A previsão do tempo é incontestavelmente útil para as pessoas. Programar um passeio de final de semana, saber se é preciso levar um guarda-chuva ou um casaco a mais ao sair de casa são algumas das coisas que se pode decidir com as informações coletadas e analisadas por meteorologistas e observadores meteorológicos. Há, no entanto, muitos conceitos utilizados para informar essa previsão que nem sempre são completamente entendidos. No inverno, principalmente, a sensação térmica, as massas de ar, frentes meteorológicas e áreas de instabilidade podem confundir as pessoas. O agrometeorologista Gilberto Cunha, e o Observador Meteorológico da Embrapa Trigo de Passo Fundo Ivegndonei Sampaio explicam o significado desses termos e explicam porque prever o tempo é tão importante. Em duas partes, a reportagem explicará de forma resumida vários termos utilizados.
O avanço das tecnologias permitiu a melhoria da precisão das previsões climáticas, bem como facilitou o acesso a esse tipo de informação. De acordo com Gilberto Cunha a preocupação de entender o comportamento do tempo existe desde o surgimento do homem por questões de sobrevivência. No entanto, o início das previsões climáticas ocorreu por volta da segunda metade do século XIX. No Brasil, serviços desse tipo têm pouco mais de 100 anos. “O maior usuário da meteorologia hoje é a navegação aérea, por questões de segurança em pouso, definição de rotas, etc. A agricultura também é influenciada pelas previsões do tempo para definir momentos de plantio, colheita ou aplicação de agroquímicos, por exemplo. A navegação marítima e mesmo no dia-a-dia ela é muito utilizada”, explica o agrometeorologista. Além das tecnologias, os termos para definir determinados fenômenos foram se aprimorando e hoje são utilizados com naturalidade, mas nem sempre são dominados.
Frente meteorológica ou frente fria
A expressão é muito utilizada principalmente no inverno. De acordo com Cunha a teoria das frentes surgiu por volta de 1920, após a Primeira Guerra Mundial, na Escola Norueguesa de Meteorologia. O termo foi criado em uma analogia às frentes de batalha da guerra. Uma frente meteorológica é o ponto de encontro entre duas massas de ar com grandes dimensões e propriedades físicas, como temperatura e umidade, diferentes. Nesse encontro, as massas de ar se sobrepõem e geralmente causam mudanças climáticas bruscas, especialmente a chuva. “A massa de ar frio acaba empurrando o ar quente fazendo com que ele suba e forma essa frente de luta. É comum esse encontro causar ventos, formação de aglomerados de nuvens e chuva, por isso que associamos a entrada de massas de ar frio com chuva. Esse fenômeno é muito atuante principalmente no inverno”, esclarece Cunha.
Massas de ar
A definição do clima de uma determinada região é muito associada às características das massas de ar que chegam até ela. Segundo Cunha, devido à atmosfera ser dinâmica, existem centros de formação de massas de ar. Esses locais definem quais as principais características que elas terão. Elas podem ser formadas no oceano ou no continente, podem ser quentes ou frias, secas ou úmidas. “As massas de ar de origem nos polos em geral são frias, as equatoriais ou tropicais são quentes, as continentais em geral são secas e as marítimas úmidas. Em geral, as mudanças bruscas das condições do tempo estão muito associadas ao encontro dessas massas de ar. Quanto mais diferenças entre as propriedades físicas delas, maior a mudança”, acrescenta.
Sensação térmica
A temperatura mostrada pelos termômetros e a sentida pelas pessoas podem ser diferentes em decorrência das condições do tempo. Conforme o observador meteorológico da Embrapa Trigo Ivegndonei Sampaio o céu encoberto, a umidade relativa do ar e a velocidade do vento podem influenciar na sensação térmica. “Quanto mais vento tiver e temperaturas baixas, mais o corpo humano sente necessidade de estar agasalhado. Porque é o vento que tira o calor do corpo e isso dá a sensação de mais frio. A sensação térmica é a temperatura que o termômetro não registra”, explica.
Área de instabilidade
A instabilidade ou a estabilidade são associadas à física da atmosfera e às trocas de matéria e energia entre o ar e o meio. Ela também é influenciada pelo aquecimento intenso da atmosfera. “Por isso a formação de uma área de instabilidade é comum no verão, nas horas mais quentes do dia, e está associada com as diferenças de aquecimento na superfície”, explica Cunha. Instabilidade significa que o movimento de ar se dá de baixo para cima. Ao subir ele forma nuvens que podem ocasionar chuva. Com a ascensão do ar as nuvens formadas podem alcançar até 10 mil metros na atmosfera, onde as temperaturas chegam a -50ºC. Devido ás baixas temperaturas elas são propensas à formação de granizo pelo congelamento da água. “Tempo instável não é porque está mudando, mas decorre da física da atmosfera. Quando o tempo está instável ocorre mudanças em geral associada às chuvas devido ás correntes de ar ascendentes, formação de nuvens e baixa pressão na superfície e consequentemente chuva”. Reitera Cunha. Essas correntes de ar também são utilizadas por praticantes de voo livre, bem como pelas aves quando são observadas voando a grandes altitudes.
Amanhã
Na edição de amanhã você poderá entender porque em uma mesma cidade pode haver diferença de temperatura, além de acompanhar a explicação sobre a umidade relativa do ar, ciclones, formação de geada e efeito estufa.