Os 200 estudantes do Ciep do bairro Bom Jesus tiveram as aulas suspensas nesta sexta-feira, em razão do vandalismo. Professores, funcionários e alunos chegaram de manhã cedo na escola e encontraram as fechaduras das portas e cadeados danificados, impossibilitando o acesso ao interior do prédio. A ação, ocorrida provavelmente durante a madrugada, não poupou nem mesmo o jardim na parte externa. Diversas plantas foram arrancadas e quebradas. Parte de um corrimão da escada também ficou danificado.
Para impedir a entrada na escola, os vândalos colocaram pedaços de palito no miolo das fechaduras das três portas de acesso. Segundo a diretora, Sely Feja, esse tipo de ação se tornou rotina e vem se repetindo há pelo menos dois meses. “Todos os dias acontece a mesma coisa. Eles entopem as fechaduras. É preciso desmontar o miolo para retirar os objetos” explica. Como a operação é demorada, os trabalhos iniciam com pelo menos 30 minutos de atraso.
Na manhã de ontem, os funcionários não conseguiram reparar o dano e as aulas foram suspensas nos turnos da manhã e tarde. Sely revela que somente nos últimos 60 dias, seis ocorrências já foram registradas. Todas elas denunciando estragos no prédio. As marcas estão em dezenas de vidros quebrados, paredes pichadas e pedaços de janelas arrancadas. Recentemente, parte da tela da cerca, instalada para proteger o pátio, foi furtada e alguns palanques de concretos quebrados.
“Alguém tem que tomar uma providência, não é mais possível continuar da maneira como está. Temos vários projetos interessantes, como a Escola Digital, não podemos conviver com uma situação de violência” desabafa a diretora.
A partir da ação de ontem, a coordenadora da 7ª CRE, Marlene Silvestrim, anunciou algumas medidas para tentar reverter um cenário de violência que já se arrasta por vários anos. Uma delas será a presença mais constantes de viaturas da Brigada Militar, principalmente no período da noite. Marlene também aposta no trabalho de mediação que já vem sendo realizado pelo Comitê de Prevenção à Violência. “ Conversei com comando da Brigada que garantiu o aumento do policiamento no local. Também conversaremos com a direção da escola e com a comunidade, que precisa assumir aquele espaço” diz. Marlene chama a atenção para o fato de que, enquanto enfrenta problemas de violência, o Ciep é uma das três escolas de Passo Fundo inscritas no programa Mais Educação, do Governo Federal. Recentemente recebeu duas lousas digitais e 10 laptops para o aprendizado de informática. O educandário desenvolve ainda, diversas oficinas, entre elas, teatro e marcenaria. “A escola tem um olhar especial do Governo Federal, existe uma dificuldade de relação entre direção e comunidade que precisa ser resolvido” afirma.
“Aqui não é fácil”
Aos 61 anos, o sargento reformado da Brigada Militar, Nelson R dos Santos, conhece de perto os problemas enfrentados no Ciep. Há cinco anos, ele cumpre uma escala de serviço de segunda a sexta-feira, das 7h às 15horas. Em meia década de trabalho, vivenciou dezenas de situações de violência. Em duas delas, conseguiu desarmar dois estudantes armados com facas. Por várias, vezes pensou em largar o trabalho, mas foi incentivado a continuar por falta de substituto. “Já pedi para sair diversas vezes, mas não tem ninguém para colocar no meu lugar. Ninguém quer saber. Aqui não é fácil. Já tirei faca até de uma menina” afirma.