OPINIÃO

Viva o povo brasileiro

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Recebi com um misto de orgulho e apreensão a tarefa de substituir temporariamente Gilberto Cunha, intelectual colunista e vice-presidente da Academia Passofundense de Letras, na página três da tiragem dos fins de semana do nosso jornal. Gilberto tem pautado assuntos reflexivos que exigem certo grau de cultura e, também por isso, é um autor desafiador, daqueles que faz a gente buscar mais informações, daqueles desbravadores de curiosidades. Sou de outro estilo de escrita, sou observador das reticências, sou analisador do cotidiano, sou do mundo das rotinas, sou da vida simples porque a entendo simples. Meu mundo médico fez-me conviver com vidas e mortes, mais vidas do que mortes e elas, as mortes, deram-me a clareza da finitude e da fugacidade das coisas.

Tudo é célere, rápido demais talvez e, ainda ontem jogava futebol e caprichava no drible e no enfeite para agradar meu pai a me observar da janela. Ainda ontem fazia a faxina da casa e cantava músicas românticas de Moacir Franco junto com minha mãe. Dessas convivências, irmão, primos e amigos, família, despreendi  levezas e bom humor. Sim, a vida é simples e pode ser divertida e virtuosa, desde que dominemos o instinto animal que nos habita tão logo deixemos a adolescência. Até esta, a adolescência, somos dóceis e cordatos, humanitários e grandiloqüentes, queremos paz e justiça social. Depois, adultos, percebemos as manhas e o jogo da vida como ela é. 

Talvez devesse eu ser mais erudito ou histórico, mais crítico ou científico, mais mordaz ou contundente. Mas, não. Não sou crítico contumaz, não aprecio julgamentos de construções coletivas como a construção política, por exemplo. Entendo o homem como ser absolutamente solitário e capaz de direcionar seus caminhos, jamais presos a desígnios definidos como é o que chamamos de destino. Entendo o homem como protagonista, ator principal nem que seja de sua própria existência e que encontra a cada esquina da vida uma bifurcação e sobre ela deverá decidir qual é a melhor estratégia, tal qual o inesquecível personagem de Morris West, Kiril Lakota, de As Sandálias do Pescador (1963), em que Kiril é escolhido para ser o novo papa.

Como Kiril é religioso e cientista entra num dilema excruciante entre abraçar a fé, a fonte de todas as respostas ou continuar a investigar como cientista que é. Kiril escolhe sua melhor opção e isso o faz feliz porque somente quem pode fazer escolhas pode ser realmente feliz. Todos os instantes fazemos escolhas e ao direcionar um lado da bifurcação implica abrir mão do outro lado. E é dessa aventura da escolha em sermos o que somos no dia-a-dia é que me ocupo ao escrever. Somos simples e iguais em decisões e indecisões e absolutamente solitários principalmente nas dores e lágrimas. Somos solitários na morte e nos desencantos. Mas podemos escolher porque assim é o homem, perfectível, melhorável. Escrevo para todas as almas que querem melhorar, para todos que almejam ser maiores do que são independentemente do tamanho que um já tenha, não para ensinar algo, pois nenhuma resposta tenho, mas para se pensar sobre a qualidade de nossas escolha.

É sobre o dilema de medirmos a nossa grandeza, se é que a temos e a possibilidade de alçarmos vôos maiores é que me debruço. Não encontrarei respostas, nem as quero. Somente quero morrer com a certeza de ter buscado o melhor do que pode ser, desejo secreto de todas as pessoas simples e corretas que nos rodeiam. São pessoas simples, das vilas, bem humoradas. São os românticos que pagam contas em prestações, são os que se emocionam com as realizações dos filhos, são os que escondem lágrimas e que se importam com imagem pública. São os nossos antecessores que nos legaram vergonhas e que construíram um Brasil magnânimo, país de um eterno futuro que deverá um dia ser presente. Há muitos que nos envergonham, mas a maioria merece abraços e vivas, viva o povo brasileiro.

PS. Aqui em Florianópolis onde acontece a 42ª Convenção Nacional da Unimed rimos das tiradas do jornalista, poeta e escritor José Neumânne Pinto. Com a escolha do tatu bola como mascote da copa descobrimos que é um animal em extinção, tal qual petista desempregado. Sobre esse escritor sugiro a leitura de seu livro “o que sei de Lula”.

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