Mães unidas para enfrentar a dor

Grupo criado há quatro anos em Passo Fundo atua para ajudar mães que perderam seus filhos e luta pela valorização da vida

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Mães que passaram nove meses carregando uma vida, que acompanharam o primeiro choro, o primeiro sorriso, os primeiros passos, as primeiras palavras, as primeiras decepções e tantos outros momentos, precisam enfrentar repentinamente a ausência de seus filhos. Uma falta profunda que dói no ventre e aperta o coração. Entre tantas dores existentes, “não há dor maior do que perder um filho”. O grupo Renascer, criado em 2008, reúne mães que acordaram um dia e receberam a notícia de que seus filhos não retornariam para a casa. Filhos que na maioria dos casos morreram jovens, vítimas de acidentes, homicídios e suicídio.

Mães de Passo Fundo se uniram para dizer e pedir à sociedade que preserve a vida. A dor delas se transforma em impulso para ajudar outras mulheres a seguir em frente. No grupo elas encontram histórias, experiências e sofrimentos semelhantes e descobrem que não são as únicas no mundo. Aprendem que a vida tem que continuar.

Família de mães
Uma das fundadoras e atual presidente do grupo Renascer, Zenáide Natália Zatti Valério, perdeu o filho Taciano Zatti Valério, de 32 anos, há dez anos em um acidente de carro em Brusque (SC). Há quatro anos, ela decidiu que tinha que ajudar outras mães que passavam pela mesma situação. O grupo Renascer se reúne duas vezes por mês para trocar experiências. “Durante dois anos, as reuniões foram realizadas na minha casa. O grupo é aberto e queremos que as mães se sintam a vontade. Somos uma família de mães”, esclareceu a presidente.
Zenáide disse que uma psicóloga ajuda a orientar o grupo e ressaltou que além de participar das reuniões, é importante que as mães procurem ajuda médica. “É difícil superar a dor sozinha. A perda de um filho destrói uma família. Quanto mais as mães conversarem sobre o assunto melhor será”, frisou Zenáide.

Grupo Renascer se reúne no 1º e 3º sábado de cada mês, nos fundos da Catedral. Informações pelos telefones (54) 3313-3539 ou (54) 9976-3344

Assassinados por cinco reais
A mãe Catarina da Rosa e a família pedem justiça pela morte dos irmãos Nelson, de 20 anos e Cesar, de 24 anos. Os dois foram mortos após uma briga em um bar no bairro São Luiz Gonzaga. O assassino continua solto. “A vida está muito banal. Nelson só queria o dinheiro da máquina que tocava música de volta, porque o dono desligou. Perder um filho já é difícil, imagina perder dois de uma vez só”, desabafou a mãe. O pai dos dois jovens, Celso da Rosa, disse que a vida dele acabou. “Minha vida é chorar. A dor é cada vez pior”, declarou o pai.

 O irmão das vítimas, Jeremias Adriano da Rosa, de 31 anos afirmou que a dor é muito grande. “Estava junto e me senti com as mãos amarradas. Espero que haja justiça. Não consigo trabalhar direito, fico pensando na segurança da minha família”, ressaltou o irmão.

“Perder um filho é ter que renascer para viver outra vez”
Esta é a sensação da maioria das mães que participa do grupo. Eliane Rodrigues Gobbi é frequentadora assídua das reuniões. O filho dela, João Carlos Gobbi Castelhano, de 22 anos, faleceu em 2006, vítima de suicídio. A mãe revelou que o filho tinha transtorno bipolar e não teve diagnóstico e tratamento adequado e por este motivo o estudante de Medicina tirou a própria vida. Para enfrentar esta dor, a mãe foi convidada a participar do grupo. “Foi um trampolim para a minha melhora. Dividir a dor traz conforto”, salientou Eliane.

“Acredito que um dia vamos nos encontrar de novo”
Os anos passam, mas a saudade parece não diminuir. Este é um pouco do sentimento da mãe Maria Luiza Oro que perdeu o filho, Felipe Oro, de 22 anos, em 2003 em um acidente na ERS 324. A mãe relatou que nos primeiros anos chorava muito e não conseguia falar sobre o assunto. “Já passaram nove anos, mas parece que foi ontem. Hoje estou muito mais calma graças ao grupo. Perdi meu filho, mas acredito que um dia vamos nos encontrar de novo”, declarou Maria.

“Uma ferida que não cicatriza”
Rita Iolanda Zanotto participa há três meses do grupo Renascer. Ela procura apoio para amenizar a perda do filho Flávio Zanotto, de 37 anos. Ele foi assassinado em junho deste ano durante um assalto enquanto esperava pela filha, na rua Moron, no bairro Boqueirão. O latrocínio (roubo seguido de morte) ainda não foi desvendado pela polícia. “Muita mãe não participa do grupo, porque não sabe que ele existe. Encontrei pessoas que compartilham a dor e elas são muito importantes pra mim”, declarou Rita.

Dor sem fim
A lembrança do filho amoroso, brincalhão e jovem ainda é muito forte na memória e no coração da mãe Valéria Schmitz Garcia. Kássio Schmitz Garcia, de 20 anos morreu em um acidente na Avenida Presidente Vargas, em junho de 2010, quando retornava para casa. Mãe e filho tinham uma ligação muito forte. No mês das mães, o filho escreveu um cartão inesquecível para Valéria: “Você faz a diferença. Vou te amar por toda eternidade”. “Ele era um filho amoroso e alegre. O grupo Renascer me fez perceber que não era a única que sentia esta dor”, declarou a mãe.

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