Não me arrependi de nada, faria tudo novamente

O prefeito Airton Dipp abriu o coração na entrevista que concedeu ao Jornal O Nacional antes de encerrar o mandato. ?EURoeQuero ser lembrado como um bom prefeito e de diálogo permanente com a comunidade?EUR?, disse ele.

Por
· 8 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Faltando dez dias para encerrar seu governo, Airton Lângaro Dipp (PDT) não revela muito sobre seu futuro, mas reforça novamente que não pretende mais se candidatar a cargos eletivos. Na avaliação do atual prefeito, ele acredita que os três mandatos como prefeito de Passo Fundo e os dois como deputado federal, trouxeram uma satisfação pessoal e deixaram um legado importante para a cidade.   
Dipp contou que estuda propostas para trabalhar na iniciativa privada, mas que planeja usar seu prestígio político-eleitoral, já que é um dos principais nomes do PDT no Estado, para eleger o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati como governador em  em 2018. Sobre o seu futuro, deixou claro que o certo é que a partir de janeiro a mudança será para Porto Alegre, onde sua esposa Cristina, trabalha como dentista, mas que continuará sempre presente na sua terra natal, pois manterá a sua residência aqui.

Leia abaixo a entrevista do ON com Dipp:

ON – Em seu balanço sobre as principais ações dos oito anos de gestão na semana passada, o Senhor pareceu muito a vontade e bem humorado. É um alívio encerrar estes oito anos cumprindo o papel de prefeito?
Airton Lângaro Dipp – Nós estamos encerrando esses oito anos, ou seja, dois mandatos consecutivos de quatro anos consecutivos, com a certeza de que cumprimos com toda a responsabilidade que é do prefeito municipal. A responsabilidade é forte porque normalmente o Presidente da República, ministros, governadores e secretários de estado, não são responsáveis de fato pela gestão fiscal dos seus entes federados. Há uma participação de todos estes gestores, mas compartilhada com segmentos administrativos. No caso do município, o responsável é o prefeito municipal. Em segundo lugar, a responsabilidade que se tem com a comunidade é muito extensa, poderia até dizer infinita em função das demandas sociais, de infraestrutura, das expectativas do cidadão, e muitas vezes de expectativas não coletivas e sim, individuais. É um trabalho que enobreceu, que me orgulhou, mas que foi desgastante. Mas eu encerro o governo com a consciência tranqüila de ter feito o possível e o impossível, de forma transparente, bastante compartilhada e com muito diálogo com a sociedade de forma geral. Independente dos resultados, que eu considero todos positivos, eu me sinto feliz. Para finalizar, quero ressaltar que existe uma máxima no setor público que o prefeito municipal sorri muito quando ganha as eleições e quando deixa o mandato. São os dois momentos alegres. Agora eu estou curtindo a saída.

ON – O senhor comentou também algumas ações de grande satisfação pessoal e que você considera que deixou como legado das suas duas administrações ao município, como o contrato com o BID, o contrato com a Corsan e investimentos para o desenvolvimento industrial. Tem outras questões, que pessoalmente foram de grande satisfação durante esses oito anos?
AD – Tem muitas ações que eu considero de êxito e eu destaco os investimentos que o poder público fez na área de geração de emprego e renda, o que resultou em excelentes indicadores, como o PIB que cresceu 21% entre 2009 e 2010. É graças a nossa iniciativa privada, mas também da ação decisiva do poder público municipal com recursos públicos, como doações de áreas, criação de novos distritos, asfalto, terraplenagem, canalizações pluviais e cloacais que deram esse resultado. Assim como a atração da Faculdade de Medicina, que muda o cenário do ensino superior com a inserção de uma universidade pública, favorecendo inclusive a UPF. São realizações que nos deixaram muito orgulhosos porque recebemos respostas positivas ou de um cidadão, de uma família ou de uma comunidade local. A diferença de trabalhar no setor público é que ao atender a um coletivo, o resultado pode ser ou críticas mais fortes ou elogios de forma mais intensa.



ON – Como o Senhor recebeu as críticas e qual foi o momento mais desgastante durante as duas gestões?
AD – Tivemos inúmeras situações de elogios, como também de críticas – o que é normal -, através da mídia, da imprensa. Mas elas fazem parte do processo de aprimoramento do serviço público. A situação mais desgastante foi o início das obras de saneamento básico, que se estendeu por muitos meses e que de fato tumultuou a vida do cidadão naquele momento, na sua rua, na sua quadra ou no seu deslocamento para o trabalho. Naquele momento, as críticas foram muito intensas, mas sempre foram compreendidas por mim com muito respeito porque nos estávamos convencidos que Passo Fundo não poderia mais perder a oportunidade de resolver de forma definitiva o principal vetor que pode melhorar a saúde pública da comunidade, que é recolher e tratar os dejetos como o esgoto cloacal. Quanto mais as críticas chegavam, mais aumentava a nossa compreensão da necessidade de uma gestão com a consciência de que as obras eram importantes, independentemente até de resultados eleitorais - que são na realidade uma expressão da satisfação ou insatisfação imediata do ser humano. Não me arrependi de nada, faria tudo novamente. As críticas que recebi durante a campanha foram muito mais políticas do que vinculadas de fato ao contrato de prestação de serviço público. Estas críticas já se repetiram também em outras campanhas. Mas terminada a eleição, independentemente de quem vai assumir o governo, o contrato continua e não vai ser modificado. A expectativa é que a satisfação das pessoas com o abastecimento de água e com o esgoto cloacal será enorme a médio prazo.

ON – O senhor sempre falou que seu governo tinha como prioridades a geração de emprego e renda, a educação e a saúde. Mas durante algum período, o senhor recebeu muitas críticas e Passo Fundo foi chamada de “Capital Nacional dos Buracos”. Este fato lhe magoou? O senhor percebe uma incompreensão da sociedade?
AD – Este fato ocorreu justamente devido as obras da Corsan, quando não era possível recuperar certas vias em função até a instalação completa dos 90 km de rede de esgoto cloacal e dos 37 km de recuperação de rede de abastecimento de água. Eu não digo magoado, mas foram críticas intensas. Eu tive a capacidade de compreender, mas que machuca, machuca. Ninguém gosta de ter referências negativas permanentes na mídia, na internet, sob uma situação que é indesejável. Mas, tanto que tudo melhorou. A cidade está normalizada, com investimentos em pavimentação e contratos em andamentos que contemplam as principais vias perfeitamente pavimentadas. Mas não há mágoa, porque se fosse magoar, eu não poderia ser prefeito porque para ser prefeito tem que estar ligado diretamente com a comunidade e diretamente responsabilizado legalmente de seus atos, diferentemente de outros agentes públicos que não compartilham qualquer ato seu.

ON – Como o Senhor quer ser lembrado?
AD – Eu gostaria de ser lembrado como um prefeito que fez um bom trabalho no município de Passo Fundo, que atacou algumas questões importantes que não foram jogadas para baixo do tapete, como é o caso do saneamento básico, industrialização e geração de emprego, como a busca da reorganização da prefeitura municipal para ter acesso a financiamentos que antecipam receitas para executar obras emergenciais – como é o caso do BID. Não fomos uma administração que mantém aquele padrão de arrecadar e fazer obras que imediatamente são vistas com bons olhos pela população. Enterramos tubos, investimos na captação de recursos – que não são tão prioritários – fizemos diferentemente de outros que passaram pela prefeitura. Não é discurso, é realidade. Resumindo, quero ser lembrado como um bom prefeito e de diálogo permanente com a comunidade.

ON – O que o Senhor considera que ficou para ser feito e que não foi possível ser realizado?
AD – Eu gostaria de ter realizado os projetos de maneira mais rápida e que infelizmente não aconteceram. Por exemplo, o financiamento o Banco Interamericano demorou demais para ser, num primeiro momento, ser aprovado pelo BID, num segundo momento, ser aprovado pelo Governo Federal, e num terceiro momento, ser liberado novamente pelo Banco. Entre o início das tratativas e a realização se passaram em torno de quatro anos. Foram muito difíceis estes projetos executivos, de convencimento e de organização administrativa. Portanto, gostaria de ter iniciado pelo menos dois anos antes a execução dos projetos. Neste momento, nós temos apenas um quarto dos projetos realizados, mas temos recursos previstos de R$ 30 milhões para os próximos dois anos. Isso me frustrou, da mesma maneira como o projeto PAC, que também foi muito demorado. O Governo Federal solicita projeto, detalhamento. O Tesouro Nacional examina a situação financeira da Prefeitura, solicita prazos muito longos de 60, 90 dias. Com isso, também só conseguimos realizar cerca de três quartos do projeto total, um projeto de R$ 24 milhões. 


ON – O que o Senhor acredita que deva ser o novo desafio para Passo Fundo e para a próxima gestão?
AD – O próximo gestor, o prefeito eleito Luciano Azevedo, com toda a sua nova equipe, deve realizar os projetos que apresentou durante a campanha eleitoral e que a população de Passo Fundo aprovou. Os projetos em andamento, creio que serão também desenvolvidos e intensificados, como a captação permanente de recursos e a continuidade dos investimentos do BID e PAC 2. Além disso, serão necessários novos investimentos que se fazem necessários permanentemente em termos de reorganização do trânsito da cidade, porque além do BID cumprir uma etapa, outras terão que ser realizadas por qualquer gestor que estará a frente nos próximos quatro, oito e doze anos. Isso é permanente, tanto é que criamos uma secretaria de segurança pública, que além da segurança do cidadão em relação a criminalidade, inclui também a segurança no trânsito, com técnicos inclusive concursados. Também destaco que serão necessários investimentos na estrutura da educação infantil, além das seis novas escolas que estão em construção ou em fase de licitação, e também a realização de concurso público para contratação de mais professores. Também é necessário um olhar específico para a saúde. É claro que, com a criatividade e com as metas que foram propostas pelo prefeito Luciano, Passo Fundo terá investimentos e ações importantes. O gestor foi eleito para isso, para ter o seu plano de governo ser implementado durante seu mandato.

ON – Em entrevista ao ON, o vice-prefeito Rene Cecconello, falou da chapa dele para as próximas eleições: governador Tarso Genro (PT), vice-governador Airton Dipp (PTD) e senador Beto Albuquerque (PSB). Qual a sua opinião sobre esta chapa?
AD – Esta chapa é do Cecconello. Em relação ao governador Tarso Genro, eu tenho uma admiração muito grande pelo seu trabalho e sua história política, assim como o deputado Beto Albuquerque. Mas, eu particularmente, já defini nos últimos anos que eu quero participar ativamente da vida política, mas não pretendo concorrer a cargo eletivo. Tenho também algumas prioridades na iniciativa privada que já estou tratando neste momento. É muito cedo ainda para se definir uma chapa para 2014. Ao longo de 2013, o PDT deve discutir a sua composição para as próximas eleições, mas todos sabem que o projeto do meu partido para 2018 é eleger o atual prefeito de Porto Alegre, José Fortunati ao governo do Estado. Dessa forma, as coligações e decisões que vão acontecer para 2014 terão como meta o fortalecimento da campanha do Fortunati.

ON – O Senhor já recebeu convites de trabalho então?
AD – Sim, já recebi convites na iniciativa privada e estou analisando. É para fora de Passo Fundo, mas estarei sempre circulando entre Passo Fundo e Porto Alegre, assim como fiz durante toda a minha vida. 

Gostou? Compartilhe