Houve uma reunião esta semana na sede da Associação Médica do Planalto Médio em que os nossos candidatos à Prefeitura Municipal tiveram um tempo (escasso, é verdade) para expor suas principais idéias em relação às ações de saúde para o município. Deveriam acorrer ao evento um maior número de médicos dada a importância da ocasião. Mas, não. A participação foi...decepcionante. E depois a gente fica falando mal dos políticos. A gente não tem representatividade nem dentro da nossa casa.
É bem verdade que alguns estavam na labuta, que outros nem se deram conta desse importante encontro e que muitos fazem parte do grupo dos desencantados com os políticos e suas falas e promessas tão iguais. A intenção da Associação Médica era ouvir os planos em relação à Área da Saúde em Passo Fundo que apresenta gargalos importantes. Sabemos da falta de profissionais, de especialistas, que o Samu deveria ter médicos e enfermeiros dentro das unidades ambulantes e que na ausência destes a unidade nem deveria ser denominada CTI Móvel. Sabemos, também, da falta de plano de carreira para os profissionais. Sabemos da insuficiência de repasses das esferas federais e estaduais a complementar ao que o município já disponibiliza.
E, cá entre nós, repassar dois reais para uma consulta de clínica geral e dez reais para uma consulta de especialistas é algo que avilta o bom senso. Se não há grana (não há?) para bancar a universalização e gratuidade da saúde porque assinamos a última constituição? Ainda bem que o PT não a assinou porque essa é uma boa desculpa: não aplico o que está estabelecido porque não concordo. Outra questão é estabelecer a identidade do Hospital César Santos como hospital, clínica, ambulatório ou o quê. E saber se é interessante que o mesmo continue como autarquia municipal em épocas de Sistema Único de Saúde. Penso que deveríamos aumentar o número de oferta de vagas para as residências médicas nas áreas de Pediatria, Cardiologia, Neurologia e Clínica Geral e estabelecer convênio interessando os Hospitais da Cidade e São Vicente para que os residentes prestassem atenção ambulatorial sob supervisão resolvendo os referidos gargalos de atrasos em relação à demora do atendimento às consultas com especialistas. Deveria também o Hospital César Santos receber investimentos em seu parque tecnológico para atender a crescente demanda de exames.
Enfim, são algumas idéias que, por certo, já habitam os planos do futuro prefeito. Há também que condicionar os direitos dos cidadãos aos deveres dos mesmos. Para isso teríamos que criar os grupos dos hipertensos, diabéticos, obesos, tabagistas, enfim para que os mesmos recebessem periodicamente orientações médicas para o manejo domiciliar de suas patologias. Quem não comparecesse às reuniões, sem justificativas, perde direito à medicação. Assim, “simplinho”: tem direitos, mas tem deveres, também.
Uma referência do candidato Osvaldo Gomes chamou-me a atenção e intitula essa coluna. Diz o candidato que perpassou caminhos em sua vida que iniciaram em realizações individuais até realizações sociais a partir do momento em que prestou atenção ao universo social que permeava a vida de sua querida empregada doméstica. Disse que compreendeu que uma cidade somente seria boa se a fosse boa para todos, para o bem-bom e para o pobre. A vida é mesmo assim: a gente começa com a unidade familiar e vamos expandindo para idéias coletivas. Porém, já fizemos o inverso, ou seja, já lutamos por idéias, por lenços brancos ou colorados, pelo país, pelos partidos políticos. Até que, desiludidos, cinqüentões, lutamos pelas famílias e depois solitariamente lutamos por nós mesmos. É pena que uma categoria de tamanha importância social esteja enclausurada e que não participe sequer de sua vida comunitária, a não ser em estéreis opiniões de bar sobre o que deveria ser feito por este ou aquele político. Assim, ainda jovens, estamos na contramão. Mergulhados em nossos mundinhos estabelecemos a contemplação, como se o mundo externo às clínicas e hospitais não pertencessem a nossa alçada. Quando deveríamos estar de mãos dadas com o interesse coletivo vivemos a abstração e a idéia de que nascemos para ser uma coisa só –médicos, sem dar conta que ser médico é apenas uma parte de nós.
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