Hosmany Ramos, mineiro e filho de fazendeiro, antes de concluir o curso de Medicina estudou literatura americana em Long Island. Fez Cirurgia Geral e, concursado, foi o primeiro colocado para o curso de mestrado em Cirurgia Plástica na PUC do Rio, sob o comando do mestre Ivo Pitanguy. Em 1974, foi o primeiro colocado em concurso nacional para Cirurgia Plástica do Exército Brasileiro. Em 1975 foi nomeado, por mérito, chefe do serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Nossa Senhora do Socorro, da Santa Casa do Rio e em 1976, com a fundação do primeiro banco de pele do país, recebeu o título de Cidadão Honorário do RJ. Bonito, simpático, intelectual, namorado da jornalista e midiática Marisa Raja Gabaglia e braço direito de Ivo Pitanguy enveredou irracionalmente ao crime de tráfico internacional de drogas, roubo de automóveis, seqüestros e homicídios. Sua prisão em 1981 surpreendeu a todos. Teve, ainda, publicadas as obras Os Lusíadas na Linguagem de Hoje, Camões-uma biografia, Marginalia, Pavilhão 9, entre outros, vejam só.
A prisão do Cirurgião esta semana, na acolhedora Sananduva sob a denúncia de vender gabaritos e fraudar vestibulares também surpreendeu a muitos. Dele somente sei o fato de eu ter dado continuidade ao tratamento iniciado magistralmente por ele a um paciente grande queimado no final do ano passado. Em 33 anos de vivência em emergências poucas vezes vi tamanha qualidade no primeiro atendimento a um paciente desta gravidade como o realizado por aquele profissional. Tenho os registros fotográficos das ações cirúrgicas do caso e mereceria case a ser seguido por todo o cirurgião que se preze. Assim, como Hosmany, o médico em questão, por razões ainda a serem analisadas, quedou-se ao paralelo de ganhar dinheiro fácil. É como refere um arguto colega médico: “são poucas as maneiras honestas de se enriquecer rapidamente”.
A Medicina tem suas ondas, segundo meu entendimento. A primeira delas foi a do médico faz-tudo, o generalista, que vicejou até a década de 60. A segunda onda iniciou-se com a formação dos especialistas, com evidências médicas e melhores resultados terapêuticos. A terceira veio com a tecnologia, a partir de 1980 e é irreversível. A quarta é a que está a caminho, aquela que fará o encontro da Medicina Ocidental com a Oriental, na qual o atendimento do paciente será holístico. A gente tem campo físico, mental e espiritual e todos têm que ser contemplados. Os médicos que estão se formando hoje, meninos e meninas ainda, filhos emprestados a nós e que acompanhamos por anos a fio, também receberam da gente, doses de humanidades, erros e acertos, talvez mais acertos do que erros.
Não pretendemos formar apenas médicos e médicas. Queremos formar cidadãos, se não tão virtuosos tecnicamente como os médicos citados acima, mas humanos porque é acima de tudo, a Medicina, ciência humana e que jamais poderá ser substituída por máquinas, independentemente de quantas ondas ainda virão. A reprovação de 54% dos médicos recém-formados no exame de final de curso em São Paulo leva a refletir sobre o quê, porquê, para quê e para quem estamos formando nossos filhos. O que estamos ensinando e o que a sociedade está necessitando. A quarta onda leva à primeira, com menos tecnologia e mais aproximação. Quanto aos “médicos” citados há um ensinamento chinês que pauta: a melhor maneira de fazer é ser. Porque ninguém consegue fazer o que não se é; um dia a casa cai e a gente acaba se encontrando com a natureza e dela à sociedade e daí teremos os nomes marcados pelo escárnio ou consagração. É o que ficará de nós, páginas sociais e científicas ou páginas policiais.
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