O homem aprendeu a escrever há 4 mil anos. Há muito mais tempo, porém, a criaturinha está nesse planeta - e, convenhamos, há alguns milhões ele tem suportado a ação do homo sapiens. Tudo tem um limite. O problema está sendo na forma de lidar com a conscientização desse limite. O lixo que já foi produzido – e coloque milhões de anos na conta - pede atenção, mas o foco deve estar na redução de consumo, em produzir a menor quantidade de resíduos, em consumir o necessário. Ou seja: a busca pela perfeição.
A lógica é fácil de compreender: quanto mais se produz, mais se consome e mais se produz... lixo. É essa lógica que também se tornou o grande quebra-cabeças a ser resolvido – principalmente quando o planeta atinge a pequena marca de 7 bilhões de potenciais consumidores – e, portanto, produtores de lixo.
A grande procura por soluções prova que existe o problema, e que esse não é simples. Responsável pela parte Executiva da Agenda 21 de Passo Fundo, Ademar Marques cita a sociedade atual e seu novo modelo de desenvolvimento como um precursor da exagerada produção de resíduos. “O modelo de desenvolvimento cria necessidade na população de consumir irresponsavelmente, não interessa os meios, desde que eu tenha, não compreendem que é finito”.
Campanhas são lançadas pelo mundo, movimentos contra a degradação, coleta seletiva do lixo e conferências. A lógica diz que seria o suficiente, mas elas não conseguem competir com um outro elemento da equação: a publicidade do comércio, o que torna o mundo um paradoxo de excessos e sustentabilidade.
Poucos conseguem entender o termo “meio ambiente”
É compreensível que o ser humano não se comprometa, afinal, novas tecnologias ligadas à praticidade do trabalho ou do lazer, da mão-de-obra e de lucro imediato, surgiram para diminuir o trabalho e agilizar, tornando elas mesmas protagonistas do meio. Marques compreende essa comodidade do ser, porém discorda e afirma que elas caminham na direção da insustentabilidade. “São essas tecnologias que devem preferencialmente ser evitadas, afinal, são as que mais conduzem ao consumo exagerado, ao consumo desnecessário, além de ser as mais poluentes e prejudiciais à saúde, são as que extraem com maior ferocidade os recursos naturais fundamentais a saúde do planeta e desmatam as áreas naturais”.
Para ativistas e especialistas, um dos grandes problemas ainda é fazer com que as pessoas despertem realmente para o problema, e não fiquem apenas no discurso. O meio ambiente ainda é abordado como algo distante da realidade, não temporal, mas espacial. É visto ainda como um conceito ensinado nas escolas – árvores, pássaros, água correndo – e não como parte do cotidiano: o meio em que o ser humano está inserido, a casa, as ruas, as roupas e o alimento. Para o ambientalista Carlos Eduardo Sander, o que falta é informação à população “Temos que pensar no eu como parte integrante, fazer um reflexo profundo, meio ambiente é fauna e flora, mas principalmente pertencimento”.
Necessidade do consumo parte do impulso
A população jovem é caracterizada como impulsiva e junto com essa impulsão, vem a necessidade de consumo – a roupa nova, o lanche mais gostoso, o novo celular lançado. Natural, uma fase de descobertas, de necessidades supérfluas. Como afirma Marques, “...os jovens têm mais consciência, mas é contraditório, são jovens, impulsivos. Mas acredito que serão preservadores ao adquirirem maturidade.”
Kajiani de Meira, 18 ano, é representante dessa ala jovem – consumista, portanto – porém não consciente. “Quando compro é porque busco suprir uma necessidade minha, e nem me passa pela cabeça onde ela vai parar ou de onde ela veio” conclui. Jovens como Kajiani, contudo, não são amostra única do grupo. Prova concreta são os relatos estudantes Luis Eduardo Meneghetti e Clarissa Medeiros.
Luis Eduardo, 21 anos, acredita que “o consumo responsável é possível sim, quando se tem a consciência da necessidade do que você está consumindo. Ter noção do que você está investindo nesse produto faz com que esse consumo seja correto”. Clarissa Medeiros segue pelo mesmo caminho. “É fundamental para a formação cidadã e humana ver o mundo com outros olhos, com vários olhos na verdade”.
E é essa geração global que está prestes a assumir as rédeas: informados e conscientes, ainda não praticantes. São o retrato do velho slogan de “donos do amanhã”. Tudo bem, era a população jovem que faria o mundo mudar e ser salvo há duas ou três gerações. Mas sempre há tempo para começar... enquanto houver tempo.
* Alunas de Jornalismo Experimental da Faculdade de Jornalismo da UPF