Glenda Mendes/ON
Com o objetivo de identificar a rede de tratamento para usuários de crack existente no Rio Grande do Sul, a Subcomissão Contra o Crack fez ontem (13) sua segunda reunião. Com o plenarinho da Câmara de Vereadores lotado, Passo Fundo mostrou à relatora da Subcomissão, deputada Miriam Marroni, a preocupação com o tema. “Não estamos preparados para lidar com isso. Se existe uma palavra que define o que eu sinto em relação a esta epidemia do crack é aflição. Nós não temos uma rede, em princípio, que responda a uma doença tão grave quanto esta. O estado brasileiro, historicamente, não se debruçou para tratar dependência química, então temos uma rede falimentar, que não tem interlocução e sequência. E estamos diante de algo que não dá para esperar”, afirmou a deputada frente ao dados alarmantes sobre o uso do crack.
Os números de usuários e da presença da droga em Passo Fundo foram apresentados pela psicóloga e enfermeira Ana Maria Migott, professora da Universidade de Passo Fundo, que há anos se dedica às pesquisas para identificação do percentual de inserção das diversas drogas ilícitas entre a população passo-fundense. “Até 2006, em Passo Fundo, dados de dependência química nas escolas apontavam a presença do uso de cocaína em 0,8% dos jovens e o crack com 0,1%. Agora estou finalizando uma pesquisa composta de cinco mil visitas domiciliares que constatou que hoje 10% é a presença do crack”, salientou.
Ao tratar da dependência química, a professora salienta que é necessário um conjunto de atitudes, uma vez que o uso de uma droga pode estar ligado à maior propensão de uso de drogas mais pesadas. “Fiz uma correlação do tabaco, álcool e crack que mostrou que quem fuma tem uma chance 15 vezes maior de ser usuário de crack. É um dado estatístico e epidemiológico”, alertou Ana Maria.
Outro dado importante apresentado foi que 90% dos usuários desintoxicados voltam a fazer uso da droga, conforme apontou o deputado Luciano Azevedo e, ainda, da íntima relação da dependência do crack com os crimes cometidos. Relação essa que chega a ser de 80% em Passo Fundo, conforme dados da Polícia Civil.
Rede de atendimento local
No que se refere à rede de atendimento existente em Passo Fundo, a maior parte das iniciativas de atendimento partem da rede pública, como os leitos existentes no Hospital Municipal. Além disso, existe o Centro de Atendimento Psicossocial – Álcool e Drogas (Caps-AD) e, recentemente, a instalação dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras), bem como o trabalho realizado pelos Cais, que fazem acompanhamento com as famílias.
“Existe na secretaria um programa chamado Fé na Prevenção, onde foram capacitadas pessoas da Secretaria de Saúde e da Semcas para trabalhar com palestras e potencializando a rede dos Cras, trabalhando com famílias no reestabelecimento de vínculos familiares e comunitários e na prevenção nos bairros e vila de Passo Fundo”, relatou o secretário municipal de Cidadania e Assistência Social (Semcas), Adriano José da Silva. De acordo com ele, dentre as ações do município para o atendimento estão ainda a contratação de 22 mil horas de oficinas socioeducativas e outras 29 mil horas para a Universidade Popular para capacitação.
Estas iniciativas, porém, esbarram em algumas questões que resultam na reincidência do uso de drogas. “Sabemos que podemos encaminhar o usuário para a desintoxicação, seja no Hospital Municipal, ou em qualquer local, mas o que não estamos sabendo fazer é o que vem depois desse processo”, avaliou o secretário. Isso, porque, de acordo com dados do ano passado, dos 204 usuários encaminhados para desintoxicação e tratamento, 65% reincidiu na assistência social. “Os melhores resultados que nós tivemos foram os que ocuparam as vagas em unidades terapêuticas fora de Passo Fundo. Merecia que déssemos maior atenção a este dado, pois não adianta tratar, dar alta e ele retornar para o mesmo local. Temos que pensar na existência de casas de contenção para depois da desintoxicação”, ressaltou.
Quanto custa
A criação de casas de acolhimento e tratamento para estes dependentes foi uma das soluções apresentadas. Mas a falta de recursos para este fim é o fator impeditivo. “Não temos hoje condições no município de aportar essa problemática. Fizemos um levantamento de custos para uma casa clínica para este público de R$ 4.500 por paciente. Se fizermos este tipo de atendimento, a partir de um momento vai faltar medicamento na rede básica”, enfatizou o secretário Adriano José da Silva. Para ele, a solução para esta equação é que resolveria o problema.
O trabalho da Subcomissão
O principal objetivo da Subcomissão é apresentar um diagnóstico da rede de atendimento que hoje existe no Estado, para identificar falhas e definir formas de enfrentamento eficazes. “Focamos nosso trabalho para que possamos fazer um relatório preciso. São milhares de jovens que não conseguem ter acesso a uma rede de atendimento pública e gratuita e precisamos mudar isso”, concluiu a deputada.
Participaram da mesa, além da deputada, o presidente da Câmara de Vereadores, Luiz Miguel Scheis, o deputados estadual Luciano Azevedo, também integrante da Subcomissão, o vice-prefeito Rene Cecconello e o coordenador regional de Saúde, Alberi Grando.