OPINIÃO

Saudades do Ben e de Rubinato

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Dia desses estava assistindo num canal pago ao seriado Bonanza em que Ben Cartrwight é o velho pai que dirige uma fazenda chamada Ponderoza e seus três filhos. Ben é cheio de valores como justiça, bom senso e humanidade. Era assim também a mensagem passada pelos Waltons nas tardes de sábado na Globo. A gente levantava das poltronas querendo ser como eles, espargindo belezas e encantos por ser do bem. Progressivamente fomos inundados pelos chamados filmes de ação com Clint Eastwood, Charles Bronson (Desejo de Matar), Chuck Norris e começou a descer sangue, porrada, tiros e carros que explodem. Não sei com qual sensação passou-se ao levantar das poltronas. Parece que os filmes com “mensagens” ficaram para trás. Enquanto os americanos exibiam filmes com as virtudes da educação protestante anglo-saxã, a gente ia de Macunaíma e pornochanchadas. Agora, então,  exibimos o comércio de drogas, crimes hediondos, extorsões, os bastidores do poder, lavagem de dinheiro e putaria, muita putaria. Dizem que é a vida como ela é, segundo Nelson Rodrigues que é irmão de Mário Filho, que é o nome oficial do Estádio Maracanã. Trocamos as mensagens de um mundo que poderia ser pelo mundo que é. É difícil em uma novela ver uma família normal, de gente ordeira, pai incorruptível, filho que estuda e trabalha. Aliás, nas novelas as pessoas não trabalham, passam o tempo todo maquiadas ou na praia. Talvez isso tudo é o que se pode chamar de “evolução”, outros tempos, homem com homem, mulher com mulher. O que passa na TV é triste, mas é o retrato da sociedade? É o futebol como negócio, é o musical com playback, é o herói saradão ou a peituda no paredão do BBB. É a programação da “evolução”? Tenho saudades do Ben assim como tenho saudades de João Rubinato que faz trinta e um anos que morreu. Saudades de Rubinato, mas sem remorso porque fizemos - Oliveira Jr, Rádio Planalto e eu – uma justa homenagem, antes de sua partida em 1982, em que Oliveira Jr desfilou Trem das Onze, Saudosa Maloca, Iracema e Samba do Arnesto com o histórico de suas composições. É de Rubinato o que se segue cheio de magia: “esta é a minha maloca, manja? Mais esburacada que tamborim de escola de samba em quarta feira de cinza. Onde a gente enfia a mão no armário e encontra o céu. Onde o chuveiro é o buraco da goteira. Às veis a gente toma banho em bacia e se enxuga com a toalha do vento. E quando não tem água a gente se enxuga antes do banho. Maloca tão pequena que a gente dorme lá dentro  e tem que vim puxá o ronco aqui fora... não cabe os dois. Maloca tão miserável que só acende o fogo prá fazer churrasco quando pega fogo. Maloca onde na guerra contra os mosquito, os mosquito é que ganharam a guerra. Maloca onde a riqueza é uns pedaço de fome e um pacote de gemido. Maloca...onde eu cresci de teimoso que sô”(Adoniran Barbosa - que era o pseudônimo de João Rubinato). Saudades de Ben e Rubinato, saudades do tempo em que o mundo era de boas mensagens e não de seu pseudônimo chamado “evolução”.

PS – essa coluna vai para Mariano, Cassiano, Marcelo, Luciano, Tita e Téio Crusius em  agradecimento ao prestígio de suas leituras e por tudo o que a vida ensinou a todos nós.

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