A cada ano, nove novos casos de resistência de biótipos de plantas daninhas são registrados no mundo. No Brasil, já são 26 casos relatados pela pesquisa. Os números foram apresentados durante o Workshop Latino-Americano sobre resistência de plantas daninhas a herbicidas, que reuniu mais de 500 pessoas no dia 10/05, na Universidade de Passo Fundo.
A explosão da agricultura brasileira aconteceu na década de 70, quando os pacotes de insumos funcionavam como “receita de bolo” na condução da lavoura. Muitos conceitos e práticas foram revistos desde então, mas um fator continua determinante para assegurar a produtividade da lavoura: o uso de herbicidas. “Não acredito que possa existir agricultura extensiva sem herbicidas. Acontece que a forma de usar os defensivos precisa ser reavaliada. Assim como a genética das culturas foi aprimorada, as plantas daninhas também evoluíram”, argumenta o pesquisador da Esalq/USP, Pedro Christoffoletti. Segundo ele, as culturas transgênicas acabaram padronizando o manejo na lavoura e esquecendo o princípio básico da natureza: a diversidade de espécies. “Quando a diversidade não ocorre através da rotação de culturas, ela se impõe através das plantas daninhas”, explica o pesquisador, destacando que a diversidade de manejo é a única forma de sobreviver na agricultura.
No mundo, são mais de 380 biótipos de resistência de plantas daninhas relatados. Considerando os principais mecanismos de ação utilizados nos herbicidas existem 40 casos de resistência a ACCase, 108 a ALS, 60 a antrazina e 22 a glifosato. O que mais preocupa os especialistas é a resistência crescente de espécies ao glifosato, herbicida de baixo custo e para o qual ainda não existe alternativa equivalente em preço e eficácia. “Não existe cultivo transgênico sem o glifosato. Verificamos algumas plantas daninhas que receberam 16 litros de glifosato e ainda rebrotaram. Em alguns casos, os produtores estão gastando 60 dólares a mais por hectare para controle das plantas daninhas em lavouras da Argentina”, conta o pesquisador da Universidade Nacional de Rosário, Daniel Tuesca.
Porém, engana-se quem pensa que o problema está apenas no uso repetido do glifosato. Os pesquisadores estão identificando vários casos de resistência múltipla, isto é, plantas daninhas com resistência simultânea aos três mecanismo de ação (glifosato, inibidores da ACCase e ALS). De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, Leandro Vargas, com a resistência múltipla, os produtores devem ficar atentos e alternar os herbicidas de acordo com o tipo de resistência presente na área. “Por exemplo, no caso de resistência simples do azevém, somente ao glifosato, pode-se utilizar na área os herbicidas inibidores da ALS ou da ACCase. Já nos casos de resistência múltipla, ou seja, ao glifosato e aos inibidores da ALS, somente os inibidorers da ACCase serão eficientes. Por outro lado, nos casos de resistência múltipla que envolva o glifosato e os inibidores da ACCase, somente os inibidores da ALS serão eficientes”, orienta Vargas.
Resistência de plantas daninhas é discutida em Passo Fundo
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