Em depoimento prestado quinta-feira na Delegacia da Polícia Federal de Passo Fundo, um professor de 27 anos, confirmou as suspeitas e assumiu a autoria da compra de duas remessas de aranhas e escorpiões, enviadas da Alemanha e Espanha. As encomendas foram interceptadas pelo sistema de Raios-x dos correios e encaminhadas ao Ibama. O professor revelou ter feito as compras através da internet, com a intenção de criar as aranhas e escorpiões como animais de estimação, e não para o comércio. Ele disse que não sabia da necessidade de autorização do Ibama para realizar este tipo de compra. Pelas duas remessas, teria investido entre 200 a 300 euros.
O envolvimento do professor começou a ser investigado em maio deste ano, a partir da apreensão de um caixa contendo oito escorpiões e três aranhas, enviada da cidade de Wenden, na Alemanha, para uma residência no bairro Petrópolis. Através do endereço do destinatário, agentes do Ibama foram ao local e o identificaram como responsável pelo recebimento. Encaminhado até o escritório do órgão, ele negou participação no esquema e disse ‘estar surpreso’.
Menos de um mês depois, funcionários dos correios interceptaram a segunda remessa. Uma caixa com 14 aranhas de diferentes tamanhos e espécies, destinada para o mesmo endereço. O pacote havia sido despachado no dia 16 de abril, da cidade espanhola de Gijon. Agentes do Ibama foram até a residência, mas não encontraram o professor. No mês de junho, uma denuncia anônima feita à Procuradoria Federal de Passo Fundo, apontou o mesmo professor como acusado. A Polícia Federal iniciou as investigações e, com ajuda internacional, identificou o responsável pelo envio da encomenda feita da Espanha. Responsável pelas investigações, o delegado Celso André Nenê dos Santos, disse que a PF iria encaminhar solicitação para que ele fosse interrogado. Já o professor, poderá ser indiciado pelo crime de introdução de espécie exótica no país, sem autorização do Ibama. A pena prevista é de três meses a um ano de detenção, além do pagamento de multa de R$ 2 mil, mais R$ 200 por cada animal apreendido.
Correios
A partir das apreensões realizadas nos últimos três meses, de animais e plantas exóticas encaminhadas da Europa para Passo Fundo, funcionários responsáveis pela operação do equipamento de Raios-x no Centro de Tratamento de Cartas e Encomendas dos Correios, redobraram a atenção na fiscalização. Coordenador de planejamento e qualidade, Luciano Bortoletti Corlassoli, afirma que a descoberta de objetos sem a documentação necessária para o transporte, acontece praticamente toda a semana no setor. Ele explica que a análise das encomendas no aparelho é feita por amostragem. Pelo aparelho, passam diariamente cerca de 1.300 objetos, que representam 30% do total de volumes.
Do exterior, medicamentos e suplementos alimentares, enviados principalmente dos Estados Unidos, Europa e China, lideram a lista, seguido de acessórios de armas, como lunetas e munição. Entre as encomendas enviadas de outros estados para Passo Fundo, uma delas em especial chama a atenção dos funcionários pela quantidade e freqüência: caixas contendo ovos de galo de rinha.
“Praticamente toda a semana, encontramos caixas com ovos. Elas são enviadas de diferentes lugares do país para municípios aqui da região norte. Desde o final do ano passado houve uma aumento significativo neste tipo de apreensão. Também encontramos muita embalagem contendo sementes de espécies variadas ” comenta Corlassoli. Após a constatação no aparelho, o funcionário se encarrega de acionar o órgão competente para dar a destinação correta do material.
Plantas carnívoras
Na quinta-feira, o Departamento de Florestas e Áreas Protegidas (Defap), encaminhou mais uma remessa de plantas ao Museu Zoobotânico Augusto Ruschi (Muzar), da UPF, para serem analisadas. Todo o material foi interceptado nos correios de Passo Fundo. Entre as espécies, três delas são consideradas carnívoras, originárias das regiões dos Estados Unidos, China e Austrália, além de outras, como Lança de São Jorge, enviada do Ceará, e bulbos. “Na verdade essas espécies são cultivadas e comercializadas aqui. As pessoas fazem a compra pela comodidade da internet, mas esquecem da autorização” comenta a estagiária do Herbário RS/PF, Kelen Scherer da Costa. Segundo ela, das sete espécies de cactus apreendidas recentemente, três delas eram nativas e quatro exóticas.