Gelo no caminho da escola

Estudantes do distrito de São Roque enfrentam as fortes geadas no trajeto até o educandário

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Gerson Lopes/ON

Enquanto aguarda o ônibus para estudar na escola fundada pelo bisavô, na localidade de São Roque, interior de Passo Fundo, a aluna Gabriele Zanotto do Amaral, 11 anos, sofre com as temperaturas próximas de zero grau, em compensação, aproveita para admirar a paisagem complemente coberta pela geada. O cenário característico de países da Europa já virou rotina na vida dos 75 alunos da escola estadual de ensino fundamental Abhramo Ângelo Zanotto. Com o frio das últimas semanas, campos, casas, lavouras e matas amanhecem brancos. Entre a igreja, onde acontece o desembarque do ônibus, por volta das 7h20min, até o educandário, os estudantes percorrem a pé um caminho de aproximadamente 600 metros de puro gelo. - É muito frio, a gente sofre bastante, mas também é bonito ver tudo branquinho assim” diz Gabriela.  

Apesar da beleza do lugar, o passo para chegar à escola é apressado. Protegidos com casacos, luvas e enrolados em mantas de lã, quase não há tempo nem muita disposição para colocar a conversa em dia. Moradora do bairro Planaltina, a aluna da 6ª série, Milena Trindade Antunes, tem apenas 12 anos, mas fala com a experiência de quem conhece bem os rigores da estação. Diariamente ela cumpre um ritual, que inclui sair da cama por volta das 6h30min, para não perder o ônibus. “Por volta das 7h10min, já estou na parada. Apesar da beleza do inverno, com o frio fica bem mais difícil. Não dá vontade de sair, tem ainda o problema das gripes. Prefiro o verão” afirma.

Além do comportamento, a baixa temperatura também altera a rotina das aulas. Com a quadra coberta pela geada, os tradicionais jogos de futsal e vôlei nos períodos de educação física são substituídos por atividades recreativas. Como as janelas do prédio estão no lado oposto ao sol, o frio se mantém dentro da sala durante todo o dia. Para amenizar a sensação térmica e diminuir as queixas dos alunos, principalmente de dores nos pés e nas mãos, algumas aulas acontecem ao ar livre, mas somente em condições especiais. “O sol tem que ser forte e não pode ter vento. Aí é melhor do que estar dentro da sala” diz a coordenadora pedagógica Lisiane Khiarello.

O inverno também reflete na cozinha. Funcionária há sete anos da escola, a merendeira Vânia Feltes, 33 anos, fala com autoridade sobre o apetite das crianças durante a estação.  “O frio aumento em até 40% o consumo de alimentos. O cardápio passa a ter mais comidas salgadas e quentes, como sopas, e muitos cremes, feijão, lentilha. Tem que ser assim pra poder esquentar e resistir” garante.

Apesar das dificuldades provocadas pelo frio e também pela distância até a escola, a professora de língua portuguesa, Tânia Moreira da Silva, diz que o índice de presença de alunos, principalmente no turno da manhã, quando as temperaturas chegam próximas de zero grau, ou até mesmo são negativas, se mantém durante o período mais rigoroso do inverno. Segundo ela, a ausência costuma ser maior em dias de chuva devido à situação das estradas no interior.

Onde fica
Distante aproximadamente 10 quilômetros do centro da cidade, próximo à Roselândia, o distrito de São Roque conta com uma população de aproximadamente 2.500 habitantes.

Escola

A escola estadual de ensino fundamental Abhramo Ângelo Zanotto completou no mês de março 50 anos de existência. A data foi comemorada com várias atividades.  O educandário conta atualmente com 75 alunos divididos nos turnos da manhã e tarde. O trabalho é realizado por oito professores e dois funcionários.
 

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