Um grande desafio. Assim pode ser definido o projeto de trabalho do jornal na sala de aula. É assim em qualquer jornal que se propõe a fazer este tipo de trabalho. E não tem sido diferente com o ON nas Escolas. A cada semana, o desafio de estar em uma escola, apresentando o jornal, mostrando como são feitos os textos, as atividades do jornalista. Porém, é importante lembrar que a preparação dos profissionais está ligada com este comprometimento com a inclusão do jornal no dia a dia dos estudantes. E para contribuir com isso, o curso de Jornalismo da UPF vem disponibilizando nos últimos anos uma disciplina optativa que se chama Comunicação e Educação. Trata-se de uma disciplina que os alunos optam ou não por cursar. É, então, uma disciplina optativa que é oferecida quando há procura por parte dos alunos. Entre as diversas possibilidades de escolha de optativas, no último ano, nos dois semestres, Comunicação e Educação foi eleita pelos alunos.
Para conhecer mais sobre o que é ensinado nessas aulas, o ON nas Escolas conversou com a professora da disciplina, a jornalista Maria Joana Chaise.
ON nas Escolas – Quais as habilidades que o aluno precisa desenvolver na disciplina?
Maria Joana Chaise – Comunicação e educação são dois campos de conhecimento muito próximos que se influenciam mutuamente. O campo da comunicação é regido por princípios constitucionais que orientam para a importância da educação, arte, cultura e informação (Art. 221 da Constituição da República). Na educação estão cada vez mais presentes as ferramentas utilizadas nos meios de comunicação, constituindo-se inclusive como instrumentos de aprendizado. A mídia, por sua vez, apresenta programações que poucas vezes atendem aos objetivos educativos, mesmo em canais destinados a esta finalidade. A partir desse contexto, a disciplina busca subsidiar os futuros jornalistas a compreenderem os papeis que podem desempenhar como interlocutores entre a sociedade e as empresas de comunicação, justamente com seu desempenho cotidiano. São esses profissionais que garantirão, por exemplo, a qualidade da programação e o exercício dos direitos das crianças e dos adolescentes, bem como a formação de uma audiência crítica e reflexiva. E é justamente esse o objetivo que norteia as discussões na disciplina.
ON – Como você vê a importância dos futuros jornalistas trabalharem como este tema?
MJC – Todas essas relações teóricas e mesmo práticas entre os campos da educação e da comunicação ainda estão em construção. Porém, é necessário que se pense sobre a formação de um receptor crítico. Esse pressuposto é básico e precisamos refletir sobre ele. Pode-se dizer que hoje a formação desse receptor crítico e habilidoso passa por repensar a prática profissional a partir do espectro de possibilidades da relação entre a educação e este mundo de mídia em que vivemos. É fundamental que os estudantes estejam inseridos nesse processo, assim como os educadores, os pesquisadores e comunicadores.
ON – Como você avalia a possibilidade (ou possibilidades) de uso do jornal na sala de aula em turmas do ensino fundamental?
MJC – Uma pesquisa no histórico de utilização do jornal impresso em sala de aula vai demonstrar que os periódicos sempre foram vistos como espaços de informação atualizada e cotidiana que poderiam subsidiar professores de diversas disciplinas, para além dos materiais didáticos comumente existentes nesse ambiente. Atualmente, essa perspectiva evoluiu muito. Quando você ensina um aluno a ler um jornal de forma crítica, ele passará a ‘ler’ qualquer mídia com esse mesmo olhar, um olhar mais atento e analítico. A leitura de um impresso também exige um pouco mais de tempo, raciocínio, imaginação, atenção. O leitor não fica passivo recebendo tudo pronto. É um trabalho diferente, e que precisa ser aprimorado, justamente porque precisamos de leitores mais atentos nas palavras, nas imagens e nas linguagens do mundo. Essa é a perspectiva que os estudos relacionados à educomunicação desenvolvem. Esse campo de pesquisas e intervenções é relativamente novo e muito abrangente. Tem como finalidade promover uma educação com a mídia, por meio dela e sobre ela, considerando as implicações deste processo no dia a dia da sociedade e também como esta sociedade interpreta as influências da mídia. No contexto educomunicativo, a mídia também é utilizada para exercer a cidadania com uma intenção educativa, desenvolvendo e implementando meios educomunicativos em espaços regidos por uma gestão democrática, porém tendo em vista o mercado. Ou seja, busca-se criar espaços midiáticos que possam garantir às novas gerações os conhecimentos e as habilidades indispensáveis para que se comuniquem com autonomia e autenticidade.