Detentas realizam curso de capacitação profissional

Dividido em três módulos, curso segue até o mês de dezembro

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Com as unhas pintadas e cabelos cuidadosamente penteados, a detenta J.M. 27 anos, se acomoda no fundo da sala para acompanhar mais uma aula de um curso que pode fazer a diferença quando ela cruzar em definitivo o portão principal do Presídio Regional de Passo Fundo e buscar uma vaga no mercado de trabalho. Até o final de dezembro, ela, juntamente com outras 24 presas do regime fechado, terão noções de informática, logística, português, apresentação individual, comportamento, departamento pessoal, gestão de pessoas e secretariado.

A oportunidade de capacitação é uma iniciativa da Coordenadoria Municipal da Mulher, e faz parte do projeto ‘Trabalho e dignidade para um recomeço de mulheres em situação de prisão’. Dividida em três módulos, as aulas serão ministradas voluntariamente por profissionais da empresa CDC, através de uma parceria com a Prefeitura Municipal de Passo Fundo.
 
A abertura ocorreu dia 25 de outubro com uma palestra sobre autoestima. Apesar de recente, o trabalho já começa a provocar mudanças positivas no comportamento das detentas. A primeira delas é em relação à própria imagem e contou com uma ajuda importante da direção do presídio. Há cerca de duas semanas, foi liberado o uso de esmaltes e maquiagens.  “Elas perderam a liberdade, mas não a dignidade. A vaidade faz parte do universo feminino, isso ajuda a recuperar a autoestima e reflete diretamente nas atitudes” analisa o diretor do presídio, Carlos Juvêncio Dornelles. Segundo ele, para participarem das aulas, que acontecem nas tardes de terça e quinta-feira, o horário de sol delas precisou ser transferido da tarde para o turno da manhã.
 
Coordenadora do projeto, Alessandra Moreira, diz que a capacitação profissional é uma forma de  romper o preconceito e ampliar a possibilidade de conquistar uma vaga de trabalho. “Elas já saem daqui rotuladas. Se não estiverem preparadas, fica ainda mais difícil. Existem vagas disponíveis no Sine, mas tem de ter qualificação” ressalta.
 
Das 25 alunas, 90% delas são jovens. A grande maioria cumpre condenação ou aguarda julgamento pelo crime de tráfico de drogas. “Com a prisão dos maridos, elas assumem a função e têm o mesmo destino” avalia Dornelles. Além de preparar as mulheres para o enfrentamento da realidade no lado de fora do muro, o projeto ajuda a acelerar a saída delas. A presença em um determinado número de horas/aulas reduz em um dia a pena.  
 
“A iniciativa é maravilhosa. Não adianta trancar as pessoas depois largar na sociedade com a imagem denegrida e sem nenhuma qualificação. Com este curso, ela pode sair mais confiante, com a autoestima em alta. Vai saber como agir no dia a dia e buscar por um emprego” avalia M, 54 anos, presa há dois meses acusada de tráfico de drogas.
 
Aguardando julgamento pela acusação de furto, J, 27 anos, diz que o projeto é a oportunidade de sair do presídio melhor preparada para o mercado de trabalho. “É uma grande chance para a gente encontrar um emprego, tirar o nosso próprio sustento, refazer a vida” afirma a jovem, que cursou até a 8ª série e já passou por alguns empregos, inclusive em lojas na função de vendedora. Sobre o fato de a direção ter liberado esmalte e maquiagem no dia a dia, disse que a decisão foi comemorada entre as presas. “Estamos aqui dentro, mas não precisamos deixar a vaidade de lado” comenta.
        
Além do curso, a  coordenadora Alessandra Moreira, anunciou para o próximo ano, a instalação de uma turma do Educação para Jovens e Adultos (EJA), exclusiva para as mulheres.

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