Ditadura passada a limpo

Comitê da Verdade vai analisar violação dos direitos humanos em Passo Fundo durante o regime militar

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Uma das figuras centrais da luta contra a ditadura no Rio Grande do Sul imposta pelo regime militar, estará em Passo Fundo, sua terra natal, nesta sexta-feira, para instalação do Comitê Municipal da Verdade. A presença de João Carlos Bona Garcia, 66 anos, preso e exilado político em 1971, marca o  início do resgate de fatos de violação aos direitos humanos, ocorridos na cidade e região, durante um dos períodos mais nebulosos da história do Brasil.

Bona Garcia será palestrante do ato de instalação do Comitê, marcado para às 18h30, na Câmara de Vereadores. Logo em seguida, haverá exibição do filme “Em teu nome”, inspirado no livro Verás que um filho teu não foge à luta. De autoria dele, em parceria com Júlio Posenato, nesta obra, escrita em 1989, Bona narra memórias sobre sua atuação na militância secundaristas e partidos de esquerda, a passagem pela prisão, sessões de tortura, o momento em que deixou o país, na troca de 70 presos políticos pela libertação do embaixador suíço, Giovanni Enrico Bucher,  para viver um exílio de nove anos no Chile, Argélia  e França, até seu retorno ao Brasil em 1979.

O Comitê terá o papel de levantar fatos ocorridos durante o período da ditadura (1964-1984) em Passo Fundo e na região. Os dados serão organizados em relatórios e encaminhados à Comissão Nacional da Verdade. Um dos idealizadores da iniciativa, o vereador e historiador Juliano Roso (PC do B), afirma que a cidade teve momentos importantes, tanto para a implementação do regime militar no Estado, como na luta pelo fim da ditadura.

Um desses momentos, cita, foi a escolha de Passo Fundo pelo então governador Ildo Meneghetti, em 1º abril de 64, para instalação provisória do Palácio Piratini no quartel da Brigada Militar, como estratégia para consolidação do golpe. Entre outros fatos, Roso menciona ainda, a censura enfrentada pelos órgãos de imprensa, a retirada de militantes da cidade, o episódio que ficou conhecido como a Revolta dos Motoqueiros e a militância estudantil tanto em nível secundarista como universitário. “Esses foram alguns acontecimentos que devem ser lembrados” afirma.

Fundamental
Autor do livro Denuncismo & Censura nos meios de comunicação de Passo Fundo (1964 – 1978), o professor mestre em história, José Ernani de Almeida auxiliou na formatação do Comitê. Para ele, a iniciativa tem como papel fundamental o resgate da memória histórica. “Precisamos fazer esse processo para não repetirmos os mesmos erros do passado. Algumas páginas desse período ficaram em branco. É como estar lendo um livro e ter de pular algumas páginas” comenta. Além da Câmara de Vereadores e Executivo, o Comitê terá a participação de entidades educacionais, OAB e  Comissão dos Direitos Humanos.

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