O melhor jeito de enxergar

Museu de Artes Visuais encerra ano de intensas atividades com grupo de alunos da Associação Passo-Fundense de Cegos

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    Se você jamais tivesse aberto os olhos, saberia o que é arte? A pergunta aparentemente simples encontra resposta numa sala nos fundos do Museu de Artes Visuais, e se repete todas as tardes de quarta-feira. É lá onde acontecem os encontros semanais dos participantes da Associação Passo-Fundense de Cegos para a oficina de exploração tridimensional realizada pelo MAVRS através do projeto Museu Especial. Ministrada por Margarida Pantaleão, professora do curso de Artes da UPF e coordenadora de ação pedagógica dos Museus, a atividade teve encerramento na última quarta-feira, 14, e já deixa saudades. “Toda essa experiência ao longo do ano foi inusitada tanto para eles quanto para mim, pois mesmo sendo mestre em Artes Visuais nunca havia trabalhado com cegos. Foi algo que me desafiou e me conquistou ao mesmo tempo”, conta a professora, revelando também ter aprendido muito com as aulas.

    O primeiro aprendizado com os “alunos” é o bom-humor e a interação. “É impressionante o modo como eles se relacionam, brincam muito, estão sempre com um bom astral. Por outro lado, a concentração e a disponibilidade deles em todos os momentos e para todas as propostas é algo maravilhoso, mesmo com todas as dificuldades”, acrescenta Margarida, que a cada encontro traz uma nova proposta de trabalho, sempre relacionada à arte e principalmente à percepção que cada um possui a respeito dela. “Acredito que o desenvolvimento perceptivo se desenvolve através de experiências e quanto mais diferenciadas elas forem, mais ele se amplia. A partir da análise individual de cada participante em cada um dos encontros, foi possível identificar que eles constituíram critérios próprios em relação às formas, texturas, obras e elementos apresentados de forma ampla e significativa”, observa.

       Explorando materiais multissensoriais, nos quais os participantes se aproveitam de sentidos como o tato e o olfato para construir imagens e compreender a arte, a oficina se baseia em metodologias contemporâneas do ensino da arte. “Foi uma constante pesquisa de referenciais teóricos que pudessem dar conta do tema, inclusive nos provocando a criar métodos e processos, já que se trata de uma área nova não apenas no MAVRS, mas em todo o Brasil”. A parceria entre o museu e a APACE também se estende às visitas guiadas às exposições realizadas durante o ano, e a continuidade da oficina é incerta em função dos custos necessários para a realização de cada encontro. São materiais simples como quadros, relógios, celulares, argila, massa de pão, galhos e flores, mas que ganham um rico significado ao tocarem as mãos e despertarem os sentidos daqueles que trocam a visão por uma profunda sensibilidade e por vezes enxergam feito mais ninguém. E caso ainda tenha dúvidas sobre a resposta daquela pergunta - se você jamais tivesse aberto os olhos, saberia o que é arte? -, eles responderiam com toda a convicção: sim, você saberia.

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