Natália Fávero/ON
As ações de cidadania, socialização, cultura e de qualificação profissional deram tão certo que a Secretaria Municipal de Segurança Pública de Passo Fundo pediu a prorrogação do Protejo por mais 12 meses ao Ministério da Justiça. O projeto destinado a jovens entre 15 e 24 anos completará um ano de atividades no município no mês de novembro. Este é um dos únicos projetos voltado especificamente aos adolescentes que, na maioria das vezes, ficam invisíveis na sociedade por ser um público que não é nem criança e nem adulto.
O projeto é destinado para jovens que estejam em situações de egressos do sistema prisional, de cumprimento de medidas sócio-educativas ou de penas alternativas, em situação de rua ou vítimas da criminalidade. Cerca de 160 jovens estão inscritos no Protejo e participam de oficinas como teatro, percussão, padaria, informática e capacitações de formação cidadã. As atividades acontecem no prédio do antigo Patronato, no bairro São José. Os integrantes gostam tanto das ações que eles acabam se deslocando de bairros distantes como Jaboticabal, Ipiranga, Zachia e Donária. Os jovens recebem um auxílio de R$ 100,00 por mês e vale transporte.
O projeto foi instituído pelo Governo Federal em 2007 e integra uma das ações do Pronasci (Programa Nacional de Segurança com Cidadania). Desenvolvido pelo Ministério da Justiça, é uma iniciativa inédita no enfrentamento à violência no país, pois articula políticas de segurança com ações sociais, prioriza a prevenção e busca atingir as causas que levam à violência, sem abrir mão das estratégias de ordenamento social e segurança pública. No município, o projeto é coordenado pela Secretaria Municipal de Segurança Pública.
O projeto termina em novembro e devido a sua importância e resultados positivos o município solicitou a prorrogação por mais um ano. Estima-se que o Ministério da Justiça remeta uma resposta no mês de outubro. Conforme a secretária de Segurança Pública, Estelita Salton, o principal objetivo é a prevenção e erradicação da violência. “O programa oferece uma nova oportunidade para jovens que moram em bairros considerados vulneráveis a violência. O Protejo mostra que há outras oportunidades na vida e que eles não precisam entrar no mundo do crime”, explicou a secretária.
Ritmos que embalam a vida
Na oficina de percussão ministrada pelo professor Marcelo Pimentel, os cerca de 70 alunos semanais conhecem e aprendem a tocar os principais ritmos da cultura brasileira: samba, maracatu, coco, samba de roda, capoeira, funk e hip hop. “A percussão abrange o ser humano de todas as idades. Trabalhamos ritmos brasileiros que contribuem para a cultura destes jovens”, frisou o professor.
As principais contribuições da percussão além da cultura são o respeito, a concentração e o trabalho em conjunto. A oficina requer estudo de técnica, atenção e alivia o estresse. O aluno Carlos Alberto da Silva Junior, de 18 anos começou há cerca de 1 ano e pretende seguir a profissão de músico. “Isto me dá ânimo para viver, traz uma mensagem de vida. Espero fazer uma faculdade de Música”, declarou o aluno.
O primeiro toque no mouse
Margarete Fortes da Silva, de 18 anos e Dionatan dos Santos da Costa, de 17 anos, nunca mais vão esquecer onde aprenderam a mexer com computador. Foi através da oficina de informática oferecida pelo projeto que estes dois jovens utilizaram pela primeira vez um mouse, um teclado e a totalidade de opções oferecidas por um computador. “Sempre tive curiosidade. No começo tinha até medo de mexer. Hoje já sei digitar e salvar os documentos”, revelou Margarete.
O instrutor de informática, Paulo Xavier, salientou que o mais importante da oficina é o lado social. “Além de preparar estes jovens para o mercado de trabalho, esta atividade ajuda na socialização”, declarou o instrutor.
Para estes jovens, o computador é muito mais que um instrumento de informática. O aluno Dionatan tem uma história familiar complicada e o projeto é um aliado para vencer as barreiras da vida. Através da oficina, ele aprendeu a utilizar o editor de texto Word e agora está escrevendo uma redação sobre a sociedade. As palavras ainda não são bem escritas e a leitura também não é muito clara. Dionatan tem 17 anos e está na 4ª série. Mas, o importante é que o computador inspirou ideias e uma vontade de expor seus sentimentos sobre o mundo lá fora. “No começo não sabia nem pegar no mouse. Foi meu primeiro contato com o computador. Acho importante fazer informática e quero aprender para trabalhar como caixa de mercado”, estimou o jovem.
“Piso no palco com um frio na barriga e a alegria no coração”
Esta é a sensação que Henrique dos Santos do Prado, de 15 anos, sente quando entra em cena. Ele é um dos alunos da oficina de teatro e há alguns meses estão ensaiando uma peça chamada Dom Romeu e suas seis Julietas, uma paródia da versão Romeu e Julieta de Willian Shakespeare. “Teatro é uma doação. É doar parte de mim para um personagem. Faço teatro desde os oito anos. Quando piso no palco me transformo”, revelou o ator.
Conforme o professor de teatro, Iussen Seelig, teatro é uma forma de expressão, uma arte completa que engloba todas as demais expressões como a moda, a música, arte, entre outras. “O teatro ajuda na socialização, no convívio com as demais pessoas. Aqui eles escutam, falam e se expressam. Se esta oficina mudar um dia da vida deles já valeu o projeto”, salientou o professor.
Oportunidade de vida
Conforme a psicóloga do Protejo, Daniela Milani e a assistente social, Laisa Souto este é um dos únicos projetos no município voltado para este público adolescente. O projeto iniciou com capacitações de formação cidadã abordando temas como Estatuto da Criança e do Adolescente, diversidade cultural, evolução da mulher no mercado de trabalho, direitos do consumidor, auto-imagem, entre outros. Neste momento, o Protejo está na segunda etapa que é colocar em prática a teoria obtida na primeira fase através de visitas em comunidades e oficinas. O projeto também está preparando estes jovens para o mercado de trabalho. “Em novembro começaremos a fazer os encaminhamentos e ensinaremos os alunos a elaborar o currículo”, disse Daniela.
Os resultados do projeto também refletem na equipe que atua com estes jovens. “Eu passo informações e eles me repassam a vivência deles. É uma troca de experiência. É muito bom ter o carinho deles, o abraço, criamos um vínculo. Queremos que eles cresçam e tenham sucesso na vida. Fico impressionada porque muitos deles não imaginam o talento que têm”, declarou a psicóloga.
Mostrar que oportunidades existem é um dos principais objetivos do programa. Segundo a assistente social, o projeto ajuda a evitar caminhos como o tráfico e outros crimes. “Os adolescentes não são nem crianças e nem adultos e muitas vezes ficam invisíveis na sociedade. O projeto faz com que eles sejam notados e que encontrem caminhos do bem”, frisou Laisa.
Protejo ensina o caminho do bem
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