Campanha contra a Aids: mais de cem atendimentos em um dia

O tema ainda é tratado como tabu por parte da população e a ação tenta desmistificar a busca por exames e informações para prevenção

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Mais de cem testagens de HIV, sífilis e hepatites foram realizadas durante a campanha no Dia Mundial de Luta contra a Aids. Homens e mulheres de idades variadas foram até o ambulatório DST/Aids, junto ao Hospital Municipal, durante o sábado (1º). Entre as 8h e as 17h, além da coleta de sangue para teste, foi distribuído material informativo e preservativos à população que procurou atendimento. O esforço da equipe do ambulatório busca reduzir o número de novos portadores do vírus HIV em Passo Fundo, o que não tem ocorrido nos últimos anos. Atualmente existem 1.2 mil pessoas do município e da região em acompanhamento e 700 realizam a terapia antirretroviral (tratamento contra o vírus da AIDS).

De acordo com o médico Adro Linhares dos Reis, coordenador do serviço DST/Aids, a forma leviana como parte da população, especialmente as gerações mais jovens, encaram a doença é perigoso. “Os jovens estão mais despreocupados, descompromissados consigo e com o outro”, lamenta. Na outra ponta, os idosos têm sido vitimados com novos casos de contágio. Se a população ganhou qualidade e expectativa de vida e está socialmente mais ativa,ainda existe uma dificuldade cultural em relação ao tema e a incidência de contaminação em pessoas acima de 60 anostem aumentado.

Mesmo os relacionamentos nesta fase da vida sendo tratados de forma natural, a terceira idade se apresenta ainda resistente quando se trata de doenças sexualmente transmissíveis. São pessoas que cresceram sem falar sobre sexualidade abertamente. Já quem tem por volta de 20 anos teve acesso à vasta informação, mas não assistiu à devastação física e à segregação social imposta aos portadores do vírus. Jovens quecresceram quando a efetividade do coquetel químico já estava consolidada e o diagnóstico da doença deixou de ser uma sentença de morteimediata não percebem a gravidade da Aids. São gerações distintas, mas que encaram a doença com distanciamento.
“O tratamento para a Aids não é um tratamento para gripe. O tratamento antirretroviral é uma quimioterapia. O tratamento precisa ser feita pela vida inteira e faz muito mal à saúde de qualquer pessoa. Os efeitos na vida do paciente são graves para o corpo e para o emocional”, afirma Linhares dos Reis. De acordo com o médico no momento que a pessoa recebe o diagnóstico já se pode contar com uma redução de 20 a 30 anos na expectativa de vida.

O coordenador do serviço DST/Aids alerta que também não existe mais a noção de grupo de risco. Pessoas de todas as idades, em todas as classes sociais e com qualquer orientação sexual estão igualmente vulneráveis ao vírus a partir do momento que se expõe uma relação sexual sem proteção, por exemplo. A orientação é para que a população faça o exame que é gratuito, sigiloso e anônimo. O serviço é oferecido de segunda à sexta-feira no ambulatório DST/Aids que atende, em média, de 30 a 40 pessoas por semana.

Tabu a ser superado
Este ano a estratégia da campanha foi focar o atendimento no ambulatório, junto ao Hospital Municipal. Na manhã de sábado, algumas agentes de saúde distribuíram material informativo em pontos centrais da cidade, mas a ação foi bastante reduzida nesta edição. O motivo da mudança foi a reação de parte das pessoas na rua, explica Jussara Pereira Domingues. Questões ligadas à sexualidade ainda são tabu para parte da população que rechaça ações de conscientização em espaços públicos. Jussara conta que muitas pessoas hostilizavam a abordagem nas ruas. “Existe um dificuldade em chegar à população. Você não tem ideia do que ouvimos. Pessoas perguntavam por que ainda fazíamos isso (campanha) se já havia cura para Aids”, relata. Afirmações como está demostram o nível de desinformação e preconceito que ainda persiste.
Porém, há quem supere o medo e mesmo o constrangimento em favor da saúde e da prevenção. O exemplo vem de uma família inteira que foi até o ambulatório para realizar a testagem: o casal de pais com as filhas e a avó. “Não adianta fazer sozinho. Ou a gente faz as coisas em família ou não funciona. Quanto mais a gente falar e conversar sobre isso é muito melhor”, avalia mãe das meninas, que é desenhista.
Um taxista de 52 anos ficou sabendo da campanha através dos meios de comunicação e também resolveu fazer o teste. Ele conta que já trabalhou como monitor na conscientização contra DSTs e Aids e por isso mesmo considera natural buscar atendimento. “Não adianta ter preconceito, vim porque é bom paramim. Qualquer pessoa que tem uma relação sem preservativo devera fazer”, comentou.

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