Motorista é condenado por morte de jornalista

Sessão do Júri realizada em Getúlio Vargas, nesta sexta-feira, foi histórica

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Em julgamento histórico que durou quase 14 horas, no Fórum de Getúlio Vargas, nesta sexta-feira, o motorista Abraão Luís da Rosa foi condenado a sete anos de prisão pelo crime de homicídio simples e lesão corporal. Ele causou a morte da jornalista Angélica Weissheimer, no dia 23 de setembro de 2006, quando ela retornava de Erechim para Passo Fundo. Os jurados acataram a tese da acusação de homicídio doloso. Ele vai cumprir a pena em regime semiaberto. O capitão da BM Álvaro Martinelli, marido de Angélica disse que, apesar da pena ter sido baixa do ponto de vista dos familiares, o resultado é um legado deixado pela jornalista já que se criou jurisprudência no caso. A defesa do réu anunciou que vai recorrer da decisão nos tribunais superiores.

Por cerca de três horas, acusação e defesa travaram um debate acirrado  acerca da denúncia oferecida pelo Ministério Público, de homicídio doloso contra o réu. Uma decisão considerada inédita pelo Tribunal do Júri. Para defender a tese de que o acusado assumiu o risco de matar,  o promotor Adriano Luís de Araújo atuou amparado nas provas técnicas da perícia e nos depoimentos das testemunhas. “Não viemos aqui fazer jurisprudência, mas temos um homicídio, não um acidente de trânsito” definiu.

Segundo ele, laudos periciais comprovaram que o militar Álvaro Martinelli viajava a 87km/h e que a extensão da frenagem feita por ele antes do choque, de 38 metros, é compatível com a velocidade  descrita. Utilizando fotografias, o representante do Ministério Público mostrou aos jurados que a perícia não encontrou nenhum sinal indicando a batida na traseira da caminhonete do acusado, conforme a versão apresentada por ele. “A perícia descartou o envolvimento direto de um terceiro veículo no fato” observou. Araújo também apresentou dois vídeos com as matérias veiculadas sobre o acidente. “A gênese do acidente está na velocidade excessiva do condutor da caminhonete que era de 146km/h, segundo apurou a perícia” disse.

Assistente de acusação, o advogado Jabs Paim Bandeira, definiu como ‘roleta russa’ a sequencia de ultrapassagens feitas pelo acusado antes de provocar o acidente. “Ao agir assim, ele assumiu o risco de matar” resumiu. O assistente salientou que o acusado já havia recebido duas multas por ultrapassagem indevidas em 2004 e 2005. Bandeira ainda apresentou um vídeo com uma simulação sobre o acidente.

A estratégia da defesa foi no sentido de desclassificar a modalidade de homicídio doloso para culposo. O advogado Cézar Roberto Bitencourt disse que seu cliente não assumiu o risco de matar ninguém. “O que aconteceu foi um acidente de trânsito, e quem julga é o juiz. Nunca se julgou no tribunal do júri um caso como esse porque não é normal isso. Saímos do padrão para o ineditismo” ponderou. Para o advogado, ‘ninguém sai dirigindo para matar alguém ou morrer. Ao assumir o risco de matar, também assume o de morrer. Ele não é um suicida, ainda mais estando acompanhado da irmã. Quando se faz uma ultrapassagem em local indevido não se está querendo matar ninguém, portanto, é um homicídio culposo’ disse aos jurados.

A defesa atacou provas periciais apresentadas pela acusação. O advogado Érico Alves Neto questionou a informação de que seu cliente trafegava a 146km/h. “Se ele trafegava entre um comboio de carros, como poderia estar nessa velocidade” questionou. Neto também questionou o fato de a caminhonete ter sido arrastada para trás, cerca de cinco metros, após o impacto. A defesa atribuiu o fato à velocidade do Gol. Sobre esse mesmo ponto, Bitencourt criticou a perícia que mediu a extensão da frenagem, mas não a intensidade dela. Na réplica, o promotor rebateu o argumento defendo, novamente através das provas periciais, de que a Hilux andou dois metros para frente após o choque.

Depoimentos
Durante toda  a manhã, os jurados interrogaram as testemunhas (três de cada lado), além da vítima, o capitão da BM, Álvaro Martinelli, marido da jornalista Angélica Weissheimer. Em um depoimento de mais de uma hora, o militar  confirmou o que já havia declarado nos autos. Relatou que, ao ver a caminhonete ultrapassando o caminhão, manobrou o Gol para o acostamento. Ao perceber que o motorista da Hilux também desviou para o mesmo sentido, ainda tentou voltar para a pista, quando ocorreu o choque. Com o impacto, o Gol capotou. Martineli disse que a velocidade do automóvel no momento era de aproximadamente 87 km/h. “...Minha única culpa foi não ter conseguido me desvencilhar das pessoas, depois que saí do carro, para tentar salvar a Angélica. Fiz tudo que pude para evitar o acidente.  Antes do choque ela apenas gritou  ‘amor’ revelou bastante abalado. O militar também confirmou ter ficado com lesões permanentes em razão das fraturas.

No depoimento seguinte, o motorista do caminhão, que acompanhou o acidente, confirmou a versão do militar. “Vi pelo retrovisor quando ele abriu para a pista contrária e iniciou as ultrapassagens. Havia pelo menos mais dois caminhões atrás do meu” revelou. Ele negou a versão de que a caminhonete teria sido atingida na traseira e jogada para o acostamento.

Na sequencia, os jurados ouviram uma motorista residente em Passo Fundo. No dia do acidente, ela viajava pela RS 135, sentido Erechim, e contou que  nas proximidades de acesso ao município de Estação, percebeu pelo retrovisor que o condutor da Hilux se aproximou de seu veículo forçando a ultrapassagem em local proibido. “Cheguei a comentar com meu pai, ‘esse aí está com muita pressa’ contou. “Tirei para o acostamento para ele não bater em mim. À noite, vi na TV a notícia do acidente e reconheci a caminhonete” revelou.

Arrolada pela defesa, a irmã do réu, que estava com ele no dia do acidente, manteve a versão de que a caminhonete foi atingida pelo caminhão e jogada para o outro lado da rodovia. Ela negou que Abraão tenha feito qualquer ultrapassagem, tanto antes, como no momento do acidente. Os jurados ouviram ainda policiais e bombeiros que atenderam ao acidente.

Versão do acusado
O acusado Abraão Luís da Rosa foi ouvido à tarde. O fisioterapeuta respondeu aos questionamentos do Ministério Público, mas se reservou ao direito de permanecer calado diante das perguntas feitas pelo advogado Jabs Paim Bandeira, que atuou como assistente de acusação. Abraão negou as acusações e sustentou a versão de que teve a traseira da caminhonete atingida por um caminhão que tentava realizar uma ultrapassagem. Com a batida, teria sido jogado no outro lado da pista. “Fui para o acostamento para me salvaguardar, estava quase parando quando o Gol que vinha em alta velocidade e me atingiu” revelou. Disse que viajava a aproximadamente 80km/h transportando parte de uma carga na carroceria. Após a colisão, segundo ele, o Gol teria tombado, ficando de lado, e que resgatou sozinho o motorista do interior do veículo.

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