Cooperativismo se aperfeiçoa e reúne milhões no Estado e país

Modelo cooperativo é aplicado em diversos setores da economia. No Estado, as cooperativas agropecuárias correspondem a 59% do PIB do agronegócio

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Leonardo Andreoli/ON

O início geralmente é parecido. Um grupo de pessoas com objetivos em comum se une para resolver um problema coletivo e ai surge uma cooperativa. De saúde, de crédito, de agricultores, de coletores de materiais recicláveis e de qualquer grupo de pessoas com um interesse comum é possível se extrair um bom exemplo. O esforço conjunto faz com que muitas delas se fortaleçam e se tornem marcas de credibilidade e força em determinadas regiões ou mesmo no país. É o caso, por exemplo, do Sicredi e da Unimed, cooperativas em segmentos diferentes que são destaque nas áreas em que atuam. A região reúne diversos exemplos de cooperação que deram certo e foram fundamentais para mudar o perfil de alguns setores. E não são apenas grandes cooperativas que tem sucesso na atuação. Neste sábado, se comemora o Dia do Cooperativismo.
A Cooperativa Mista e de Trabalho Alternativa (Coonalter) é um exemplo de sucesso na região. As discussões sobre produção orgânica de alimentos que surgiram ainda na década de 1980 motivaram a criação da entidade. Desde lá, os mais de 170 produtores cooperados desenvolveram e aperfeiçoaram técnicas para a produção de alimentos de forma orgânica - sem uso de agrotóxicos e sem agressão ao meio ambiente.

Hoje os integrantes da Coonalter são certificados com o Selo Ecovida. O selo é fornecido por meio da certificação participativa, que além de garantir a qualidade do produto ecológico, permite o respeito e a valorização da cultura local através da aproximação de agricultores e consumidores e da construção de uma rede que congrega iniciativas de diferentes regiões. A rede Ecovida é auditada pelo Ministério da Agricultura e reconhecida para poder afirmar a qualidade ecológica de determinado produto e unidade produtiva.

A cooperativa é formada essencialmente por agricultores familiares dedicados ao cultivo de diversos tipos de alimento. Além de formas não agressivas de cultivo eles também costumam manter áreas de preservação em suas propriedades. Os produtores contam ainda com o apoio técnico do Centro de Tecnologias Alternativas Populares (Cetap).
Outro avanço possibilitado pela criação da cooperativa foi a inclusão dos alimentos orgânicos na alimentação de crianças de seis escolas de Passo Fundo. A entidade recebe recursos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), compra os alimentos dos produtores e os repassa às escolas para a produção da merenda.

Feira Ecológica
Cerca de 30 produtores da região também contam com um espaço específico para a venda de produtos diretamente aos consumidores finais. Aos sábados pela manhã eles realizam a venda de produtos orgânicos na Praça da Mãe, na Avenida Brasil, em frente ao Colégio Fagundes dos Reis. Sã

Mudança das cooperativas

A coordenadora do curso de especialização em Gestão de Negócios em Cooperativas da Universidade de Passo Fundo, Campus Sarandi, Sandra Regina Toledo dos Santos, explica a mudança no perfil das cooperativas. Segundo ela, hoje essas organizações buscam se adequar às mudanças que afetam o contexto da gestão das empresas levando em conta a qualificação profissional como premissa de um mundo globalizado. “No ambiente cooperativo, seja no setor de produção, de crédito, de serviços da saúde, de trabalhadores autônomos, agropecuário, de transporte, entre outros, as cooperativas estão inseridas em ambientes competitivos onde a sustentabilidade do negócio enseja procedimentos e técnicas de gestão que permitam resultados satisfatórios a todos os associados e colaboradores”, esclarece.

Sandra acrescenta que os padrões de atuação estabelecidos foram sendo moldados para que a estrutura interna permitisse uma atuação ampla e que os funcionários promovessem um melhor atendimento das demandas dos associados. “Os setores internos dessas organizações apresentam atualmente profissionais bem qualificados no que se refere a gestão dos recursos humanos, na área da gestão financeira e contábil, na área de atendimento externo aos associados, na negociação e mercado, educação cooperativa, controladoria e, mais recentemente, na gestão ambiental”, acrescenta. A qualificação dos profissionais que atuam nessas organizações permite aos gestores ter informações mais precisas no processo de tomada de decisão. Isso contribui para a interação entre as sinalizações do mercado externo e as reais condições da cooperativa.

Especialização

O curso de especialização em Gestão de Negócios em Cooperativas da UPF está na terceira edição. Ele é fruto de uma parceria estabelecida entre a universidade e a Organização das Cooperativas do Estado (OCERGS). As cooperativas indicam os candidatos à bolsa financeira concedida como apoio a qualificação em nível de especialização junto à instituição. “Nesse contexto, as carências percebidas são no sentido de capacitação nas áreas técnicas, como por exemplo, financeira, contábil e de apoio a gestão administrativa. Os resultados têm sido muito satisfatórios, pois num acompanhamento pós-curso, constatamos que muitos obtiveram promoções em suas áreas de atuação e que foram decorrentes da qualificação no segmento cooperativo”, esclarece.

A professora Sandra elenca dados divulgados por entidades sobre o cooperativismo no Estado:

Dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) em 2011:
Existem atualmente 728 cooperativas;
Mais de 1,9 milhão de associados;
Número de empregados superior a 49 mil.

Segundo levantamento da Fecoagro, de 2011, existem:
62 cooperativas agropecuárias filiadas;
20 mil colaboradores no sistema;
191.645 associados.

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O agronegócio corresponde a 10% do PIB estadual. As cooperativas agropecuárias correspondem a 59% do PIB do agronegócio. (Fecoagro, 2011)
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Dados da OCERGS de 2009:

Nos últimos 40 anos houve um aumento de 235 para 728 cooperativas registradas junto a entidade. Nos últimos 15 anos o movimento econômico alterou-se em média 250% nas cooperativas credenciadas.

O que é o cooperativismo?

A professora Sandra define que o cooperativismo é determinado por laços voltados ao bem-estar social, com a união de esforços entre os colaboradores e seus cooperados, não visando lucro, mas sim a prosperidade coletiva. A cooperativa surge como meio para a promoção dos interesses de um grupo de pessoas e com isso assume a responsabilidade de melhor gerir os recursos colocados a sua disposição.

Cooperativismo de crédito

O cooperativismo de crédito reúne 49,3 mil cooperativas e 184 milhões de associados no mundo. Deste total, o Brasil concentra 1,37 mil cooperativas e mais de 5,1 milhões de associados. As cooperativas de crédito são sociedades de pessoas e atuam como instituições financeiras, com forma e natureza jurídica próprias, sem fins lucrativos, autorizadas e fiscalizadas pelos organismos competentes em cada país. Elas se distinguem das demais instituições financeiras porque têm como principal objetivo a prestação de serviços aos seus associados, donos do empreendimento.
De acordo com informações da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), mais de 9 milhões de pessoas são associadas a mais de 6,6 mil cooperativas, que empregam 298,1 mil trabalhadores - um incremento de 8,8% em relação a 2009. Os segmentos ligados ao cooperativismo exportaram, no ano passado, US$ 4.417 bilhões, representando um crescimento na ordem de 21,7%.
Em 2010, o cooperativismo de crédito atingiu um crescimento de 60% em seus ativos, se comparados a 2009, alcançando um desempenho recorde de R$ 13,1 bilhões de patrimônio líquido, R$ 68,7 bilhões no total de ativos e R$ 30,1 bilhões de depósitos. O Sicredi, considerado um dos principais sistemas de cooperativas de crédito do país e da América Latina, encerrou 2010 com 1,7 milhão de associados e mais de 1,1 mil pontos de atendimento em 11 estados brasileiros.

Sobre o Sicredi

O Sicredi é um conjunto de 120 cooperativas de crédito, integradas horizontal e verticalmente. A integração horizontal representa a rede de unidades de atendimento (mais de 1,1 mil unidades de atendimento), distribuídas em 11 estados - 881 municípios. No processo de integração vertical, as cooperativas estão organizadas em cinco cooperativas centrais, uma confederação, uma fundação e um banco cooperativo, que controla as empresas específicas que atuam na distribuição de seguros, administração de cartões e de consórcios.

No final da década de 1960, a medicina assistencial no Brasil passou por uma série de mudanças. Além da queda no padrão de atendimento, as mudanças levaram ao surgimento de seguradoras de saúde, à mercantilização da medicina e à proletarização do profissional médico, que ficava impedido de exercer com liberdade e dignidade a atividade liberal. Neste contexto surgiu a primeira cooperativa de trabalho na área de medicina do país e da América: a União dos Médicos – Unimed.
A nova experiência cooperativista nasceu da iniciativa do ginecologista obstetra Edmundo Castilho e de um grupo de médicos que queria evitar a intermediação das empresas, respeitando a autonomia dos profissionais e o atendimento em consultório. Também desejavam oferecer a mesma qualidade de assistência aos diferentes níveis existentes nas empresas.

106 mil cooperados

Atualmente o Sistema Unimed tem 32% de participação no mercado nacional de planos de saúde, atendendo 15,1 milhões de clientes. São 377 cooperativas médicas com abrangência em 74,9% do território nacional, nas quais 106 mil médicos cooperados desenvolvem suas atividades. A Unimed é hoje um modelo para a saúde do novo milênio.
Paralelamente, a Unimed busca lançar mão de estratégias inovadoras para vencer grandes desafios, como a alta sinistralidade do setor e o elevado custo da saúde. Para o futuro, almeja concretizar a medicina para a felicidade; o respeito pela diversidade; e a união e a confiança como filosofia de vida. Além de continuar sendo a melhor opção naquilo que oferece: assistência médica humanizada, ética e de qualidade. Neste sentido, a Unimed, desenvolve produtos que dão acesso a uma parcela cada vez maior da população aos planos de saúde. Também promove ações sociais que melhoram as condições de vida das comunidades onde as cooperativas médicas estão inseridas; atividades de promoção e prevenção a saúde e valorização do trabalho médico; e também a adequação do modelo de negócio e defesa do funcionamento da saúde supletiva.

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