Acredite! Ele(s) existe(m)!

Dos convencionais aos radicais, as histórias de Papai Noel espalham-se pela cidade. Com todos eles, um desejo comum: fazer a alegria das crianças

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Milton usa barba branca, mas nunca andou num trenó. Na varanda do apartamento de Júlio, não há renas, mas um paraquedas estendido. Na casa de Douglas, ao invés de duendes, os pacotes com presentes são organizados por ele e amigos. Paulo nunca desceu por uma chaminé, mas enfrentar lugares altos não é problema para ele. Mesmo com tantas diferenças, todos eles têm uma coisa em comum: são Papais Noéis.

Uma rápida busca na internet e muitas versões para o surgimento do bom velhinho na tradição natalina podem ser encontradas. Talvez a mais aceita, principalmente entre os católicos, está ligada a história de São Nicolau. Na tradição católica, o bispo Nicolau, que nasceu na Turquia, é conhecido pela sua generosidade. Conta-se que ao receber uma grande quantia em dinheiro em uma herança ele a dividiu com os pobres.

Mas não é essa a história que o aproximou do Natal e do surgimento do Papai Noel. Conta a lenda que naquela época, a segunda metade do século III, três moças não tinham dotes para oferecer no casamento como era costume. O pai delas chegou a aconselhá-las a prostituírem-se.  Para ajudar as mulheres, São Nicolau teria jogado três bolsas com dinheiro suficiente para os dotes das jovens pela janela da casa.

A figura do Papai Noel popularizou-se a partir da década de 1930 quando uma propaganda da Coca-Cola ajudou a difundir a imagem do bom velhinho com barba branca, roupa vermelha e o gorro. Até hoje essa é uma das vestimentas mais tradicionais utilizadas por papais noéis, embora se admita uma variedade de cores e estampas. Só não se admite papai Noel sem gorro.

Direto da família Noel
A brincadeira já dura 20 anos. Milton Issler Goelzer, 81anos, usou a farda vermelha pela primeira vez em 1981 para a festa de família. Vizinhos e amigos gostaram da ideia e desde lá ele se tornou o Papai Noel da família Goelzer e de muitas famílias da cidade. A barba branca é cuidada durante sei meses para que esteja perfeita no natal. “Sou muito orgulhoso do trabalho que faço”, revela o bom velhinho.

Além de festas familiares, de empresas e escolas, atualmente ele faz a alegria das crianças que visitam o Bella Cittá. Também já foi Papai Noel no Bourbon Passo Fundo e perdeu a conta de quantas crianças já abraçou, beijou, tirou foto, ouviu pedidos. Muitos pedidos. Ele admite que alguns ele nem sabe do que se trata em função dos nomes chineses e americanos como mesmo define. O Papai Noel é emotivo e muitas vezes já chegou em casa chorando. Entre os pedidos e a alegria das crianças e adultos muitos são emocionam o Noel. Todos recebem atenção, mas ele revela que quando uma pessoa idosa, ou com alguma deficiência física se aproxima ele dá atenção especial.

A Mamãe Noel é uma parceira de todos os natais. “Sempre tive o apoio da minha eterna namorada”, diz referindo-se a esposa Terezinha, de 82 anos. É ela quem agenda os horários do Papai Noel, que faz as roupas e também o ajuda a se vestir. Na família Goelzer todos se envolvem com o Natal. Até os netos mais velhos já ajudaram na entrega dos presentes.

Nada de trenó

O trenó movido a renas é um veículo cada vez menos utilizado pelo bom velhinho, pelo menos em Passo Fundo. O Papai Noel Douglas Alexandre da Luz, 38 anos, é um dos que gosta de inovar quando o assunto é transporte. O veículo utilizado por ele neste ano foi um triciclo. Na carona, ele fez a alegria das crianças dos bairros São José, Santo Antônio da Pedreira e Zacchia.

Toda história começou com o convite de um amigo, Ademir dos Santos, 32 anos. Ele preparava a festa de Natal do bairro e chamou Douglas para participar. “Sempre quis ser Papai Noel. É muito gratificante ver a alegria das crianças”, relata. Desde criança ele gosta do Natal e de toda a magia envolvida nesta época. “A gente fica adulto e vê como o Papai Noel faz a alegria das crianças. Quando eu era pequeno ficava esperando por ele. Eu cresci e a minha vontade sempre foi a de ser Papai Noel também”, conta.

Os momentos de alegria com a roupa vermelha, às vezes entram em conflito com desejos impossíveis de serem realizados. Nessas horas o velho Noel precisa ser forte, ou pelo menos demonstrar segurança para os pequenos. “Em 2010 teve uma menina de uns três anos que veio tirar foto comigo e fazer um pedido. Eu esperava que ela pedisse um brinquedo ou alguma outra coisa, mas ela pediu pra que eu trouxesse a mãe dela de volta”, lembra. Nessas horas, uma conversa ajuda a contornar a situação.

Há cada ano o Noel e os amigos recolhem e distribuem mais de mil brinquedos novos ou usados em bom estado. As crianças que podem, trocam um brinquedo usado por outro e assim a solidariedade é estimuladas desde cedo. Empresas e pessoas da comunidade também contribuem com doações.

Noel radical

Se um triciclo já é um veículo inusitado, o velhinho da barba branca caindo do céu empolga crianças e muitos adultos. Essa é a história do Papai Noel paraquedista Julio César de Oliveira, mais conhecido como Julinho, 54 anos. Há mais de 30 anos ele participa de festas de Natal em diversas cidades da região e a chegada dele é triunfal, com um salto de paraquedas.
A preocupação sempre foi a de ter uma roupa bonita, embora adequada a um salto. Nenhum detalhe é esquecido. O bom velhinho salta de luvas, touca, e amarra a barba para ela não atrapalhar a visão durante a queda. Muitas vezes o local escolhido para a festa de Natal não é o mais indicado para um pouso de paraquedas. Mesmo assim, ele faz questão de encarar o desafio pela alegria das crianças e de quem participa. “Gosto muito disso. Dá a sensação de dever cumprido. Nos municípios menores é comum as pessoas de mais idade participarem e se emocionarem com o salto. Também tem crianças que entregam cartinha ou o bico”, observa. Alguns pedidos comovem o bom velhinho. “Muitos pedem comida ou roupa. Procuro dar mais atenção quando vejo que a criança é tímida, tem medo ou é mais carente. Papai Noel não pode discriminar. Sempre me esforço para dar um toque a mais”, esclarece.

Alguns saltos já foram bem difíceis de ser executados, mas a experiência é fundamental. Em Barros Cassal teve um salto em um dia nublado e de vento contrário. Quando ele saltou do avião, não enxergava o local do pouso. Quando ele viu o local do pouso pensou que poderia abortar o salto e pousar em alguma local mais longe, porém mais seguro. No entanto ele preferiu chegar o mais perto possível da praça onde acontecia a festa para não decepcionar o público, e conseguiu pousar em uma rua bem próxima. “A barba ainda vou deixar ela crescer, mas a barriga pretendo que ela seja sempre postiça. Quero saltar muito mais ainda”, garante ele que já tem milhares de saltos na carreira.

O bom velhinho não tem medo de altura
Não ter medo de altura é um requisito básico para os noéis. As centenas de crianças que acompanham cada edição das Cantatas Natalinas promovidas pelo Colégio Notre Dame tem a chance de conhecer papais noéis corajosos. O Papai Noel Paulo Roberto Rodrigues, 43 anos, é um dos que há quatro anos desce as paredes da escola de rapel. Ele pratica o esporte há cinco anos, mas revela que a adrenalina de cada descida é única. “Na hora é como entrar em palco. Sempre dá um frio na barriga e ainda mais tem a emoção da Cantata e do público”, revela.

A roupa e a barba aumentam a dificuldade da descida. Alguma delas pode enroscar no oito – que segura a corda – e parar a descida. Felizmente nenhum incidente aconteceu durante esses anos de experiência como Papai Noel rapelista. Da infância, ele conta que sempre acreditou no Papai Noel, mas admite que o primeiro encontro com o Bom velhinho não foi dos melhores. “Estava ansioso pela chegada do Papai Noel, até que alguém bateu na porta dos fundos e eu fui ver quem era. Quando eu vi que era o Papai Noel sai correndo e chorando. Eu nunca tinha visto e me assustei. Foram me pegar embaixo da cama”, lembra. E a história se repete até hoje com as crianças. Algumas crianças têm medo, outras querem tirar foto. A passagem é rápida e não dá tempo do velho Noel receber pedidos, mesmo assim a satisfação garante a vontade de continuar. “Sempre que me convidarem eu quero participar”, garante.

Papai Noel pelo mundo
O nome do bom velhinho muda de país para país, confira como ele é chamado em alguns lugares:

Alemanha: Weihnachtsmann
Argentina, Colômbia, Espanha, Paraguai , Peru e Uruguai: Papá Noel
Chile: Viejito Pascuero
Croácia: Djed Mraz
Dinamarca: Julemanden
Estados Unidos / México: Santa Claus
Finlândia: Joulupukki
França: Père Noël
Itália: Babbo Natale
Inglaterra: Father Christmas
Portugal: Pai Natal
Reino Unido: Father Christmas
Rússia: Ded Moroz
Suécia: Jultomte

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