Professor na escola e no Facebook

Educador usa redes sociais para estar em contato com alunos mesmo fora da sala de aula e esclarecer dúvidas, indicar materiais e lembrar a data de provas ou trabalhos

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As redes sociais adoradas pelos jovens podem ser o pavor de muitos professores que não entendem muito bem o seu funcionamento. Mas quando o educador consegue utilizar o recurso de forma criativa ele pode ser uma alternativa como ambiente de apoio ao ensino. No Instituto Estadual Cecy Leite Costa a iniciativa de um professor de Química tem facilitado a vida dos estudantes do terceiro ano do ensino médio. Com o uso do Facebook ele conseguiu se aproximar dos alunos e está disponível para esclarecer dúvidas ou sugerir materiais de apoio para os conteúdos mesmo em horários em que não está em aula.

O uso da rede social como ambiente de apoio não foi planejado pelo professor Selmar Rodrigues e evoluiu de forma espontânea. Não foram poucas as vezes em que ele socorreu algum estudante no meio da noite orientando sobre os conteúdos da disciplina. A partir desse convívio, ele começou a perceber a necessidade e as possibilidades de utilização da rede que também são estudadas pelo Núcleo de Tecnologia Municipal da Secretaria Municipal de Educação para formação de coordenadores de laboratórios de informática nas escolas.

Intruso?
Um dos passos seguintes foi integrar um dos grupos criados por uma das turmas do terceiro ano da escola na rede. Ele revela que esse foi um momento de dúvida. “Fiquei com medo de que os alunos pudessem achar que eu era um intruso naquele espaço que é deles. No entanto, a partir disso começamos a conversar mais e eu pude auxilia-los em vários momentos fora da sala de aula”, observa. Quando o professor está online, os estudantes o chamam para pedir ajuda na resolução de exercícios ou mesmo para conversar sobre temas variados. Eles admitem que já pediram conselhos ao professor inclusive sobre que carreira profissional seguir. “Quando posso eu os oriento e faço pensar sobre o que eles querem e como podem alcançar isso”, afirma Rodrigues.

“Prova? Que prova?”
A pergunta da estudante Daniela Bonora surgiu em uma dessas conversas com o professor pela rede social. Ela lembra que estavam conversando quando Rodrigues perguntou se ela já tinha estudado para a prova do dia seguinte. Da mesma forma que ela, muitos estudantes esquecem os prazos. Por isso ele lembra as datas para entregas de trabalho com alertas na rede.

Nem só o Facebook
O Facebook não é a única ferramenta que o professor utiliza. O email, o Youtube e o Edmodo também são explorados. Além de compartilhar links interessantes referentes aos temas trabalhados em aula o professor produz seus próprios materiais. A edição e disponibilização de vídeos referentes a assuntos da disciplina é uma forma de ajudar os estudantes.

Próximo ano
Para 2013, o professor pretende capacitar os professores da escola para a utilização do Edmodo. A rede permite que professores e estudantes tenham um ambiente seguro para o compartilhamento de materiais, busca de conteúdos e aplicativos educacionais bem como disponibilizar tarefas ou permitir a discussão de determinados temas ou notificações sobre prazos de provas e trabalhos.  Com uma interface parecida com a do Facebook, a rede é atrativa e parece pouco burocrática, o que pode ajudar a conquistar os estudantes.

O que eles pensam
Os estudantes Bruno Manica, 16, Karine Neckel, 17, Patrícia Favaretto, 17 e Vinícius Zwirtes, 16, concordam que na sala de aula nem sempre é possível esclarecer todas as dúvidas. “Na sala de aula o período de cada disciplina é curto, além disso algumas vezes nem todos os estudantes estão tão interessados em aprender o conteúdo. Online, o professor empresta o tempo dele para esclarecer nossas dúvidas”, observa Patrícia.

Mais próximo
Além do caráter educativo, o professor esclarece que o uso da rede social foi importante para que ele pudesse se aproximar dos estudantes. Como ele começou a dar aula para eles no último ano do ensino médio eles não se conheciam. Para o estudante Vinícius o aluno consegue se sentir mais amigo do professor. “Muitas vezes o professor chega na sala de aula, dá bom dia, descarrega o conteúdo e vai embora. Com o professor Selmar sabemos que podemos conversar não só sobre os conteúdos da disciplina”, observa.

Alunos aprenderam
Os estudantes não se contentam em apenas esperar pelo professor. Eles contam que quando encontram bons materiais fazem questão de compartilhar. Foi assim com o Enem realizado no início do mês. Muitas dúvidas foram esclarecidas pelo Facebook com o professor, e os alunos compartilharam vídeo-aulas de dicas para a prova de redação, por exemplo.

Ferramentas flexíveis
O professor e pesquisador da UPF Adriano Canabarro Teixeira explica que as ferramentas digitais são extremamente flexíveis e podem ser exploradas dependendo da concepção que os professores têm do que é educação. No entanto, apenas o uso do Facebook, por exemplo, não faz milagres em uma escola. “Existem experiências de utilização de redes sociais que funcionam bem, mas a concepção do professor tem que mudar. A principal mudança é o educador saber que não vai ter condições de acompanhar tudo que acontece porque é muito dinâmico. Se o professor tem a falsa ideia de que ele tem que ter controle total sobre o que acontece no processo de aprendizagem dos seus alunos, controle que não tem nem em sala de aula, ele vai se assustar”, explica.

Conforme o professor, ainda existe um receio muito grande dos educadores em relação ao uso das redes sociais. Ele exemplifica isso pelo fato de muitas escolas proibirem o acesso a esses sites em laboratórios de informática devido aos educadores não compreenderem ou não conseguirem encaixar essas ferramentas nas dinâmicas educacionais.

Teixeira esclarece ainda que a aproximação entre o professor e o aluno é importante para que o processo de aprendizagem tenha sucesso. Ele pondera que mesmo assim os papeis sociais de aluno e professor precisam ser limitados para que não se confundam. “Isso não quer dizer que sejamos melhores ou piores ou que tenhamos que fazer um trabalho mecânico. O processo de aprendizagem demanda proximidade e não distância”, finaliza.

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