A vontade de ter filhos é inerente à grande maioria dos casais. E, também, para qualquer pessoa que um dia sonhou com o amor incondicional entre pai ou mãe e filho. Fazer planos, sonhar com a gravidez... tudo faz parte do ciclo da vida e da complementação das pessoas. Porém, nem sempre as coisas acontecem assim. Então, em vez de filhos gerados na barriga, os pais buscam filhos gerados pelo coração.
A expressão “filhos do coração” é a denominação “exata” encontrada para definir a adoção, conforme afirmam mães e pais adotivos. E tudo isso encontra respaldo em lindas e emocionantes histórias de pais e filhos que se encontraram depois do nascimento. Embora gerados por outros ventres, quando encontram pais adotivos, o amor é incondicional, como deve ser.
Uma dessas histórias é a de Silvana e Léo... Eles se conheceram quando Léo tinha cinco anos. O encontro foi o momento em que a vida de Silvana e seu marido Edson, se completou. Agora, de fato, uma família, os três encontraram o que toda família procura: amor, carinho, compreensão, companheirismo. Enfim, um lar de verdade.
Mas até conhecer Léo, foram dois anos na espera pela adoção. “Foram dois anos de gravidez, de gestação”, brinca. Quando decidiram adotar, ela e o marido fizeram a inscrição, através de um advogado, participaram do curso de dois módulos que habilita à adoção nacional e então começou a espera. “Dois anos e pouquinho se passaram quando veio a notícia para conhecermos o Léo. Fomos até a Semcas para conhecer ele e foi amor à primeira vista. Não tem como não se apaixonar”, conta Silvana.
A convivência, mesmo nos primeiros dias, foi maravilhosa, segundo Silvana. “Vimos a necessidade do amor, do carinho. E não tanto dele, mas nossa, desse amor, de ser chamado de pai e mãe”, ressalta. A ideia dela e do marido sempre foi a adoção tardia, pois procuravam por crianças a partir dos cinco anos de idade. “Se fosse recém-nascido seria muito bem-vindo também, mas a intenção era adoção tardia”.
Há um ano e sete meses Léo encontrou uma nova família e um novo nome, que foi trocado a pedido dele mesmo. Entretanto, continua tendo contato com os irmãos. Por opção dela e do marido, uma vez por mês Léo recebe em casa a visita dos quatro irmãos. “Esse vínculo é muito forte e não vou tirar isso dele. E essa convivência é bem bacana”, salienta.
Quanto à mãe biológica de Léo, Silvana afirma que ela serviu de instrumento para que pudesse ter seu filho. “Ele não nasceu de mim, mas é como se fosse. Às vezes ele me pergunta: ‘mãe, eu nasci de você, né?’. Eu respondo que ele é filho do coração e então ele me diz: ‘se eu pudesse escolher eu ia escolher pra nascer na tua barriga’”, conta.
Para a assistente social Vera de Oliveira, esse exemplo mostra o quanto é necessário para a criança este vínculo. “Não se vê nenhuma dificuldade, nenhum movimento contrário por parte do Léo. É ele que faz o movimento pelo vínculo do carinho”, completa. Essa, segundo a assistente social, é a maior prova de que em qualquer idade a criança pode, necessita e consegue (re)criar estes vínculos de família. “Eles podem e merecem ter a oportunidade de ter isso”, enfatiza Vera.
Vida nova
Entrar na vida de Silvana e Edson foi uma nova página na vida de Léo. Ou um novo livro que começou a ser escrito. Quando o casal conheceu o menino, então com cinco anos, ele tinha como registro o nome de Lautério, mas pediu para trocar de nome. No primeiro momento, Silvana pensou em colocar um nome antes do que ele trazia, mas o próprio menino quis algo novo, uma vida nova, a começar pelo nome, e pediu para ser chamado de Leonardo. “Nos primeiros encontros com os irmãos logo depois da troca do nome, ainda o chamavam e de Lautério e ele dizia: ‘eu não sou mais Lautério, agora eu sou Leonardo’”, lembra Silvana.
Adotchê
A ideia de criar um grupo virtual de pessoas interessadas em adotar ou simpatizantes da causa surgiu do próprio Léo, quando viu a divulgação de uma campanha nacional. Conforme conta Silvana: “quando ele viu a campanha na televisão ele perguntou por que eu não fazia um grupo assim para ajudar os irmãos dele”. Com isso, Silvana procurou a psicóloga Adriana Gobbi, do Juizado da Infância e o juiz Dalmir Franklin Júnior para expor a sugestão. A indicação foi que procurasse a Semcas e também a assistente social do Lar Emiliano Lopes, Vera e a Universidade de Passo Fundo. Assim foi criado o Adotchê, um grupo que troca informações, notícias e muitas histórias através do Facebook.
O grupo conta formalmente com o apoio do Juizado da Infância e Juventude, Secretaria Municipal de Cidadania e Assistência Social (Semcas), Universidade de Passo Fundo (UPF) e Lar Emiliano Lopes. Atualmente já são mais de 80 casais participando do grupo. A divulgação, segundo Vera, começou com a lista de casais inscritos para a adoção que por sua vez convidaram pessoas que acreditam na proposta. Hoje, então, participam as pessoas que já estão na lista para adoção, quem tem a intenção de entrar, quem pensa em adotar, mas ainda não se cadastrou e quem simpatiza com a ideia.
Além do grupo virtual, são promovidos encontros mensais dos participantes, quando são debatidos e esclarecidos temas de interesse das pessoas que esperam pela adoção. “No segundo encontro do grupo, por exemplo, conversamos com uma psicóloga, que colocou toda a parte emocional envolvida na adoção”, comenta Silvana.
As dúvidas, inseguranças e expectativas dos pais e mães são o mote do grupo, conforme a assistente social Vera. “Esse grupo reúne profissionais de várias áreas. Então, os próprios participantes podem dar a resposta a algumas questões. Temos, por exemplo, uma psiquiatra, que quando das dúvidas sobre questões genéticas, pode fazer os esclarecimentos. Da mesma forma, um dos advogados do grupo ajudou a estruturar o estatuto”, destaca.
No último encontro, realizado no dia 4 de dezembro, uma urna foi colocada para que os participantes pudessem colocar as sugestões de temas a serem trabalhados nas próximas reuniões a fim de esclarecer as dúvidas. “Assim, vamos procurar profissionais de cada uma das áreas para esclarecer sobre aquele assunto sugerido”, salienta Vera. A ideia foi direcionar os debates para aquilo que realmente é de interesse das pessoas que fazem parte do grupo.