Cáspite, exatamente o assunto que desenvolvi, foi desenvolvido ontem na prestigiada crônica de José Ernani. Então, vai lá, assim mesmo, tentando não plagiar nada.
Vivi, como os demais pais, momentos de felicidade na última sexta-feira quando minha filha Georgia comemorou o término do segundo grau. Na minha “formatura”, no distante ano de 1975 não houve nenhum glamour. A gente se encontrou, autografamos com canetas de tintas cintilantes as camisetas Hering que usávamos e, depois de lágrimas e despedidas, cada qual tocou sua vida. Tem gente que a gente nunca mais viu, tem gente que se esqueceu da gente. A coisa mudou, como escreveu Ernani, e cada ato desses é um show de alegria, DJs, luzes, maquiagens, ternos. Mesmo impregnada do ponto de vista comercial, a coisa está muito melhor porque é preciso curtir os momentos. Por isso também que, sequelado, não pude conter as lágrimas.
Foi demais ver minha filha intensamente feliz, minha mulher e meu filho sorridentes e orgulhosos pela felicidade do momento, demais parentes e amigos no mesmo local, ufa... chorar sim, mesmo que disfarçadamente, mas chorar de feliz. Não se chora só de tristeza. Como disse Martinho comparando o seu modus vivendi com o de uma mulher que se aproximara: “você só chora, se desprezada, depreciada, na despedida; e eu só choro pela vitória, pela beleza e quando estou feliz da vida”. É o que sempre falo e pergunto, e se não houver amanhã? Então é preciso comemorar nem que seja somente o título do Gauchão.
Os filhos serão aquilo que firmemente ensinaremos a não ser que uma catástrofe ocorra no trajeto. A gente deve sempre conferir se está dando o melhor exemplo possível. Sou um homem simples, nunca tive duas caras. Se não pude acrescentar, tenho a certeza de não atrapalhar. Não sou cara de entrelinhas, não sou de falar o que deve ser feito no cotidiano porque acho que a melhor receita é executar. Não gosto de grupos porque sempre penso que entremeado num pleito coletivo há sempre alguém com interesse pessoal. Uma vez ventilaram meu nome para ser secretário de Saúde, mas não deixei progredir porque o único cargo que postulo é o de ser o que de melhor possa ser como pessoa porque esse é o butim que deixarei aos meus filhos. Por isso chorei na pequena-grande vitória de minha filha e chorarei outras tantas vezes pelas vitórias que virão.
O valor de cada um é medido pela maneira com que enfrentamos os revezes. No poder de enfrentamento é que conhecemos os grandes e é isso que se deixa de verdade, talvez a única e verdadeira lição que podemos deixar aos que nos sucederão. Não tenho a pretensão do reconhecimento, meus amigos são simples como eu, somente entristece quando pensam algo que a gente não disse ou que não fez. É desse mundo que poderia ser tão equilibrado e bonito, mas que pode e é desfeito por almas menores, que tento mostrar aos filhos o quanto pode ser perigosa a simples aventura de viver. E é em cima dos infortúnios e das vitórias que sobra o resultado final, o final feliz de nossas existências. A formatura dos diversos cursos profissionalizantes está revestida de glamour. É mais fácil se formar nas faculdades do que na vida. Será que seremos aplaudidos e ovacionados por sermos o que somos como pessoas ou somente pelo valor profissional de nossas escolhas? Talvez, a gente fosse mais feliz quando tudo era resumido em autografar camisetas.
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