Gritos, assovios e muita empolgação que vinha de rostos jovens já anunciavam o clima da noite. A atmosfera da Lona Vermelha é diferente das outras tendas: a iluminação cênica incide em raios no palco, a fumaça do gelo seco torna o ambiente embaçado. E nesse cenário, aparecem os cartunistas e quadrinistas gêmeos mais ilustres do País: Paulo e Chico Caruso; Fábio Bá e Gabriel Moon, reunidos para o Encontro com os Gêmeos na segunda noite da Jornight, nesta quarta-feira, durante a 14ª Jornada Nacional de Literatura. Os primeiros recheiam as mais importantes publicações nacionais com suas caricaturas de políticos e figuras públicas, e ainda por cima são músicos. Os segundos são quadrinistas ganhadores do prêmio americano Eisner e do Prêmio Jabuti de melhor livro didático para a adaptação de “O Alienista”, de Machado de Assis.
Os irmãos Bá e Moon abriram o debate contando ao público como começaram a desenhar juntos desde a infância. E de que modo desenvolveram esse trabalho até decidirem fazer histórias para adultos, com temáticas do cotidiano que podem envolver frustrações amorosas, amizade, trabalho. “Muita gente identificava os quadrinhos apenas com histórias infantis, mesmo na faculdade de arte onde estudamos. Começamos a fazer nosso fanzine 10 Pãezinhos para provar o contrário”, contou Fábio. “Nós nos aguentamos todo dia: trabalhamos juntos, no mesmo estúdio. Mas sempre foi bom ter um irmão para falar se o desenho estava horrível ou bom. Escrever e desenhar são atos geralmente muito solitários.”
O trabalho conjunto cresceu, ganhou contornos autorais e reconhecimento mundial. “Hoje, o mercado de quadrinhos está em expansão, há interesse por parte do público e muitas editoras especializadas. Basta que os autores continuem fazendo boas histórias para manter esse interesse.” Mas Gabriel acrescentou que até hoje é difícil viver de fazer quadrinhos, apesar de o mercado de desenho e ilustrações ser muito mais amplo, possibilitando outros trabalhos que podem ser conciliados com o fazer de histórias longas, que costumam demorar meses ou anos para ficar prontas.
Se Gabriel e Fábio podem ser reconhecidos individualmente pelos cabelos e vozes diferentes, as semelhanças totais dos Caruso são desconcertantes. Eles começaram a sua apresentação dizendo juntos frases ritmadas sobre como costumam ser confundidos. “Não somos clones”, reforçaram, provocando risos na plateia. Bem humorados, também contaram sobre como começaram a desenhar juntos, com muito incentivo da família. Mas diferentemente dos gêmeos Fabio e Gabriel, sua carreira ficou mais concentrada em ilustrações, e coletâneas no caso de Paulo, ao invés de longas histórias em quadrinhos. Paulo disse que levou dez anos para conseguir publicar uma graphic novel que escreveu na juventude – depois disso, acabou voltando a trabalhar para a imprensa. “Eu sempre fui preguiçoso para desenhar longas histórias em quadrinhos”, brincou Chico. Paulo mostrou alguns de seus desenhos, que estão expostos no Centro de Eventos, junto aos de Aroeira.
Depois de uma rodada de perguntas do público, os irmãos Caruso mostraram toda a sua versatilidade artística com o Conjunto Nacional – a banda que também tem o cartunista Aroeira no saxofone. Com uma base jazzística, eles apresentaram números impagáveis, fazendo caricaturas musicais de políticos – assim como no papel. Pode ser um pente para representar o bigode do Sarney, uma imitação perfeita da voz de Lula ou um rap engraçadíssimo para falar sobre Kadafi.