Tempestade deixa rastro de destruição

Ventos superaram os 100Km/h e destelharam mais de cem casas em Passo Fundo entre a noite de terça e a madrugada de quarta-feira As rajadas do vento passaram dos 100 km/h. Desde a madrugada, a Defesa Civil municipal está distribuindo lonas aos atingidos

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Gerson Lopes e Leonardo Andreoli/ON

Ventos de até 102 km/h, além da chuva provocaram estragos em diversas regiões de Passo Fundo  no início da madrugada de quarta-feira. A tempestade iniciou por volta da meia-noite e durou cerca de uma hora. Nesse período, as rajadas destelharam pelo menos 100 residências (atingindo duas mil pessoas), derrubaram cerca de 25 árvores, 15 postes e diversas placas. Alguns estabelecimentos, principalmente postos de combustíveis, ficaram parcialmente destruídos. Apesar dos prejuízos, não houve registro de feridos. Apenas dois moradores do bairro São José, cuja casa foi dividida ao meio pela queda de um eucalipto, precisaram ser removidos para outro lugar. Com previsão de novos temporais a Defesa Civil seguia em estado de alerta.

Os danos na rede elétrica deixaram vários pontos da cidade sem energia elétrica pela parte da manhã. O temporal também causou tumulto no trânsito para quem saiu cedo de casa. No cruzamento da avenida Presidente Vargas com a rua Padre Valentim, o telhado de zinco de um prédio foi totalmente arrancado e jogado contra a fiação, destruindo inclusive, a sinaleira. Algumas ruas foram obstruídas com a queda de árvores.

Equipes da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, e funcionários da prefeitura iniciaram o atendimento dos atingidos pelo temporal, ainda no início da madrugada de ontem. A primeira medida foi a distribuição de lonas. Até as 7h da manhã, 500 metros já haviam sido entregues. Logo ao amanhecer, técnicos da RGE e bombeiros iniciaram a remoção das árvores que ameaçavam cair sobre residências.

Conforme a secretaria de segurança do município e também coordenadora da Defesa Civil, Estelita Salton, os destelhamentos das casas foram parciais. Ela disse  ainda, que a tempestade não ficou concentrada em nenhuma região da cidade, o que poderia ter causado danos ainda maiores. “Foram várias ocorrências, mas em pontos diferentes” explica. A maioria delas nos bairros São José, José Alexandre Zachia, Victor Issler, São Luiz Gonzaga e Vera Cruz.

A entrega das lonas para as famílias atingida está sendo feita no quartel do Corpo de Bombeiros, na Secretaria de Segurança Pública ou na Secretaria de Habitação.A Defesa Civil também está providenciando telhas para consertar os estragos. “Quem retirar a lona, já preenche o cadastro para receber as telhas. Também pode procurar a  Secretaria de Habitação. Não vai faltar para ninguém, mas é preciso destacar que não entregaremos material para cobrir garagem, apenas para a casa, com o objetivo de proteger as pessoas. Em casos extremos, onde a pessoa não pode se deslocar para retirar a lona, seja por falta de transporte, ou até mesmo por problemas de saúde, a Secretaria de Segurança está levando a lona até ela” salientou a secretária.

Estado de alerta
De acordo com o observador meteorológico da Embrapa Trigo/Inmet, Ivegdonei Sampaio, das 21h de terça-feira, até às 9h de ontem, choveu 38 milímetros. Somente nos três primeiros dias de outubro, já são 89 milímetros, atingindo 58% da média normal histórica do mês que é de 152,9 milímetros. Segundo Sampaio, havia ainda previsão de mais ventos fortes até o início da madrugada desta quinta-feira. Para hoje e amanhã, o céu estará encoberto, com períodos de chuvas fracas. A temperatura nesta quinta terá a mínima de 15º graus e máximas de 22º graus.

Histórico
As rajadas que atingiram Passo Fundo no início de quarta-feira foram as mais fortes desde o início do ano. Os ventos chegaram a 102 km/h, o que já é considerado tempestade. Conforme registros do  observador meteorológico, Ivegdonei Sampaio, nos últimos 12 anos, a maior tempestade ocorrida no município foi em 9 de novembro de 2007. Os ventos chegaram a uma velocidade de 122km/h, considerada no grau de tempestade violenta.

Reunião
Na manhã de ontem, o prefeito Airton Dipp  se reuniu com os secretários Sebastião dos Santos, Estelita Salton, Cladivânia Sberse e Adriano José da Silva para avaliar os dados levantados pelas secretarias sobre o temporal e rever ações necessárias. “A Prefeitura Municipal dará toda a assistência necessária e creio  que a situação logo estará controlada”,afirmou.

Onde buscar ajuda
-As pessoas que tiveram suas casas destelhadas devem procurar em primeiro lugar o Corpo de Bombeiros para a retirada da lona. Caso o deslocamento não seja possível, basta telefonar para a Secretaria de Segurança Pública pelo telefone (54) 3313.8458 ou para a Secretaria de Habitação pelo telefone (54) 3311.8381;

-Em um segundo momento, quem teve casa destelhada deve se dirigir até a Secretaria de Habitação, localizada na sede do antigo quartel, para efetuar um cadastro e poder receber as telhas;

-As pessoas que necessitarem de roupas, alimentos e cobertores devem procurar a Secretaria de Cidadania e Assistência Social (SEMCAS) localizada na sede do antigo quartel.
-Informações sobre árvores ou galhos caídos, iluminação pública danificada, bem como semáforos e sinalizações, podem ser feitas diretamente com a Secretaria de Segurança Pública ou com a Secretaria de Serviços Gerais nos números já citados acima.

“Vi  o telhado voando”
Amadeu Bento da Siqueira, 49 anos, viu através da sacada, as folhas de zinco do prédio, de três andares, em que reside, na rua Padre Valentim, nº 13, sendo arremessadas contra a rede elétrica e sinaleiras existentes no cruzamento com a avenida Presidente Vargas. “Foi muito feio o que aconteceu. O vento assobiava. Deu um estrondo forte no prédio. Arrancou o telhado todo” lembra.  As chapas de zinco, medindo seis metros de comprimento, ficaram presas na fiação. Outra parte caiu sobre a pista da avenida, que precisou ser interditada no início da manha.  
O comerciante André Maximiano Gigena, 36 anos, que reside cerca de 30 metros do local, ainda não havia contabilizado os prejuízos provocados pelo temporal em sua loja e oficina de moto, na Presidente Vargas. O vento arrancou parte do telhado de brasilit e a chuva alagou completamente o estabelecimento. “Cheguei por volta das 8h20,  encontrei tudo molhado. Ainda não sei o tamanho do prejuízo” desabafou.

Árvore destrói casa no São José
No Bairro São José a casa de Neusa Mazzetto Leite, 48 anos, foi partida ao meio por um eucalipto durante o vendaval. A mulher ainda com as mãos trêmulas pelo susto conta que mora no local há 24 anos e desde que se mudou a árvore estava lá. “A gente até tinha preocupação, mas nunca pedimos a retirada”, lembra. Na casa, moram ela, dois filhos, o marido, a mãe e um irmão. No momento da queda todos estavam em casa. Ela o marido e a filha menor estavam no quarto quando o temporal começou. “Meu marido pegou a pequena e foi se abrigar perto do banheiro que é a única parte de material da casa, como ele sempre faz. Eu nunca saio da cama, mas ontem fui com ele e a menina. Logo depois que saímos do quarto a árvore caiu sobre a cama”, conta. A queda da árvore aconteceu por volta de 0h30. Assustada, Neusa correu pedir ajuda aos vizinhos. O filho mais velho teve algumas escoriações no braço e rosto, mas sem gravidade. “Todas as nossas roupas e documentos estão lá dentro. Não temos nada. Temos que esperar a retirada da árvore para ver o que conseguimos salvar”, lamenta. A Defesa Civil condenou a casa.

Tupinambá
Fátima Pizzatto é moradora do Bairro Tupinambás há 27 anos. Esta é a segunda vez que a casa dela é danificada em um temporal. Ela conta que estava sozinha em casa quando o vento começou. “A casa é pequena e começou a tremer com o vento. O telhado da casa da vizinha foi arrancado e caiu sobre a minha casa e acabou danificando o telhado”, conta. Chovia forte no momento. Para evitar maiores prejuízos ela desligou a energia elétrica da casa e cobriu móveis e aparelhos eletrônicos com lonas e toalhas para que não fossem molhados.

Esta é a segunda vez em dois anos que a casa dela é danificada. A primeira vez foi em uma queda de granizo. “Nem consegui ir trabalhar. Fui nos Bombeiros pegar lona para cobrir a casa, e fazer o cadastro na Secretaria e Habitação para ver se pelo menos consigo as telhas pra recuperar o telhado”, completa.

Vera Cruz
Na rua Julio Schilling, vila Vera Cruz, o vento arrancou duas folhas de brasilit da residência de Patrícia de Oliveira Abreu, 26 anos.  Em poucos minutos, a chuva inundou a casa. “Corri até a casa da minha sogra, que mora ao lado, e peguei uma lona emprestada. Ajudou um pouco, mas mesmo assim molhou tudo” lamenta. Ela mora no local com o marido, e os dois filhos, de 10 e 7 anos.  

São Luiz Gonzaga
Em vários pontos do Bairro São Luiz Gonzaga casas foram destelhadas e árvores caíram. Na rua atrás do Presídio Regional de Passo Fundo, um cinamomo caiu sobre a rede elétrica e ocasionou a queda de três postes. Conforme relatos de moradores, a retirada da árvore já havia sido solicitada, tendo em vista que ela dificulta o alcance da câmera de monitoramento que existe no local.

Petrópolis
No Bairro Petrópolis a queda de uma árvore ocasionou o rompimento de um cabo de alta tensão que ficou encostado no solo. Moradores das proximidades sinalizaram o local com cartazes e pedaços de madeira, além de cones cedidos pela Polícia Rodoviária Federal. Durante parte da manhã eles ficaram no local para orientar as pessoas que passavam pelo local para que se mantivessem afastadas dos fios.

Bairro Annes
Próximo à esquina das Ruas Lava Pés e Fagundes dos Reis uma árvore caiu e atingiu parte do telhado de uma residência. A planta acertou um canto da casa e destruiu um muro que fazia divisa entre os terrenos. De acordo um morador, apesar do susto ninguém ficou ferido. Em vários pontos da Avenida Brasil, e do Centro, outdoors caíram com a força do vento.

     
Atualizada às 22h30

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