Cerca de 80 brinquedos adaptados para crianças com deficiência visual estão encaixotados e ainda não foram utilizados pela Associação Passo-Fundense de Cegos (Apace) porque não há salas disponíveis e adequadas para a utilização destes materiais. O prédio está localizado nos fundos da antiga prefeitura, na Avenida Brasil, no Centro. As aulas para as crianças estão sendo realizadas em uma sala improvisada e emprestada por uma ONG. O local também não atende as questões de acessibilidade como rampa, corrimões e piso tátil. A associação está reivindicando a promessa feita pela atual administração em relação a uma solução para o problema.
A dificuldade inicia antes de chegar à porta da entidade. Os deficientes visuais precisam passar pelo estacionamento nos fundos da prefeitura sem piso tátil que indique o caminho. Na porta, não há rampa e as salas e corredores também não respeitam as questões de acessibilidade. O espaço foi dividido em algumas salas apertadas que não comportam mais a demanda da Apace que possui 180 associados e atende alguns municípios da região.
Segundo o presidente da Apace, Luiz do Carmo, o perigo de acidentes é grande. A cozinha e o banheiro estão na parte térrea e, para isso, os deficientes precisam desafiar alguns degraus. ?EURoeMuitos cegos já caíram nesta escada. Os acidentes são constantes. Outro dia, uma senhora de outro município que veio procurar atendimento caiu nas escadas e teve que ser encaminhada para o hospital?EUR?, revelou Carmo.
A entidade pede ao poder público um espaço maior e adequado para o atendimento. ?EURoeO prefeito disse em uma audiência em janeiro que faria uma reforma no prédio, mas até agora não aconteceu?EUR?, revelou o presidente da Apace.
Conforme o secretário geral da Apace, Fábio Flores, a entidade luta para uma inclusão maior das pessoas com deficiências visuais e necessitam de uma estrutura com condições de atender as pessoas cegas. ?EURoeO nosso espaço físico está defasado, não possui acessibilidade e não tem tamanho adequado para desenvolver as atividades e oferecer um atendimento de qualidade. Os brinquedos adaptados para as crianças não podem ser utilizados porque não há salas e espaço para manuseá-los adequadamente. Precisamos de uma reforma total e que atenda as questões de acessibilidade como rampa, piso tátil e condições de locomoção?EUR?, justificou Flores.
O sonho da brinquedoteca
Neste ano, a entidade recebeu do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fumdica) cerca de R$ 17 mil para o projeto de uma brinquedoteca terapêutica Adaptada. Foram adquiridos dezenas de brinquedos especiais para as crianças com deficiência visual. No entanto, a maioria dos materiais não pode ser utilizada porque a entidade não possui uma sala adequada para o armazenamento e utilização dos brinquedos. Os itens estão encaixotados e não foram retirados da embalagem ainda. Os jogos em braile, os brinquedos com texturas e barulhos, as pulseiras de guizo, os tapetes e outras dezenas de brinquedos estão estocados em duas salas ocupando o pouco espaço que já existe no local.
Todas as segundas-feiras, o grupo de contação de histórias da Apace reúne cerca de 30 crianças entre 2 e 12 anos. Nas aulas são abordadas histórias inclusivas, questões pedagógicas e psicopedagógicas. Os itens seriam utilizados para estas finalidades.
Os brinquedos adaptados são essenciais para a base da educação das crianças com deficiência visual e estimulam os sentidos. Segundo a psicopedagoga da Apace, Luciana Ricci Cairos, eles servem para ajudar na mobilidade, esquema corporal, orientação espacial e para aprender o braile. ?EURoeA brinquedoteca surgiu para ajudar no desenvolvimento destas crianças. ?? brincando que ela vai aprender a se virar no dia a dia. O brinquedo é um estímulo. O deficiente visual que não tem estímulo pode ficar com sequelas irreversíveis, como sintomas autistas?EUR?, explicou a psicopedagoga.
Posição da prefeitura
O prefeito Airton Dipp informou que o município está disposto a realocar a entidade, porque a estrutura atual é imprópria e precária e uma reforma não atenderia aos anseios. Em audiência realizada anteriormente, o prefeito pediu que a entidade procurasse um novo espaço que a prefeitura pagaria o aluguel. No entanto, foi apresentado um aluguel com valor muito alto. ?EURoeAté o final do nosso mandato queremos resolver esta situação. Solicitamos à entidade que apresente um local com valor mais apropriado e compatível sem extrapolar valores?EUR?, esclareceu o prefeito.
Uma audiência está marcada para terça-feira (13), 14h30, no gabinete do prefeito Airton Dipp para tratar deste assunto.
Apace
A Apace é uma entidade privada sem fins lucrativos que possui 13 anos de existência no município. Atualmente, os recursos provêm de doações, promoções e de um convênio com o município de aproximadamente R$ 4 mil para despesas com funcionários e encargos sociais. A entidade oferece atendimento psicológico, de orientação e mobilidade, aulas de alfabetização em braile e possui parcerias com a Universidade de Passo Fundo para atividades de hidroterapia, de artes e de musicografia braile.
Cachorro-quente beneficente
A Apace está promovendo a venda de ingressos no valor de R$ 5,00 para um cachorro-quente beneficente que será realizado no dia 17 de novembro, entre as 11h e 13h, na Apace. A intenção é arrecadar fundos. Os interessados podem adquirir o ingresso na sede da entidade. Informações pelo telefone (54) 3584-1211.