Surge um ator

Estudante conquista, pelo terceiro ano consecutivo, troféu de melhor ator no Festival de Teatro

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Gerson Lopes/ON
     

Um jovem de 15 anos, de fala mansa e jeito tímido (apenas quando não está no palco), desponta como uma das revelações da nova geração de atores passo-fundenses. Pelo terceiro ano consecutivo, Deméter Zoehler Brum Ferreira da Silva, conquistou o troféu de melhor ator do Espaço Cênico – Festival Estudantil de Teatro, promovido pela secretaria municipal de cultura de Passo Fundo. Além da premiação individual, venceu duas, das três edições do evento, como melhor esquete.
Para levar mais uma vez o voto dos jurados e os aplausos do público, Deméter encenou, ao lado do colega Augusto Flores Spessato, um idoso na esquete O homem e seus sentimentos, uma adaptação do texto O homem do princípio ao fim, de Millôr  Fernandes.  Realizado entre 15 a 17 de junho, o Festival deste ano contou com a participação de seis grupos, um deles de Carazinho.

Apesar da pouca idade, Deméter representa a continuidade de uma tradição da cidade em revelar atores, iniciada  na década de 60 com o lendário Delorges Caminha, passando pelo Alma Livre, nascido nos corredores do Colégio Cecy Leite Costa, nos anos 80, até a cena atual com destaques para os grupos Timbre de Galo e Cia da Cidade.

No currículo que levou o estudante a conquistar as três edições do Espaço Cênico, consta um curso de formação de ator e algumas oficinas, mas sua principal escola está na própria família. Ainda criança, ele a irmã Dandara, dois anos mais nova, incentivados pelos pais, deixavam de lado as brincadeiras tradicionais, para encenarem histórias dos livros infantis. Roupas velhas, tecidos, móveis, e uma infinidade de bugigangas, ganhavam vida na imaginação dos dois e passavam a fazer parte de cenários e figurinos.  Depois de pronta, a peça circulava como uma espécie de  turnê pelas casas dos tios, primos e avós. A iniciativa virou costume na família. “Nas nossas festas em casa, todos são desafiados a fazer alguma interpretação. É uma brincadeira que acaba estimulando o envolvimento com o teatro” revela o jovem ator.

A participação da família não ficou restrita apenas na fase da infância. Em dia de apresentação a correria é geral na casa. A mãe, Lizete Inês, carrega cenários, monta os figurinos e acompanha a passagem de texto. Quando Deméter está no palco, a irmã Dandara, de apenas 14 anos, é quem comanda a luz. “Fico mais nervosa vendo ele do que atuando” revela.  Outra incentivo importante vem da tia Lourdes Bernardete Brum Ghidini, coordenadora de um grupo de teatro na escola São Luiz Gonzaga.

Paixão e prazer    

Estudante do primeiro ano do ensino médio na escola Protásio Alves, Deméter divide a paixão de atuar com o prazer de ler e escrever. Na segunda edição do festival, escreveu e dirigiu a esquete  Para sempre, onde contava a trajetória do cantor Michael Jackson. Para o futuro, projeta a conclusão de um livro e também de um filme.“Essas linguagens contribuem para a minha formação de ator.Quando estou no palco me realizo, me sinto à vontade. Sinto falta quando passo muito tempo sem encenar” conta.

Tanta vontade de estar no palco, acabou contagiando o colega Augusto Spessato. O jovem que nunca imaginou estar em cena, participou ao lado do amigo nas três edições do Festival e não pensa em parar. “Na primeira vez, ele chegou falando do festival e disse que já estávamos inscritos. Faltando poucos segundos para entrarmos em cena, eu ainda pensava como ele havia me convencido a entrar nessa. É um perfeccionista. Exige mesmo. As coisas têm que sair conforme ensaiamos” brinca, ao comentar sobre a experiência de ser dirigido pelo colega.  
     
Reconhecimento da categoria

Apesar de realizar um teatro considerado amador, o trabalho de Deméter vem recebendo elogios de atores experientes. Jurado na segunda edição do Espaço Cênico, o pesquisador e ator do grupo Timbre de Galo, Edimar Alexandre Rezende chama a atenção para a vontade e o interesse do jovem ator em buscar novos conhecimentos para sua formação. “Além do talento natural, ele tem essa garra de buscar o novo, isso acaba refletindo no resultado quando está no palco. Muitas vezes só o talento não basta, essa busca é fundamental. Certamente ele vai longe” comenta.
Integrante do mesmo grupo, a atriz e produtora, Mara Cavalheiro, jurada da última edição, disse ter ficado surpresa não somente com a interpretação do jovem, mas também pelo fato de ele conceber praticamente todo o trabalho. “Tudo sai da cabeça dele, cenário, figurino, direção. Vejo ele como um ator pronto para a vida” afirma.

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