Nos últimos três anos as lavouras da região têm apresentado um aumento da população de nematoides no milho e na soja. Os seres microscópicos atacam as raízes das plantas e fazem com que as células se desenvolvam além do normal e deixam nelas o aspecto de um tumor. O resultado disso são problemas na nutrição das plantas, que enfraquecem e podem até morrer. A identificação do tipo de nematoide presente no campo permite adotar medidas de diminuir as populações dos vermes e conviver com o problema que ainda não tem uma solução definitiva.
A pesquisadora e professora do curso de Agronomia e do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da UPF Dra. Carolina Cardoso Deuner é responsável pelo Laboratório de Nematologia da instituição em parceria com a empresa Syngenta. De acordo com ela, por serem micro-organismos, dificilmente os produtores conseguem identificar o problema no campo antes de os sintomas serem visíveis que são vários. O mais comum é o chamado sintoma de galha. Em vários casos ele deixa as raízes com a aparência de um tubérculo ou de uma raiz de mandioca, mas são multiplicações excessivas das células. Outro tipo comum do verme na região causa pequenas pontuações brancas nas raízes.
Soja e milho
O nematoide que causa o sintoma de galha atinge a soja e o milho. Porém, em alguns híbridos de milho ele não causa o sintoma, mas pode se multiplicar durante a safra. Com isso, quando se volta a produzir soja na área ela pode ser atacada de forma mais intensa. “Como atacam a raiz eles danificam o sistema de radículas que é por onde as plantas absorvem água e nutrientes. Isso faz com que as plantas se debilitem e podem até morrer”, salienta a pesquisadora. Quando a planta não morre, além de ficar mais fraca ela permite que os nematoides se multipliquem.
Disseminação
A disseminação deles pelas áreas de plantio se dá pelo transporte de solo de uma área para outra da lavoura. Isso pode ocorrer com o maquinário ou mesmo o carro que pode levar resíduos de terra. “Muitas vezes demora anos para aumentar a população e o agricultor conseguir ver os sintomas. Ele pode perceber que uma área pode produzir menos a cada ano e ele percebe os sintomas da doença como a galha e o cisto. Quando percebe isso, o problema está instalado e não há nenhuma forma de eliminar o patógeno”, ressalta.
Uma das formas de evitar perdas nas áreas infestadas é a rotação de culturas ou encontrar outras espécies não suscetíveis para implementar. A pesquisadora explica que a identificação do nematoide é importante para o produtor escolher qual a cultura que ele vai poder colocar, ou qual o híbrido mais adequado, no caso do milho. Como no sul as principais culturas de verão são o milho e a soja ela orienta o produtor a plantar em um ano soja e no outro uma variedade de milho resistente que irá reduzir a população dos vermes na área. “Não tem como eliminar o problema. A questão é que o produtor quando coloca uma cultura de verão suscetível, por exemplo a soja, a população vai aumentar muito ao longo da safra”, reforça destacando a importância da rotação.
Ciclo
O ciclo dos nematoides varia entre 30 e 40 dias. Nesse período cada fêmea produz aproximadamente 500 ovos. A cada safra a população dos vermes aumenta muito e o produtor precisa colocar uma planta que eles não consigam infectar para a maioria deles morrer. “Quando a população está alta e eu coloco um milho resistente, a população ao longo da cultura do milho vai diminuir. E na outra safra se a população estiver baixa ele pode entrar com a soja de novo e pode optar por uma variedade mais resistente”, orienta.
Culturas de inverno
A pesquisadora destaca que também existem nematoides de cultura de inverno, mas os presentes na região não atacam os cereais cultivados como trigo, canola, cevada, triticale, entre outros.
Laboratório
A Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (FAMV/UPF) abriu recentemente um laboratório para análises de nematoides, em parceria com a empresa Syngenta. Esse laboratório atende produtores, empresas e cooperativas para a detecção de nematoides em solo e raízes de diversas culturas, e funciona no prédio G3 na UPF, juntamente com o Laboratório de Fitopatologia. Informações sobre o serviço podem ser obtidas pelo telefone (54) 3316-8159.