O ritmo da cidadania

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O estudante Diego Chaise Carapeços, 12 anos, que até bem pouco tempo atrás costumava improvisar em casa, instrumentos musicais utilizando latas e outros objetos, agora tira som de marimba, xilofone e bateria; já consegue ler algumas notas na partitura e começa a ensaiar a interpretação de uma música em grupo. A mudança aconteceu depois que ele passou a freqüentar o projeto A percussão como possibilidade de integração da música com a comunidade, desenvolvido pela faculdade de música da Universidade de Passo Fundo.    

Destinado  para crianças com idade entre oito e 12 anos, o projeto, totalmente gratuito, funciona há seis meses, na sala de percussão da Faculdade de Artes e Comunicação, sob a batuta do professor Sandro Cartier. Atualmente o grupo é formado por 10 alunos, mas há vagas disponíveis para quem tiver interesse.

Desde que descobriu o projeto, a estudante Ana Luisa Teixeira da Silva, 12 anos, não só fez questão de participar, como tratou de trazer os ex-colegas da escola Menino Deus, onde estudava. Já nas primeiras aulas, despertou o interesse pela bateria e não se afastou mais do instrumento. “Eu toco um pouco de violão, mas agora estou dividida entre ele e a bateria” conta. Nem mesmo quando está em casa, distante do instrumento, ela  deixa de realizar os exercícios recomendados pelo professor. “Bato nas pernas, fazendo a contagem do tempo,  e a até mesmo no guarda-roupa”, diz olhando para a irmã, que confirma sorrindo, enquanto registra a entrevista usando um  celular.

A cada aula, sempre às quintas-feiras, com duração aproximada de uma hora e meia, as crianças entram em contato com a percussão erudita,  cultura popular, recebem informações sobre a história da música, dos instrumentos, conhecem composições e compositores. Também interpretam partituras e aprendem noções de ritmo, harmonia e melodia.

Com longa experiência em projetos comunitários, Cartier explica que o aprendizado da música acaba agregando uma série de elementos importantes na formação da criança. Em razão disso, a iniciativa, segundo ele, prioriza o desenvolvimento de aspectos como  a sensibilidade, postura corporal, a amizade e a noção do trabalho coletivo. “Nossa preocupação é com a formação do ser humano como um todo. Através da música, temos essa possibilidade. Durante a interpretação de um tema em grupo, há momentos de tocar e também  de fazer silêncio para ouvir o outro. Assim, a música vai surgindo. Isso vale para as situações do dia a dia” afirma.

Cartier destaca ainda que uma das conseqüências do aprendizado será a formação de um público mais crítico, interessado em música de qualidade e, em condições de entender um recital. O projeto também serve de laboratório para os alunos  da faculdade  de música. Atualmente no 4º Semestre do curso, o acadêmico Mateus Zanella Chaves comanda as aulas com a criançada, sob o olhar atento de Cartier. Para ele, é a oportunidade de colocar em prática o conhecimento obtido em sala de aula. Há dois meses no projeto, o estudante se diz surpreso com a participação e o interesse dos alunos. “Eles se sentem desafiados quando aprendem algo novo. Na aula seguinte, já demonstram domínio do exercício, passam a semana toda estudando em casa, isso é gratificante” afirma.

Chaves também chama a atenção para o aspecto social do projeto ao valorizar o coletivo. Durante uma interpretação, afirma ele, cada criança dá sua colaboração tocando seu instrumento e percebe a importância que tem para o grupo. “O aluno se sente valorizado e responsável. Ele sabe se faltar a aula, vai prejudicar o conjunto, aprende noções de cidadania” comenta.

Adultos

O projeto, vinculado à vice-reitoria de extensão da UPF,  abre espaço para o público adulto. As aulas, gratuitas,  acontecem todas as quartas, das 14h às 16h no mesmo local. Segundo Cartier, a turma conta com a presença de diversos estudantes da Argentina e do México que realizam intercâmbio em Passo Fundo. Com a participação no projeto, eles estão tendo a oportunidade de conhecer a riqueza musical brasileira, passando por ritmos como o samba, baião, maracatu, além dos principais compositores e obras. Interessados em participar do projeto podem obter mais informações na Faculdade de Artes e Comunicação da UPF,  através do telefone 3316.8183.

 

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