seu sorvete, pudim, ou os pratos quentes a partir da paçoca do pinhão”, comenta Longhi. Além disso, no verão, também é comercializado o sorvete já preparado com a polpa das frutas. Para adquirir estes produtos, basta procurar a Feira Ecológica, que acontece todos os sábados na praça da Mãe, ou ir diretamente ao Cetap, que fica na rua Uruguai, no Boqueirão.

Trabalho do Cetap
O Centro de Tecnologias Alternativas Populares trabalha com agroecologia na região Norte do Rio Grande do Sul há 25 anos, com atuação em 33 municípios. O trabalho com sistemas agroflorestais e valorização das espécies nativas, segundo Longhi, começou em 2000. “São 11 anos já de trabalho. Em 2000 começaram as primeiras experiências, o primeiro desenvolvimento de alguns produtos de maneira muito tímida, as primeiras implantações de áreas experimentais de manejo de sistemas agroflorestais. Mas o trabalho começou a ganhar um pouco mais de visibilidade, um pouco mais de energia há cerca de seis anos”, destaca.

Receita
Bolo de Pinhão

Ingredientes:
1 xícara de massa de pinhão
2 xícaras de açúcar
2 xícaras de farinha de trigo
½ xícara de óleo
1 xícara de leite
1 colher (sopa) fermento
4 ovos inteiros

Modo de preparo:

Bata numa batedeira, em velocidade alta, todos os ingredientes. Coloque em uma forma untava e leve ao forno numa temperatura de 180º por cerca de 30 minutos.

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