No mês de janeiro o vice-prefeito Rene Cecconello assume uma função junto Governo do Estado que será desempenha na região. Em entrevista exclusiva, além de revelar qual será o seu destino a partir de janeiro, o petista avaliou o desempenho nos últimos quatro anos e os motivos para a derrota nas urnas. Na tarde de sexta-feira (7), durante pouco mais de meia hora de conversa no seu gabinete, Cecconello também deixou transparecer algum ressentimento com a abordagem feita pelos principais adversários durante a disputa pela prefeitura e falou da existência de um “fenômeno extraordinário”, que afirma ter influenciado os resultados. “De qualquer forma, nada disso modifica o resultado e como passo-fundense só tenho a desejar para próxima administração muito êxito em seu trabalho”, disse conformado.
Sem definição sobre a própria candidatura para a Assembleia Legislativa, Cecconello assegura que participará ativamente da campanha em 2014. O motivo de maior entusiasmo é a projeção do nome do prefeito Airton Dipp para compor a chapa na campanha pela reeleição de Tarso Genro. Acompanhe as principais declarações da entrevista que pode ser assistida na íntegra, em vídeo disponível no portal de O Nacional.
Gestão no Planejamento
Além de vice-prefeito, durante a maior parte do segundo mandato do governo Dipp, Cecconello foi secretário de Planejamento. A pasta teve papel decisivo na articulação com o Governo Federal para a aprovação de projetos e captação de recursos. Na avaliação do vice-prefeito, a secretaria precisou estabelecer um trabalho que não existia antes do primeiro mandato do atual prefeito, e que foi acelerado nos últimos quatro anos, quando a estrutura já estava organizada. Mesmo assim, nem todas as metas foram completamente realizadas. “Fizemos muito isso (de captar recursos e aprovar projetos), mas é um trabalho lento. Algumas coisas já vieram e estão em execução e outras tantas virão no decorrer do tempo, talvez nos próximos quatro anos. É o caso de escolas de Educação Infantil e praças; recursos que a gente garantiu, mas que tem um grau de dificuldade para estas obras serem executadas”, comentou.
Segundo avalia, o aquecimento da construção civil continua sendo um fator que reduz o interesse de empresas em executar obras para o Município. Soma-se a esta dificuldade a desistência de empresas já licitadas para as obras, caso do campo Fredolino Chimando e das as galerias da Vila Luiza.
Outro processo demorado foi a execução de projetos do Pronasci. “Iniciamos em abril de 2009 e alguns só foram efetivados no final do ano passados e outros este ano. Quer dizer, foram três anos e eu sei que a população não quer saber disso”. Cecconello acredita que ainda que algumas etapas pela qual trabalhou não estejam finalizadas, o trabalho realizado deixa além dos investimentos concretos assegurados, uma estrutura administrativa mais adequada. “Foi preciso constituir uma equipe própria para lidar com os projetos e a relação com outras esferas de governo. A grande maioria são servidores de quadro e esta equipe está capacitada e qualificada para continuar este trabalho”, afirmou.
Inconcluso
A reforma da Praça Marechal Floriano, o cartão postal mais conhecido da cidade, conta com a destinação de mais de R$ 600 mil reais, mas ainda não saiu do papel. Para Cecconello, esta é uma frustração. “Queira Deus e que os próximos gestores continuem insistindo, para que a licitação aconteça e tenha empresas vencedoras”.
A construção de mais escolas de educação infantil, com recursos já assegurados, serão finalizadas apenas na próxima gestão. “Temos algumas prontas, mas duas estão em obras, duas passam por ampliação e outras quatro estão licitadas. É óbvio que a gente gostaria de estar com todas prontas para serem utilizadas pela comunidade”, admite. O vice-prefeito também gostaria de entregar à comunidade a pavimentação nos bairros Santa Marta e Integração, com recursos de R$ 25 milhões oriundos do PAC 2, que estão em andamento, com cerca de 25% das obras concluídas.
A avaliação da derrota
“Fizemos uma opção de campanha, não iríamos rebaixar o debate”, afirmou Cecconello ao analisar os motivos da derrota nas eleições municipais. Além do desgaste natural de oito anos de governo que a sua candidatura representava, na opinião do petista os adversários usaram de estratégias das quais afirma ter aberto mão. A abordagem feita pela campanha do prefeito eleito Luciano Azevedo sobre o aumento da taxa de esgoto tem um sabor amargo para o vice-prefeito.
“A questão do saneamento me doeu muito na alma porque é uma das conquistas que acho mais importantes. É óbvio que o próximo prefeito, que trabalhou isso na campanha – não estou desconsiderando em nada os resultados e nem os argumentos – não vai conseguir que as pessoa deixem de pagar a taxa de esgoto”. Cecconello comparou a cobrança do serviço de saneamento ao valor do passe de ônibus cobrado dos usuários, que quem utiliza precisa pagar. “Isso me deixa chateado porque de um avanço extraordinário se extrai elementos para uma disputa, em minha opinião, rebaixada”, lamentou.
Propostas do governo eleito, como escolas de educação infantil durante 24 horas e vacinação domiciliar para todos os idosos foram chamadas pelo vice-prefeito de “promessa fácil” para agradar o eleitor. “Promessas praticamente impossíveis de executar, mas que as pessoas às vezes gostam de ouvir para se iludir”, definiu Cecconello.
O outro principal adversário, o ex-prefeito Osvaldo Gomes, também teria se beneficiado da postura não ofensiva que o vice-prefeito afirma ter adotado. “A candidatura do Gomes não teve o registro aceito e teve em todo tempo um grau de fragilidade, além da situação da mãe do Osvaldo (que faleceu durante a campanha), por isso acabamos fazendo uma opção de não comparar o nosso governo com o que foi o governo dele. Compreendemos que seria de alguma forma desleal e a política não é um tudo ou nada”, justificou.
“Fenômeno extraordinário”
“Na minha avaliação o Luciano faria o que fez (em número de votos). A nossa projeção era nós termos feito mais votos. Este fenômeno extraordinário, que não vou entrar em detalhes porque é um pouco delicado, fez o Gomes subir tanto na última semana”, disse Cecconello. O desempenho acima das projeções, obtido pelo candidato do PMDB teria definido a derrota na visão do vice-prefeito. Mas o petista não diz que fator “delicado” seria este que teria alterado o resultado eleitoral previsto.
“Todas as pesquisas indicavam ele (Osvaldo Gomes) diminuindo seu percentual, as pesquisas da última semana o traziam com 18 a 22% e ele faz quase 30%. Aqui não quero entrar em detalhes, mas é óbvio que algum fenômeno extraordinário aconteceu. Não foi só o seu carisma, teve algum fenômeno extraordinário que aconteceu para ele subir tanto e obviamente sobre aqueles que eram os nossos eleitores em potencial”, afirmou.
Futuro político
“Sou um agente político, tenho opção, tenho partido e vou continuar fazendo isso”, diz Cecconello. Antes do final de janeiro, ele já deve assumir um cargo com atuação regional dentro do Governo do Estado. Ainda não está definido a qual secretaria ou órgão estadual a função estará associada. “Será para contribuir com a implantação do nosso governo do Estado aqui na região”, explica.
“Vou continuar vivendo aqui, estarei à disposição do meu partido e dos partidos de oposição para ajudar a construir elementos e argumentos de afirmação do nosso projeto que vinha em curso, além de subsidiar o bom debate, que precisa ser feito, para que as promessas de campanha de quem se elegeu sejam efetivadas”, projetou.
Eleição 2014
Nome natural para concorrer a deputado estadual pelo PT nas eleições de 2014, o vice-prefeito conta que ainda não tem definido se abraçará a candidatura. “Tenho me movimentado para verificar se existe espaço efetivo para isso”. Embora admita que esteja mantendo diálogo com lideranças partidárias e de organizações do município e da região, a participação no próximo pleito será resolvida apenas no decorre de 2013. “Muitas pessoas tem dito que é a minha vez e obviamente que se eu for candidato a deputado serei para cumprir os quatro anos porque acho que é preciso ter compromisso sério e profundo com a população”, alfineta.
Contabilizando o possível apoio local em caso de candidatura, Cecconello pondera que não é possível se eleger apenas com votos no município, mas percebe este como um estímulo importante. “Eu sei que quase 35 mil votos em Passo Fundo é um capital político que a gente acumula, reconhecendo que estes votos são fruto não só da minha figura, mas de uma aliança em que Bilibio era meu vice”, comentou.
Tarso, Dipp e Beto Albuquerque
Mesmo que decida permanecer fora da disputa direta, o petista destaca que vai participar da próxima eleição. “O certo é que vou estar muito engajado na campanha de 2014”. Além da busca pela reeleição do governador Tarso Genro e da presidente Dilma Rousseff, a candidatura de dois passo-fundeses na chapa majoritária estadual também poderia reforçar o envolvimento de Cecconello. O vice-prefeito anuncia a possível união dos três partidos que protagonizaram a gestão nos últimos quatro anos no município: PDT, PT e PSB, para o Governo do Estado. “Se depender de mim, nas discussões internas do meu partido, eu já tenho a minha chapa montada para 2014 aqui no Rio Grande do Sul: Tarso governador, Dipp vice-governador, Beto Albuquerque senador e acho que isso poderá acontecer”, revelou. A participação do atual prefeito Airton Dipp dependeria mais das avaliações do seu próprio partido, o PDT, que dos eventuais aliados.