Todos os anos, novas opções em cultivares de trigo são postas no mercado. Atualmente, são mais de 30 cultivares a disposição dos triticultores,de diferentes classes comerciais e com diversos padrões de resposta à tecnologia de produção. Para a semeadura que começa agora nas regiões frias do Sul do Brasil, a Embrapa Trigo está com quatro novas cultivares de trigo: BRS 296, BRS Guamirim, BRS 327 e BRS Tarumã.
Para o pesquisador da Embrapa Trigo, Ricardo Lima de Castro, antes de escolher a cultivar de trigo, o produtor precisa ficar atento às exigências do mercado e às características região de cultivo. “É preciso seguir recomendações básicas da pesquisa, como fazer escalonamento nas épocas de semeadura, investir em cultivares de ciclos diferentes e seguir o zoneamento indicado para a região”, explica Castro, destacando que, no momento, a indústria demanda trigos da classe comercial pão, tendência que deve nortear a escolha do produtor: “Qualquer que seja a escolha, é fundamental olhar para o mercado, atendendo a quesitos como qualidade e estabilidade no trigo produzido. Sabemos que a qualidade final vai depender do clima, mas investir em trigo pão é o primeiro passo para um melhor retorno na liquidez da safra”.
A definição da cultivar precisa considerar, ainda, o investimento tecnológico que cada cultivar exige. Algumas cultivares, respondem ao investimento, com porte baixo que permite aumentar o volume de adubação nitrogenada (N), garantindo bom rendimento e deixando residual do adubo para a lavoura de verão. Mas se a capacidade de investimento for pequena, deve-se optar por cultivares mais rústicas, aptas a áreas de menor fertilidade e grande resistência a doenças.
Zoneamento
O zoneamento agrícola é um instrumento de auxílio à gestão de riscos climáticos na agricultura, que está sob a responsabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA. O zoneamento é disponibilizado por cultura, em cada estado, e indica para cada município, a melhor época de plantio das culturas nos diferentes tipos de solo e ciclos das cultivares. Esse trabalho é revisado anualmente e divulgado pelo MAPA em portarias publicadas no Diário Oficial da União a cada ano-safra, servindo de orientação para o crédito de custeio agrícola oficial, bem como o enquadramento no seguro rural privado e público (PROAGRO).
Na safra 2011, a época de semeadura de trigo para algumas regiões do Rio Grande do Sul havia sido antecipada, reduzindo a janela de plantio em cerca de 20 dias no final do período, fato que gerou preocupação entre produtores e agentes financeiros por envolver aspectos de seguro agrícola. Neste ano, a portaria do MAPA, de 29/03/12, foi revisada e ampliou o período de plantio, como, por exemplo, na Região Tritícola 1: cultivares grupos I e II podem ser semeadas de 21/05 a 10/07 (janela de 50 dias), e cultivares grupo III podem ser semeadas de 01/05 a 10/06 (janela de 40 dias). “No caso de plantio muito cedo, aumenta o risco de geada na floração. A antecipação de plantio, mesmo que, em certos aspectos, implique em maior potencial de rendimento e facilite a semeadura de soja no cedo, não pode ser exagerada em função das geadas, especialmente nas regiões mais elevadas e frias do sul do Brasil”, esclarece o agrometeorologista da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha.
Confira as características agronômicas das principais cultivares da Embrapa Trigo para a Região Sul
BRS Guamirim: trigo pão, porte baixo, ciclo superprecoce (125 dias). Boa resistência às principais doenças, com destaque para a moderada resistência à giberela. Na semeadura, evitar áreas mal drenadas ou com histórico de vírus do mosaico do trigo. Tem bom perfilhamento e rendimento de grãos médio de 3.700 kg/ha (potencial acima de 7.000 kg/ha em experimentação). BRS 296: Trigo doméstico, com baixo custo de produção em função da rusticidade. Melhor performance em relação às doenças entre as cultivares disponíveis no mercado, com destaque para resistência de planta adulta para ferrugem da folha. Opção rentável sob condição de baixo a médio investimento. Rendimento médio de 3.600 kg/ha (no ensaio estadual de cultivares, o rendimento chegou a 85 sacos/ha, sem a aplicação de fungicida). BRS 327: Trigo pão, com farinha branca e elevado PH. Ciclo precoce e moderada resistência às doenças. Apresenta melhor retorno associando rendimento de grãos (3.900 kg/ha) e qualidade. Trigo com estatura média/alta, suporta adubação de até 50 kg N/ha, doses maiores exigem uso de redutor de crescimento. BRS Tarumã: trigo destinado à integração lavoura-pecuária, com aptidão ao duplo propósito (pastejo e produção de grãos), com ciclo tardio (162 dias) que permite a semeadura antecipada, alta capacidade de perfilhamento, resistência ao pisoteio e bom rebrote. Rendimento de grãos médio de 3 mil kg/ha, com produção de forragem 30% superior à produção de matéria seca da aveia preta. Classe doméstica e resistência à ferrugem da folha. |